Embrapa reinicia alerta para monitorar insetos-praga na Serra Gaúcha

2015-04-10_190211
A estratégia principal é apoiar o setor de produção do pêssego, por monitoramento e divulgação de boletins semanais, com orientação para a cultura presente na região que é para consumo In Natura

O alvo de atenção da nova temporada do Sistema de Alerta é a Mosca Ceratitis

 

O Sistema de Alerta para Monitoramento e Controle da Mosca-das-frutas em pomares de pessegueiros reiniciou na Serra Gaúcha e em Pelotas. Este é o oitavo ano de monitoramento e o segundo na região. Tem como estratégia principal apoiar o setor de produção do pêssego, por monitoramento e divulgação de boletins semanais, com orientação para a cultura que apresenta excelentes resultados atualmente. A quantidade colhida em Bento Gonçalves chega a 2,2 milhões de pêssegos, apenas para consumo in natura.
No fim do mês de agosto foi feita a primeira reunião de monitoramento com a presença das instituições parceiras e a divulgação dos boletins informativos da região de Pelotas e da Serra Gaúcha. Esta é uma iniciativa da Embrapa Clima Temperado de Pelotas, e da Embrapa Uva e Vinho de Bento Gonçalves, em conjunto com a Universidade Federal de Pelotas, Sindicato das Indústrias de Doces e Conservas Alimentícias de Pelotas, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pelotas, Secretarias Municipais de Agricultura dos municípios e com o apoio do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Campus de Bento Gonçalves.
As estações de monitoramento do comportamento da mosca-das-frutas continuam em quatro áreas, onde em cada estação foram instaladas dez armadilhas para a Anastrepha fraterculus (Mosca sul americana), cinco para Grafolita (a Mariposa oriental) e outras cinco para a Ceratitis Capitata (Mosca do mediterrâneo).
Os pomares monitorados pelo Sistema de Alerta contam com armadilhas e uso de proteína hidrolisada, tipo de armadilha que já estava em uso. Segundo informações, este ano será disponibilizada a Ceratrap para a captura da Anastrepha, pois tem maior eficiência em relação às demais formulações com acesso no mercado. Para a captura de outras espécies de insetos-pragas são utilizadas armadilhas com proteína sintética, que imitam o feromônio natural.
Em entrevista com o Pesquisador Entomologista da Embrapa Uva e Vinho, Marcos Botton informou que o monitoramento é feito semanalmente. “Nas segundas-feiras o pessoal da Emater vai a campo, em pomares para buscar informações. Nas terças-feiras os dados são processados. O sistema de alerta semanal é divulgado nas quartas-feiras para os produtores. É um trabalho contínuo e em equipe.” O Sitema de Monitoramento pode ser acompanhado via site, mas Botton ressalta que os produtores podem se cadastrar via WhatsApp para receber os dados semanais, ou pelo próprio site da Embrapa Uva e Vinho, onde também é feito um cadastro.
Na safra anterior durante o período de pós-colheita, a Grafolita teve presença marcada, por isso os cuidados de prevenção são recomendados não somente em colheitas, mas sim em todos os períodos de desenvolvimento da cultura. A espécie é mais localizada, depende de cada pomar. É importante ter um monitoramento próprio, não depender apenas do sistema de alerta. O produtor deve ter suas próprias informações. Quando algo está acontecendo, o Sitema de Alerta inicia com os boletins para chamar atenção aos produtores. Esse ano ainda não houve incidência de Grafolita nos pomares.
“O foco este ano é na mosca das frutas, como a mosca das frutas não respeita muito os vizinhos, isto é, se tiver um pomar doméstico abandonado e ou que os frutos não são usados, o local vira foco para a infestação de pomares comerciais. Por isso o sistema de alerta ajuda o produtor a rever a situação regionalmente.” incluiu o pesquisador Botton.
A incidência da mosca nessa época está baixa, elas atacam normalmente próximo a colheita. Ainda é o início do ciclo, então nessa época algumas doenças podem complicar a produção, como a antracnose e a crespeira, que tem ocorrido em alguns pomares também. Já na época de flores inicia o período de cuidados com a podridão parda, que é uma das principais doenças.
As moscas-das-frutas produzem danos de grande proporção às culturas de frutas. Os frutos atacados pelas moscas apresentam sintomas bem característicos: em volta do local onde foi feita a postura aparece um halo com aproximadamente 2 cm de diâmetro e coloração escura. Quando as larvas nascem, este halo vai ficando com cor acastanhada devido ao apodrecimento da casca. É exatamente aí, sobre esses tecidos destruídos, que se desenvolvem certos fungos. A praga ataca preferencialmente as frutas expostas ao sol. Por apresentar um ovipositor mais curto, a espécie C. capitata ataca apenas os frutos que se encontram em estágio de maturação mais avançado (maduros).
A região de Pelotas produz para conservas, e na Serra Gaúcha a produção é para consumo In Natura. Por isso a importância no manejo de pragas. Os pêssegos em conserva são levados para indústrias, e mesmo que uma parte esteja lesionada, às vezes é possível retirá-la e reaproveitar a fruta. Mas os pêssegos de mesa acabam apodrecendo. O cuidado com produtos in natura deve ser maior do que para processamento. Muitos produtores armazenam o pêssego, e se tem algum ataque de praga ou doença, acaba aumentando durante o período em que está armazenado.
É importante que os proprietários reforcem os cuidados, principalmente com pomares abandonados na região, que deveriam ser eliminados pois se tornam foco de novos ataques e doenças. “Outro ponto que procuramos ressaltar é o cuidado com descarte de frutas maduras, que deve ser feito em local adequado. Sugerimos que façam um local e que tenha cobertura de no mínimo 10cm de terra, para que larvas ou moscas não possam sair. Alguns produtores fazem aplicações até mesmo no chão para que não voltem a aparecer após o descarte ou compostagem”, salientou.
Em cada município da Serra Gaúcha acontecerá o monitoramento de até cinco propriedades com intuito de obter informações da flutuação populacional da praga. Além destas propriedades, foram incluídos dois pontos de controle em Bento Gonçalves, um localizado na Embrapa Uva e Vinho e outro no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). A grande novidade para a Serra Gaúcha é a inclusão do município de Veranópolis que passará a ter propriedades acompanhadas também.

