Seguir os padrões é mesmo tão importante quanto parece?

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Os padrões de estéticos são responsáveis por delimitarem a ótica em comum das pessoas, transformando opiniões gerais – em muitos casos – em verdades absolutas. Dentro deste contexto, estes estão estampados em anúncios de revista, em programas de televisão e até mesmo em vídeos da internet. Apesar disso, o conceito de bonito é sazonal e demográfico – ele muda de geração em geração e de território para território.

Concurso de Miss
Em uma reportagem para o programa Fantástico, em julho de 2013, foi traçado um paralelo da beleza feminina brasileira através dos tempos. Em um comparativo feito pelo programa, foram estipulados alguns pontos de inversão do conceito de “mulherão” para o Brasil. Em 1963, por exemplo, a então Miss Universo, a gaúcha Ieda Maria Vargas de um metro e setenta de altura, era o

Ieda Maria Vargas foi Miss Universo em 1963

padrão de estética mais aceitável do mundo. Para concorrer ao concurso nesta época, era necessário que a candidata tivesse 60 de cintura, 90 de quadril e coubesse dentro do maiô disponibilizado pelo próprio evento. Hoje em dia, porém, o mundo das passarelas seguiu outros rumos e passou a contar com modelos cada vez mais altas, com medidas menores. Em um trecho da reportagem, a consultora de moda Gloria Kalil chegou a dizer que “a Ieda Maria Braga, nos dias de hoje, não passaria perto de uma passarela”.

Com o passar dos anos, diferentes belezas passaram a ser as mais apreciadas no país. Para o programa, nos anos 70 a mulher mais desejada no Brasil tinha um padrão estético mais próximo ao da atriz Sônia Braga, por exemplo. Com traços mais curvilíneos e coxas acentuadas, ela encantou o público em novelas como “Irmãos Coragem”.
Já nos anos oitenta, observou-se uma mudança acentuada no perfil: a mulher perfeita cresceu, e passou a ser refletida pelas imagens de Xuxa e de Luísa Brunet, esta que comentou sobre a mudança: “a mulher dos anos 80 tornou-se mais responsável, mais urbana, mais requintada”.
Nos anos noventa, houve uma volta às formas mais curvilíneas, porém com uma acentuação ainda mais forte: o surgimento do axé e do funk, trouxe para as mídias um conceito mais sexista para o padrão de beleza da época. Segundo Gloria Kalil, “hoje o Brasil possui mais de um padrão definido. Por ser um país de tamanho continental, por aqui há uma desconstrução que nos leva a chegar em três diferentes tipos de mulher: a miss, que tem o corpo curvado e que é, por sua vez, a mais “bonita de rosto”, a modelo, que é magra, bela, e alta, e o mulherão, que tem um corpão com curvas acentuadas e medidas mais abundantes”.

Barbie negra aponta para uma mudança de padrões estéticos em alguns anos

Modelo americana de 16 anos tem mais de 250 mil seguidores no Instagram

A jovem americana Lola Chuil, de apenas 16 anos, é a nova sensação das redes sociais e ganhou o apelido de ‘Barbie negra’, justamente por ter um rosto delicado e uma beleza exuberante.
Em suas publicações, ela aproveita para escrever mensagens de empoderamento para outras garotas negras que sofrem preconceito no ambiente escolar.
“Só queria dizer às minhas colegas negras da escola que não dêem bola para os garotos. Eu perdi muito tempo me preocupando sobre como meu cabelo e maquiagem estavam para agradá-los. Copiava outras meninas. E tudo o que eu fiz me causou apenas insatisfações sobre mim e me afastou de quem eu realmente sou. Foque nas suas notas e formação. Metade desses garotos odeiam eles mesmos. Então seja bonita, mantenha-se esperta e ame-se”, escreveu.
“Negra, sexy, bonita e destruidora de corações. Exatamente o que eu preciso e que eu gosto [de ser]”, disse em outra foto.

Aos olhos de um brasileiro, outros países possuem conceitos totalmente diferentes de beleza
Todo lugar tem o seu ideal de beleza, que pode variar drasticamente de país para país e até de região para região. Isso mostra mais uma vez que não existe um só padrão para o que é considerado belo.
É por isso que em outros locais, coisas que aparentemente nos soam bizarras, se transformam em símbolos de beleza e, até mesmo, de sexualidade.
No Japão, por exemplo, está na moda o ’yaeba’, o chamado dente torto. Acredita-se que, por causa dos dentes tortos, o rosto se torna incrivelmente terno. No Japão, por causa dessa tendência, meninos e meninas fazem fila nos consultórios odontológicos.

