Embrapa recomenda atenção com a alta incidência da mosca-das-frutas

2015-04-10_190211

Depois de um alerta emitido pelo Boletim eletrônico do Sistema do Sistema de Alerta Mosca-das-frutas que registrou a captura nas armadilhas de monitoramento de um  número acima da média dos insetos, a Embrapa Uva e Vinho emitiu alerta de alta população de moscas na região.
Segundo o comunicado, entre os dias 05 e 11 de novembro, foram capturadas 51 moscas-das-frutas nas armadilhas instaladas na rede de monitoramento na Serra Gaúcha. Dessa vez foram 20 em Cotiporã, 13 em Nova Pádua, oito em Bento Gonçalves, seis em Farroupilha, três em Pinto Bandeira e uma em Caxias do Sul. Para garantir uma boa safra a Embrapa emitiu recomendações de aplicação de inseticidas em cobertura, principalmente nas cultivares de ciclo médio:

2) Aplicação de isca tóxica – devido a alta infestação e ser época de colheita (fase mais suscetível) reforçar as aplicações, podendo ser até 2 vezes por semana ou sempre após as chuvas:
Atrativo alimentar + inseticida. Utilizar bicos sem o difusor permitindo aplicar um jato direcionado às bordas dos pomares nos locais de origem das infestações ou nas filas alternadas no interior dos pomares. De maneira geral, utiliza-se 50 litros dessa calda por hectare.
Atrativos: melaço de cana de açúcar a 7% ou proteínas hidrolisadas (Biofrut, Isca Samaritá, Flyral), na concentração de 1,5 a 3%.
Inseticida: Malathion 1000 CE na dose de 200 mL/100 litros de calda Também pode ser empregado o Espinetoran (Delegate, 20 a 30 g/100L) ou a deltametrina (Decis 25 CE, 40 mL/100L).]
O comunicado também recomenda aos agricultores ficarem atento às infestações e usarem os produtos recomendados, além de respeitar a carência conforme os rótulos dos produtos e seguirem com o monitoramento

Pesquisadores adaptam,tecnologia espanhola para combater mosca-das-frutas nos parreirais
Uma tecnologia limpa empregada na Espanha e em Israel para controle de pragas tem sido utilizada com sucesso contra o ataque da mosca-das-frutas nas uvas. A chamada captura massal apresenta o simples princípio de disponibilizar uma fonte de alimento que seja mais atraente ao adulto do inseto do que a uva no parreiral. O conhecimento foi adaptado pela Embrapa Uva e Vinho (RS) para o manejo da mosca-das-frutas sul-americana (Anastrepha fraterculus) e já está à disposição dos produtores. “O método garante a produção sem resíduos de inseticidas, pois o produto não é aplicado nos frutos: apenas é colocado numa armadilha que atrai os insetos adultos, evitando que eles danifiquem os frutos”, esclarece Marcos Botton, pesquisador da Embrapa que coordenou as pesquisas.

O controle da espécie tem sido desafiador, tanto para produtores que adotam o sistema convencional, com a aplicação de inseticidas sintéticos, como para os orgânicos, pois a mosca-das-frutas é uma das principais pragas associadas à cultura da videira, mas que também tem outros hospedeiros, o que garante a sua reprodução ao longo do ano. Além da busca por métodos mais limpos e sustentáveis, a equipe da Embrapa Uva e Vinho buscou uma alternativa para substituir os tradicionais inseticidas organofosforados, que não estão mais autorizados para uso no cultivo da videira no Brasil. Os danos causados pela mosca-das-frutas geralmente começam com lesões decorrentes de um ferimento na baga da uva, feito pela fêmea para depositar seus ovos. Depois, em função do desenvolvimento das larvas, surgem as galerias, que geralmente estão associadas às podridões causadas por microrganismos que infectam as bagas e aumentam as perdas no período da pré-colheita. Segundo a equipe de pesquisadores, em muitos casos a perda pode ser de algumas bagas ou até de todo o cacho. No primeiro caso, é possível fazer um raleio de bagas, retirando as que estão danificadas, porém, essa prática exige mão de obra adicional, o que aumenta os custos da produção.

A Embrapa Uva e Vinho, com instituições parceiras, tem realizado diversos trabalhos de pesquisa visando desenvolver tecnologias limpas para o manejo da praga, e a captura massal foi uma das que apresentou melhores resultados. A técnica consiste em distribuir uma grande quantidade de armadilhas por área de pomar, nas quais os insetos adultos são capturados, reduzindo a infestação nos parreirais. Segundo Botton, a técnica já é utilizada há vários anos na Espanha e em Israel para o controle da mosca-das-frutas do mediterrâneo (Ceratitis capitata), inseto que também ocorre na região Nordeste do Brasil e ocasiona danos similares aos da Anastrepha fraterculus, principal espécie de mosca-das-frutas que ocorre na região Sul do Brasil.

O pesquisador relata que já houve tentativas no Brasil de utilizar essa técnica para o controle da mosca-das-frutas em diferentes cultivos. No entanto, não obtiveram sucesso pois os atrativos utilizados, principalmente sucos de frutas, eram pouco eficientes e tinham de ser repostos semanalmente nas armadilhas. Após  anos de pesquisas avaliando e ajustando o manejo com uma proteína animal comercial como atrativo, foram alcançados os melhores resultados. Isso porque a mosca adulta tem necessidade de ingerir compostos proteicos para o desenvolvimento e maturação dos óvulos, que originarão as larvas, ou seja, a sobrevivência dos seus descendentes. O produto também apresenta uma alta estabilidade, não sendo necessária a reposição frequente, além de ser seletivo, não prejudicando outros insetos benéficos, como as abelhas.

