A poda é uma das técnicas mais importantes, que ajuda a planta a produzir maior quantidade de frutos com melhor qualidade
A viticultura brasileira é destinada principalmente para a produção de vinhos. No Rio Grande do Sul, maior produtor do país, a safra de 2016 atingiu 416 mil toneladas de uva, das quais 90% têm essa finalidade, de acordo com dados do IBGE.
Segundo projeção do Ministério da Agricultura, a expectativa é que a produção total de 955 mil toneladas da fruta cresça 6,7% até 2026, principalmente voltada para a uva industrial, usada na fabricação de sucos e vinhos. Para que isso aconteça, os produtores devem investir em variedades mais produtivas, que permitem duas safras ao ano e também no cultivo de uvas sem sementes, o que diminui os custos de produção.
O aumento de produção de uvas depende da adoção de boas técnicas de cultivo, como realizar a poda da forma mais adequada.
“É uma prática que exige do podador um conhecimento da estrutura da planta e, principalmente, que se tenha um objetivo claro ao podar, quanto eu quero que a planta produza e quanto a planta pode produzir”, diz o Engenheiro Agrônomo da Embrapa Uva e Vinho, Rodrigo Monteiro.
A poda deve ser realizada no mínimo uma vez ao ano, para auxiliar no aumento da produtividade, de acordo com o Dr. Takanoli Tokunaga, especialista em podas de frutíferas do Núcleo de Produção de Mudas da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria da Agricultura de São Paulo (CATI). “Durante o crescimento da planta, diversos ramos novos surgem e ela fica com muitos galhos, assim não produz bons frutos. Podar faz produzir frutos melhores e areja a videira, o que evita doenças”, afirma o pesquisador.
Confira dicas para realizar uma poda adequada e produzir frutos melhores:
1 – Quando fazer? A melhor época para podar é antes do nascimento de novas folhas, o que geralmente coincide com o final do inverno. “Deve ser feita depois que cai a folha, antes da brotação”, afirma Tokunaga. É preciso esperar o momento certo para realizar a poda. Se o procedimento for realizado antes da fase de queda natural das folhas, nesse caso, a poda vai atrapalhar a planta na absorção de nutrientes, o que afeta no desenvolvimento das frutas. Em locais de clima mais quente, como o Norte do Paraná, São Paulo e Nordeste, o sistema de poda é diferente. “Como não há período de dormência natural, é possível programá-la. Nesses casos, são feitas duas ou mais podas por ano, dependendo da possibilidade de colheita”, explica o agrônomo Monteiro.
2 – Tipos de poda Existem dois tipos de poda, a poda madura e a poda verde. A poda madura é o corte dos ramos que nasceram no ano anterior e deve ser feita quando esses ramos estiverem secos. “Ela é feita antes da brotação pelo encurtamento de ramos, para gerar novos galhos vigorosos e frutificar bem”, diz Tokunaga. Já a poda verde significa a retirada de brotos que crescem durante o ano, para evitar que a árvore desperdice nutrientes na manutenção de ramos novos. Com isso, os nutrientes que seriam usados para manter novos ramos podem ser direcionados para a formação dos frutos. Além dessas podas, voltadas para a frutificação, deve ser feita a poda de formação no início do desenvolvimento da videira. “A poda de formação é feita nos três primeiros anos da planta e tem como objetivo dar forma adequada a ela, conforme o sistema de condução utilizado”, conta Monteiro.
3 – O que podar? Depois de definir a melhor forma de tratar suas videiras, é hora de começar a cortar, mas fazer o corte no local errado pode causar sérios danos para a árvore e impossibilitar a frutificação. Primeiro, é necessário identificar quais ramos precisam ser podados e depois fazer a incisão. “Tem que conhecer o ramo que se formou no último ano e perdeu toda a folha”, conta o Tokunaga, explicando qual parte da planta deve ser retirada. Um dos grandes perigos é selecionar ramos errados, o que pode causar prejuízos. “O objetivo principal da poda é equilibrar o crescimento vegetativo e produção de uva. Caso ela não seja realizada ou for mal feita, a planta perderá a estrutura adequada para a produção”, afirma Monteiro.
4 – Onde fazer o corte? As gemas, também chamadas de olhos, que fazem a planta crescer. Elas se localizam nos nós dos ramos, que são protuberâncias onde se formam as folhas e brotos. “O corte deve ser feito próximo às gemas, não deixando mais que um centímetro depois delas”, explica o agrônomo da Embrapa.
5 – A poda certa pra cada videira A poda varia conforme o tipo de videira e o sistema de produção utilizado. “Há variedades que produzem nas gemas iniciais dos ramos, enquanto outras produzem cachos somente nas gemas mais distantes. Esse conhecimento é importante para o produtor e pode ser observado nos anos iniciais do vinhedo e conversando com outros produtores que cultivam a mesma variedade”, diz Monteiro.
6 – Tipos de poda Com conhecimento sobre a cultivar e o sistema de condução, o podador precisa escolher entre fazer a poda curta, a poda longa ou a poda mista, que é a mais utilizada. A poda curta significa eliminar as varas da videira e deixar somente o esporão, que são estruturas de uma ou duas gemas. Já na poda longa, as varas é que são mantidas na videira. Na poda mista são mantidos os dois, porque os esporões vão originar novos ramos e varas na safra seguinte e as varas servem para frutificação.
7 – Materiais necessários para a poda Para o procedimento é necessário somente uma tesoura de poda bem afiada. No entanto, a tesoura precisa ser esterilizada sempre que for mudar de uma árvore para outra, porque evita a contaminação das videiras com doenças da madeira ou fungos que causam podridão.
8 – Cuidados após a poda A poda é uma técnica simples e que não exige muitos cuidados, mas podem ser tomadas medidas preventivas para evitar a contaminação das plantas, já que elas ficarão com os galhos expostos após o procedimento. “Se o corte for muito grande, é necessário pincelar com tinta de látex”, afirma Tokunaga. A Embrapa Uva e Vinho orienta em cartilha que se deve proteger as plantas se a poda for realizada em épocas frias, pois as baixas temperaturas tornam a cicatrização mais lenta, o que deixa a videira exposta aos fungos. A tinta pode, inclusive, ser misturada com fungicida e aplicada diretamente no corte.