Como funciona o sistema?
O Sistema de Alerta é realizado durante os primeiros três de dias de todas as semanas, até o final da safra do pêssego, que acontece em meados de janeiro. As informações de divulgação sobre a população desse inseto e as estratégias de controle da cultura são emitidas pela elaboração de boletins, que acontecem a partir de reuniões onde esses casos são discutidos. Em cada unidade de observação existem estações meteorológicas que acompanham dados climáticos como temperatura e chuva, pois a incidência das moscas pode ter relação com a variação climática. Os boletins são produzidos e contam com recomendações sobre monitoramento e ações de controle. Para a região de Pelotas os boletins são produzidos até o período mais tardio do pêssego, próximo às vésperas do Natal. Para a Serra Gaúcha os informativos seguem até o mês de fevereiro, quando a safra tardia das cultivares chega ao fim.
Os danos causados pelas moscas-das-frutas se devem principalmente ao fato de elas utilizarem os frutos para o seu desenvolvimento. As fêmeas realizam a postura nos frutos e as larvas ao eclodirem se alimentam da polpa, inviabilizando os frutos para consumo in natura e para a industrialização. Além desse dano, ao realizar a oviposição, a inserção do ovipositor nos frutos provoca o rompimento da casca, possibilitando a entrada de microrganismos fitopatogênicos. Os pêssegos produzidos na serra são basicamente para consumo in natura, e excedentes de produção vão para conserva. A maioria da produção de frutas é de polpa branca. As variedades que temos na Serra Gaúcha são: Chimarrita, PS 10711, PS 25399, BRS Kampai, Rubimel, BRS Fascínio, Della Nona, Eragil, Barbosa, Chiripa, Charme, BR 01, BR03, Premier, Peach, entre outras.

