“Empresa é a culpada pela morte de trabalhador”, diz presidente do Sitracom

2015-04-10_190211
O trabalho do Sitracon consiste em monitorar locais das obras e proporcionar amparo ao trabalhador. No ano passado o sindicato fez mais de 300 notificações

Ademir Mendes Viana, 40 anos morreu ao cair de uma altura de cerca de cinco metros

Na última segunda-feira, 27, Ademir Mendes Viana, 40 anos, trabalhador da construção civil, morreu após cair de uma altura de cinco metros. O acidente aconteceu às 7h. O caso alertou profissionais da área sobre os cuidados necessários que o trabalhador deve ter. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Bento Gonçalves (Sitracom) Itagiba Soares Lopes, classifica o episódio como sendo uma irresponsabilidade da empresa contratante da obra.
“Foi negligência da própria empresa. Nós fizemos cinco notificações, duas através do Ministério do Trabalho, e outras três vezes o prórpio sindicato esteve na obra, inclusive no dia 23 da semana passada tinha um relatório mostrando que havia coisas erradas. Era necessário ter proteção no fosso do elevador”, pontua.
O trabalho do Sitracon consiste em monitorar locais das obras e proporcionar amparo ao trabalhador. No ano passado o sindicato fez mais de 300 notificações referentes a melhorias na segurança do trabalho. Na maioria das vezes as empresas acatam às notificações, mas segundo Lopes têm empresas que não respeitam as indicações.
“Nos documentos está escrito que pedimos para a empresa fazer a proteção, mas só querem produzir, deixando o trabalhador correndo riscos toda hora. A obra foi interditada, e para a empresa o custo será muito grande”, afirma. Ainda segundo o presidente, há cerca de três anos não acontecia um acidente grave na área da construção civil.
O técnico da segurança de trabalho do Sitracon, Vicente Kinalski, confirma que o sindicato trabalha orientando o trabalhador. “A preocupação é bem grande com a segurança. Muitas vezes as empresas não fazem o que é solicitado, e então denunciamos para o Ministério do Trabalho, que tem o poder maior para intervir”, explica.
Segundo Kinalski são realizadas em torno de 70 visitas ao mês, e em 2016 foram realizadas mais de 600 visitas. O trabalho preventivo diminui em até 63% dos acidentes nos canteiros de obras. O caso da última segunda-feira é reforçado pelo técnico da segurança de trabalho, como consequência de uma irresponsabilidade da empresa. “Segurança não é custo, é investimento. Essa obra vai ficar no mínimo seis meses parada e os trabalhadores continuarão ganhando (recebendo o salário)”, enfatiza.

BSB Construções diz que orienta funcionários sobre procedimentos de segurança
O Mestre de Obras da BSB Construções e a advogada da empresa Otaviano Zandonai E Cia Lta (responsável pela obra), se manifestaram sobre o ocorrido. Na defesa da advogada, se trata de um acidente de trabalho e a responsabilidade será apurada por meio de sindicância. “É um acidente de trabalho. Ele estava com capacete e cinto de segurança numa altura de 3 metros. O acidente aconteceu quando foi se desconectar de um ponto para outro. A Polícia Civil está com o cinto e capacete do operário. A obra é de responsabilidade do Otaviano Zandonai e Cia Ltda e a BSB é uma prestadora de serviço, ela faz uma parte da obra”, salienta.
O mestre de obras da empresa garante que está tomando as providências e auxiliando a família no que for preciso. “Nos responsabilizamos por toda questão envolvendo o funeral, colocando enfermeiros contratados pela empresa para ficarem no velório. Estamos fazendo tudo que é possível pela família. Vamos ver o que vai acontecer no futuro”, reforça.
Ainda segundo o mestre de obras, a empresa sempre se preocupou com o bem estar dos funcionários, orientando sobre os procedimentos de segurança. “Agora as causas serão apuradas. No primeiro momento temos que fazer o que o Ministério do Trabalho pedir, para então regularizarmos a obra, mas antes de tudo a preocupação é com a família”, garante.

Mais de 6600 acidentes em seis anos
A secretária de Vigilancia em saúde do Trabalhador, Neice Faria, revela números assustadores sobre acidentes com operários. Segundo ela, de 2009 a 2014 foram mais de 6600 acidentes com empregados da construção civil, moveleiro e metalmecânica. A indústria metalmecânica lidera o quadro de acidentes, com 2974 casos registrados, seguida da indústria moveleira, com 2346 casos, e construção civil, somando 1319 casos. Segundo Neice, o acidente da última segunda-feira deve servir como alerta.
“A Construção Civil tem riscos em todos os níveis, desde a indústria formal, até mesmo nas informais As regras de segurança na construção civil são estabelecidas, mas infelizmente não são cumpridas”, alerta.

Ministério do trabalho interdita obra
A obra foi interditada pelo Ministério do Trabalho. Fiscais do órgão identificaram a falta de vários itens de segurança para os funcionários que atuavam no empreendimento. A fiscalização foi feita logo após a morte de Viana.
De acordo com o gerente regional do Ministério do Trabalho, Vanius Corte, a interdição não ocorreu apenas devido à morte do funcionário. Ele explica que foram observados pelos fiscais a falta de itens de segurança no local da obra. Corte revela que os fiscais da obra identificaram que, no momento do acidente, não havia cinto de segurança para o funcionário. Além disso, Viana se equilibrava apenas em um chapa, de onde se desequilibrou e caiu no fosso do elevador, em uma altura de cinco metros.
O gerente regional explica que foram identificados diferentes problemas no local, por isso a obra foi totalmente embargada. A liberação dos trabalhos só ocorrerá após a empresa atender a todos os itens citados pelo Ministério do Trabalho para garantir a segurança dos funcionários. Até lá, nada pode ser feito no local. Corte adiantou que a gravidade da situação fará com que o Ministério Público do Trabalho entre com um pedido de indenização coletiva pela imprudência cometida pela empresa responsável pela obra.
A empresa Octaviano Zandonai & Cia Ltda (Caitá Supermercados), emitiu uma nota sobre a morte de Ademir Mendes Viana. No documento, a empresa lamenta o que ocorreu e afirma que todas as medidas de segurança foram tomadas pela construtora.

A nota da Octaviano
“Viemos a público lamentar o acidente ocorrido na data de 27/03/2017, que vitimou Ademir Mendes Viana, operário da BSB Construções, contratada para desenvolver o projeto da obra realizada na Avenida Osvaldo Aranha, n° 667. Esclarecemos que, em conjunto com a BSB Construções, estamos investigando as possíveis causas do acidente, e desde os primeiros momentos a família recebe toda a assistência necessária. Destacamos ainda que a obra é totalmente regular seguindo rigorosamente todas as normas e padrões de segurança. Lamentamos profundamente o ocorrido e neste momento de dor, solidarizamo-nos com a família do operário vitimado”.