Mulheres da tribo Mursi utilizam discos especiais para aumentar perímetro dos lábios

Já na Mauritânia, as mulheres não têm a menor chance de atrair a atenção dos homens se seus abdomens não tiverem dobras de gordura. Para as meninas chegarem ao tamanho necessário numa certa idade, os pais as enviam para fazendas especiais para que ganhem peso. Elas podem consumir até 16 mil calorias por dia (quando o normal para a idade seriam 1.500 calorias).
Por causa dessa tradição, muitas meninas sofrem de problemas gástricos.
País do oriente médio, o Irã possui talvez, o mais estranho dos gostos: mesmo sem ter feito uma rinoplastia, andar com uma faixa cirúrgica pela rua, para que todos pensem que você passou por uma cirurgia plástica no nariz, é tendência e muitíssimo comum.
Vivendo em uma das regiões mais remotas da etiópia, a tribo Mursi carrega consigo uma tradição bastante comum entre as meninas: elas esticam os seus lábios com discos especiais.
Quanto maior o disco, maior o status social da menina e maior o dote que o noivo deve pagar antes do casamento.
Existem duas versões desta tradição incomum: os mursis acreditam que pela boca entram os espíritos malignos e os discos impedem que isso aconteça. De acordo com outra versão, os mursis começaram a fazer isso para não serem escravizados.
Enquanto isso, no Tadjiquistão, um dos padrões de beleza feminina são as sobrancelhas unidas. Se a natureza não dotar a menina de sobrancelhas espessas, ela pode fazer isso com lápis preto. Os moradores acreditam que a monocelha é sinal de originalidade e de um destino favorável.

Para estudo, mulher com corpo mais bonito do mundo não tem barriga negativa
Nada de ossos salientes nos ombros e quadris, e da tão polêmica barriga negativa. A dona do corpo mais perfeito do mundo está completamente fora dos padrões de beleza sequinhos que estamos acostumadas a ver, e que com o tempo passamos a admirar.

Mulher com corpo mais bonito do mundo chama atenção por não atender tanto os padrões de beleza contemporâneos

De acordo com um estudo desenvolvido pela Universidade do Texas, nos Estados Unidos, a mulher que conquistou esse “título” é a atriz britânica Kelly Brook, de 34 anos. O que mais chama atenção, é que a musa, se não pode ser considerada gordinha, também está longe de ser super magra.

Se você reparar bem na foto da bela, pode ver até mesmo uma leve barriguinha, e algumas dobrinhas. É que, para os cientistas, o que importa mesmo são as medidas perfeitas de Kelly.
Segundo o estudo, ela tem o corpo mais perfeito do mundo porque tem todas suas medidas – considerando busto, cintura e quadril – perfeitamente proporcionais: com um 1,68 de altura, suas medidas são 90-60-86.
Apesar de estar completamente fora do que é considerado o padrão de beleza atual, ditado pela magreza, é inegável que as curvas de Kelly Brook são realmente muito bonitas.
No estilo “gostosona”, a atriz chama atenção especialmente com roupas de banho.

Campanhas em redes sociais exaltam padrões de beleza alternativos para mulheres
Compartilhar fotos de estrias no Instagram e exibir a barriga sem medo no Facebook. A diversidade dos corpos femininos nunca foi tão celebrada, impulsionada por grandes mobilizações nas redes sociais. Enquanto isso, memes e ações desconstroem princesas de contos de fadas.
Mulheres do mundo inteiro se articulam para contestar padrões caricatos de beleza e viver, na era digital, uma nova libertação.
Em 2014, a escritora britânica Robin Rice num projeto difusor de imagens que simulavam peças publicitárias marcadas por um tom provocativo e irônico.
“Então, se alisar o meu cabelo, vou me dar bem na vida?”, dizia uma delas, acompanhada pela foto de uma criança com cabelo crespo.
“O único relacionamento que devo ter é com a balança?”, questionou outra, com a foto de uma mulher gorda abraçada ao aparelho.
Um número crescente de ações faz barulho na internet. Em junho do mesmo ano do Hemisfério Norte, o Instagram foi inundado por fotografias de garotas plus size em roupas de banho que usavam a etiqueta #fatkini, junção das palavras gorda e biquíni.
A mesma rede social abriga o perfil “@loveyourlines” (ame suas estrias), em que duas mães começaram a reunir fotos de corpos normais. “Somos duas mães celebrando as mulheres reais”, escreveram.

Abaixo a depilação obrigatória
Em terras brasileiras, um coletivo de artistas mira a ditadura da depilação.
Eles criaram o site “Pelos pelos”, em que compartilham ensaios fotográficos que exaltam a beleza de corpos ao natural, justamente por considerar esse um dos maiores tabus da beleza feminina aqui.
O foco desta, é demonstrar que não se deve considerar masculina ou desleixada uma mulher pelo simples fato de esta não se depilar. Isso, aliás, não significa não cuidar da aparência
No mesmo 2014, foi criado também o “#desafiodagorda”, projeto que convocava internautas a representarem artisticamente o corpo da mulher gorda.
Uma pesquisa feita pelo Data Popular e o Instituto Patrícia Galvão mostrou que 56% dos entrevistados, homens e mulheres, consideram que as propagandas exibidas na TV não mostram as brasileiras reais, e 60% consideram que as mulheres ficam frustradas quando não se veem retratadas. Mais: 51% querem ver mais negras, e 64% pedem mais mulheres das classes populares nas propagandas.