Testes da captura massal são bem sucedidos no campo
Há mais de dez anos, Clari Boff produz uvas finas de mesa, como a Itália e a BRS Morena, na Serra Gaúcha no Município de Caxias do Sul (RS), um dos principais polos de hortifrutigranjeiros do Sul do País. Ela ajudou na validação da tecnologia e hoje comemora os resultados. “Com a ajuda da Embrapa conseguimos controlar a mosca-das-frutas e já pensamos em começar um cultivo orgânico”, relata a produtora, que é responsável por uma produção anual de cinco mil quilos de uvas de mesa vendidas diretamente aos consumidores. Ela complementa que os bons resultados obtidos ao longo dos experimentos foram decisivos para que ampliasse sua área de produção

Antes da captura massal, a alternativa para o controle da mosca-das-frutas no sistema orgânico era o ensacamento individual dos cachos de uva com sacos de papel, que apesar de ser eficiente, demanda muita mão de obra, cada vez mais escassa no meio rural. A colocação das armadilhas e do atrativo para uso na captura massal também é uma técnica que exige trabalho manual, no entanto, bem menor em comparação ao ensacamento. Por ser uma tecnologia “resíduo zero”, a captura massal é viável em sistemas de produção com alto valor agregado, como é o caso das uvas de mesa em que a exigência dos consumidores por produtos com ausência de resíduos, é maior, segundo análise do pesquisador da Embrapa.

Como funciona a captura massal
A técnica consiste na instalação de 100 a 120 armadilhas por hectare em todo o parreiral (o produtor pode aumentar a densidade nas bordas mais infestadas), utilizando como atrativo a proteína hidrolisada de origem animal em seu interior. Depois de entrar na armadilha, o inseto não localiza mais a saída e morre afogado, sem a necessidade de uso de inseticidas químicos. Existem armadilhas que podem ser compradas, mas, para baratear o uso da técnica, a equipe de pesquisa ensina a fazer armadilhas caseiras, com a reutilização de embalagens transparentes de refrigerantes. “Para utilizar as embalagens, basta fazer dois orifícios de sete milímetros em lados opostos. Depois colocar o atrativo e pendurar a armadilha no parreiral”, orienta Ruben Machota Junior, pós-doutorando na Embrapa Uva e Vinho que integra a equipe de pesquisa.

Ele revela que, inicialmente, eram recomendadas as embalagens de dois litros, no entanto, pesquisas demonstraram a mesma eficácia com o uso de embalagens de 600 ml, trazendo o benefício adicional de utilizar menor quantidade de atrativo por armadilha. “É necessário colocar cerca de 40% do volume da embalagem, ou cerca de 250 ml do atrativo alimentar. O produto é estável e demora a evaporar, mas o produtor deve ficar atento e repor o líquido sempre que for necessário”, alerta Machota Junior. Estima-se que sejam gastos aproximadamente 500 ml de atrativo por armadilha por safra, considerando um ciclo de três meses. As armadilhas devem ser distribuídas de modo a alcançar a densidade recomendada de 100 a 120 unidades por hectare. A instalação deve ser nos ramos do terço médio da planta, ou seja, a cerca de 1,5 m no solo, em lugares mais sombreados, que recebem menor incidência dos raios solares, principalmente no período da tarde, reduzindo assim a evaporação do atrativo.

Ferramenta do Manejo Integrado de Pragas MIP
A captura massal é uma das técnicas que compõem o Manejo Integrado de Pragas (MIP) para combater a mosca-das-frutas. Aliada a ela também são recomendados o uso de armadilhas para monitoramento da praga e de iscas tóxicas (que é a associação de um atrativo alimentar com um inseticida aplicado em faixas, principalmente na borda dos pomares, buscando reduzir a infestação). Para fazer apenas o monitoramento, pode-se utilizar a mesma armadilha e o atrativo, mas em menor número e somente com o objetivo de identificar o nível de infestação do inseto na área de produção. Quando detectada a mosca-das-frutas no parreiral, é o momento de usar a captura massal e as iscas tóxicas. Marcos Botton comenta que, em breve, os produtores irão contar com outras opções de armadilhas para o combate à praga, incluindo novos modelos e formulações de iscas tóxicas mais resistentes à lavagem pela água da chuva. Essas tecnologias irão auxiliar a controlar as diferentes espécies de moscas-das-frutas viabilizando o manejo da praga após a retirada de diversos inseticidas organofosforados do mercado.

Segundo a equipe, as tecnologias “resíduo zero”, como a captura massal, são cada vez mais importantes no controle de insetos especialmente no Manejo Integrado. Os cientistas antecipam que outras tecnologias visando produzir frutas sem resíduos e com o mínimo de impacto ambiental estão sendo pesquisadas e em breve estarão disponíveis. Entre as novidades, eles citam os sistemas automáticos de monitoramento, o alerta das infestações, o controle biológico e a técnica do inseto estéril.