Esperança: quando a solidariedade e a empatia falam mais alto

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Mesmo depois de um estressante dia no combate da pandemia dentro do hospital Tacchini, a enfermeira Deise Busatto ainda dá exemplo de solidariedade e em três dias depois de ler a reportagem da Gazeta sobre a situação dos pais dos gêmeos recém nascidos e mobilizado a sua rede de conhecidos fez a entrega das doações, justamente no quarta-feira em que a mãe das crianças teve alta do hospital.

A solidariedade e a chance de aprender com a história do outro têm feito parte da vida de quem se dispôs a fazer trabalhos voluntários durante a pandemia do novo coronavírus, ou mesmo antes dela. Enquanto alguns se organizam sozinhos para iniciar projetos de doação, outros fortaleceram a conexão que já tinham com a atividade e passaram a contribuir ainda mais. Pode até ser estranho dizer, mas é justamente em meio ao caos que mais vemos florescer a esperança.

O anjo
Esse é o caso de Deise Gabriela Busatto, 31 anos, enfermeira da linha de frente no enfrentamento à pandemia da Covid-19. Trabalha no turno da noite no Hospital Tacchini há nove anos. Apesar de toda a exaustão que o coronavírus tem levado aos profissionais da saúde, ela não desanimou, arranjou forças e faz a diferença quando se trata de olhar ao próximo.

Na semana passada o Jornal Gazeta publicou a história de Jackson Douglas Alves, de 29 anos, que saiu do emprego para cuidar dos quatro filhos, sendo dois deles bebês de apenas dois meses, pois a esposa, Bruna, estava internada no hospital por causa da Covid-19. Deise – que conhece e atendeu Bruna no hospital – sequer imaginava da situação daquela família. A partir da reportagem do jornal, a enfermeira, depois de mais um plantão intenso, sequer conseguiu terminar seu almoço e logo partiu para ação.

“Eu não sabia da situação dela. Ela não havia falado nada para nós. Quando vi a reportagem primeira coisa que fiz foi movimentar a rede de pessoas que sempre me ajudaram, conhecidos do comércio, amigos, médicos, vizinhos, grupos de whatsapp. No mesmo dia saí para arrecadar doações e enchendo o porta malas do carro de doações para as crianças e a família”, relata.

Ajudar quem realmente precisa
Se os profissionais da saúde são nossos heróis de jaleco branco, Deise tem por baixo as asas de um anjo. A enfermeira sempre foi voluntária, já ajudava nas ações de voluntariado do Grupo de Humanização do hospital, entre outras ações solidárias de forma particular. Ela contou à nossa reportagem que foi se certificar das informações para que as doações fossem de fato para quem precisa. “Eu liguei pro Jackson, falei com ele e me relatou toda história”. Então decidida foi em busca das doações.

A enfermeira, que também é mãe de um menino de 5 anos, conseguiu arrecadar 14 latas leite especial ( já que as crianças não vão poder ser amamentadas pela mãe, por causa da contaminação, várias caixas com roupas mantas e cobertores, alimentos, lenços umedecidos, pomadas preventivas de assaduras, mais de mil fraldas, sabonetes, shampoo, condicionador, cabides, barbeiros, bicos de mamadeiras, mantas, talco, pantufas, meias, cotonetes, toucas. “E o mais importante, muito amor envolvido”, contou emocionada quando foi fazer a entrega no feriado de quarta-feira, 21.

Empatia
“O ajudar ao próximo me torna mais feliz, me conecta ao meu interior e minhas raízes, recarregando minhas energias. De que vale nossas conquistas por mais simples que sejam e não acrescentar nada na vida do outro”, avalia Deise. A enfermeira lembra ainda das pessoas que fazem parte dessa rede voluntária. “Ressalto a importância do cultivar amizades, sem meus amigos e conhecidos nada seria possível. Ter pessoas com quem pode-se contar nos momentos de união para transformar de grão em grão o montante do esforço”, lembra.

Deise destaca ainda o apoio do marido, o advogado Alan de Moura Vieira, que segundo ela tem a mesma prática de ajudar os outros. E sem ele saber, no dia da entrega, já ofereceu os serviços de advogado para conseguir a medicação de Bruna, que é bastante cara.

“Cada ser humano tem seus valores e defeitos que formam a essência de cada um”, explica a enfermeira. Ela contou que corriqueiramente realiza ações em prol de pessoas que necessitam de ajuda, mas fez questão de lembrar que nunca procurou holofotes por isso. “Topei fazer essa entrevista, quando mfui procurada pela Gazeta – para encorajar mais pessoas. Quanto mais gente fazendo o trabalho voluntário um mundo melhor tornaremos”, lembra.

Faça o bem que ele retorna para você
“Foi desta forma que Deus proporcionou Bruna e toda família na minha trajetória. Neste mundo de hoje temos de ser corajosos tirar um tempo, energia e amor para com nosso próximo. Lembre-se de que a mão que oferece flores fica com o perfume”, finaliza o nosso anjo de jaleco branco.

A entrega
A entrega das doações arrecadadas foi programada pela enfermeira para a tarde do feriado, já que sabia que a mãe das crianças teria alta do hospital próximo ao meio dia e se preocupou que ela chegasse em casa e tivesse o reencontro com a família, depois de 19 dias de internação por Covid.

Bruna foi recebida pelo marido Jackson e pelos quatro filhos, além da cunhada mãe e sogra. Quando as doações chegaram à casa, a enfermeira fez questão de presentear a mãe das crianças com uma blusa especialmente escolhida e uma cesta com presentes pessoais, mostrando a sensibilidade de acolher a convalescente com muito carinho.

O apartamento de dois quartos, no condomínio Don Inácio, que refletia o capricho da família do pintor, ficou pequeno para acolher tantas doações. As caixas com roupinhas, sapatinhos, mantas e produtos de higiene, além das latas de leite especial foram recebidas individualmente com muita emoção pela família.

O pai das crianças, fez questão de ressaltar as outras doações recebidas devido à reportagem, e as doações em dinheiro ( pix), que vão ajudar enormemente com as contas da família neste período em que ele teve que se afastar do emprego de pintor. Mas, Jackson fez um agradecimento emocionado em especial à enfermeira, sobre a dedicação dela à esposa enquanto estava internada, e principalmente, por esta demonstração de amor pelo próximo, que em poucos dias, usando o tempo em que deveria estar descansando e com sua família, estava pedindo e coletando as doações.

Jackson declarou que nestes menos de 20 dias em que esteve sozinho cuidando das 4 crianças, se descobriu um paizão. Além de cuidar muito bem dos recém-nascidos, dando banho, fazendo mamadeiras e lavando as roupas, ele ainda cuidava dos dois maiores. Jackson garantiu que agora que está acostumado, vai continuar no mesmo ritmo ajudando a esposa, que ainda está convalescendo.

” Como nós tivemos a sorte de ter estas pessoas nos ajudando e principalmente este anjo chamado Deise, que esta respotagem sirva para estimular outras pessoas a fazerem o bem para outros que necessitem”, concluiu.

Deise Gabriela Busatto, 31 anos, enfermeira da linha de frente no enfrentamento à pandemia da Covid-19. Foto cedida de suas redes sociais, de antes da pandemia