O processo da mosca
Ovo: A fêmea encontra o local apropriado para introduzir o ovipositor através da casca de mesocarpo. Após, faz movimentos para alargar este orifício e fazer uma câmara, que é onde ela coloca seus ovos (1 a 10 ovos ), dependendo do fruto. O ovo é alongado, tem 1 mm de comprimento e assemelha-se a uma pequena banana de coloração branca. São colocados verticalmente na câmara. O período de incubação é de 2 a 6 dias.
Larva: Ao eclodir a larva, ela entra no endocarpo, ou polpa e faz galerias em direção ao centro. Esta larva é completamente desenvolvida e mede cerca de 8 mm de comprimento, com uma coloração branco-amarelada, afilada na parte anterior, truncada e arredondada na posterior. Quando retiradas do seu ambiente, dobram o corpo e saltam.
Pupa: Quando acaba o período larvar, que varia de 9 a 13 di8as, elas caem em solo e aprofundam-se de 1 a 10 cm, transformando-se em pupa. Tem a forma de um pequeno barril, mede cerca de 5 mm de comprimento e sua cor é marrom escura. O período pupal varia de 10 a 12 dias, no verão, e até 20 dias no inverno. Findo esse período, emergem os adultos.
Adulto: O adulto já é uma mosca que mede de 4 a 5 mm de comprimento por 10 a 12 mm de envergadura, e apresenta coloração predominantemente amarela. Após o acasalamento, a fêmea fica alguns dias em processo de maturação dos ovos. Ao final do período de pré- oviposição, quando se alimenta de proteínas e carboidratos para produzir descendentes férteis, duração que é de aproximadamente 11 dias, procura frutos próximos à maturação. Localizado o fruto, caminha sobre ele, a fim de determinar o melhor local para a oviposição. A fêmea inicia a postura depois de 12 dias do acasalamento e seu ciclo evolutivo completo é de 31 dias. Ela pode viver até 10 meses, colocando, nesse período, cerca de 800 ovos. Distingue-se facilmente o macho da fêmea, pois aquele possui, na fronte e entre os olhos, dois apêndices filiformes terminados em forma de espátula.
As moscas-das-frutas produzem danos de grande proporção às culturas de frutas. Os frutos atacados pelas moscas apresentam sintomas bem característicos: em volta do local onde foi feita a postura aparece um halo com aproximadamente 2 cm de diâmetro e coloração escura. Quando as larvas nascem, este halo vai ficando com cor acastanhada devido ao apodrecimento da casca. É exatamente aí, sobre esses tecidos destruídos, que se desenvolvem certos fungos. A praga ataca preferencialmente as frutas expostas ao sol. Por apresentar um ovipositor mais curto, a espécie C. capitata ataca apenas os frutos que se encontram em estágio de maturação mais avançado (maduros).
Em entrevista ao Chefe do escritório da Emater, Thompsson Didone, ele fomentou a importância do cuidado com os pêssegos de acordo com a época do ano. “Os produtores devem ter cuidado com o manejo de plantas de cobertura de solo, raleio de frutos, a poda verde, seguir com o monitoramento de moscas das frutas e grafolita e até mesmo realizar tratamentos fitossanitários para o ataque de doenças e pragas.” Ressaltou Didone.
Tanto Didone quanto Botton informaram que os cuidados com os patógenos que atacam os pessegueiros nessa época devem ser redobrados. As doenças fúngicas com maior incidência são: crespereira verdadeira, antracnose e podridão parda. E de pragas como pulgões e cochonilhas.
Recomenda–se a coleta e ensacamento de frutos caídos, que devem ser enterrados em seguida a, pelo menos, 30 cm de profundidade. Pode-se ainda utilizar iscas tóxicas por meio da adição de inseticidas nas armadilhas de monitoramento. Nas áreas em que houver detecção de grande quantidade de moscas, deve-se realizar aplicação de inseticida associado com proteína hidrolisada (5%) ou melaço (10%), com jato dirigido ao terço superior da copa das plantas.
Para usar qualquer agrotóxico o produtor deve ter orientações de técnicos ou agrônomos especializados, tendo sempre Receituário Agronômico, o qual descreve dosagens, épocas de aplicação e carência; sendo que o manejo dos agrotóxicos e as aplicações devem ser feitas com o uso do Equipamento de Proteção Individual (EPI) e, observando sempre a utilização de agrotóxicos registrados no Ministério da Agricultura e indicados para a cultura, respeitando dosagens de aplicação, carência e intervalo de segurança.