Embrapa divulga pesquisa sobre controle, biologia e monitoramento de pequenos insetos em uva de mesa

2015-04-10_190211

Espécies tripes causa sérios prejuízos para a agricultura, destruindo tecidos da planta e transmitindo fungos, bactérias e vírus

A Embrapa Uva e Vinho publicou um novo estudo sobre os tripes, pequenos insetos muito comuns no Brasil e no Rio Grande do Sul, que podem causar danos nas videiras. Os pesquisadores Marcos Botton, Aline Nondillo e Adriano Cavalleri, analisarem a espécie (pertencente à ordem Thysanoptera), por cerca de quatro anos, com ênfase para que o estudo fosse direcionado aos produtores de uva de mesa.
Segundo Marcos Botton, o controle dos tripes é durante a floração. “É muito comum que os produtores confundam os danos causados pelos tripes com os da mosca da fruta, porque eles surgem apenas nesta época, em que já acontece o controle da mosca da fruta”, explica. “Mas, se o produtor não souber de onde vem o dano, ele não poderá monitorar e controlar da maneira correta, tendo o mesmo problema na safra do ano seguinte”, registra.

Serra Gaúcha
Em 2011, por meio de um censo realizado em 43 propriedades que cultivam uvas finas de mesa (Vitis vinifera) destinadas ao consumo in natura sob cobertura plástica, na região da Serra Gaúcha, os tripes foram mencionados como a principal praga por 35,6% dos produtores entrevistados. As espécies encontradas nos vinhedos amostrados, no período da floração, foram F. gemina e F. serrata, numa relação de 98,14% e 1,86%, respectivamente.

Os tripes
Os tripes têm tamanho que varia entre 0,5 e 15 mm de comprimento (na vida adulta). Cerca de 100 espécies de Thysanoptera são consideradas pragas em diversos tipos de plantas cultivadas.
De acordo com o estudo da Embrapa, essas são encontradas em flores de diversas plantas e causam sérios prejuízos para agricultura, porque produzem danos diretos, indiretos transmitindo patógenos como fungos, bactérias e vírus. Ainda, podem destruir os tecidos da planta ao succionar o fluido vegetal.
Os tripes podem ser abundantes, especialmente em flores, folhas, ramos e frutos de diversas espécies de plantas. Eles possuem o aparelho bucal do tipo picador-sugador e são amplamente conhecidos como fitófagos sugadores de seiva.
Certas espécies, como as pertencentes aos gêneros Frankliniella, Thrips e Scirtothrips, são transmissoras de vírus do gênero Tospovirus, que também podem provocar perdas significativas na produção em culturas como o tomate e pimentão.

Caracterização dos danos em videira
Na videira, os tripes podem ocasionar danos nas folhas ou frutos, em decorrência de sua alimentação e oviposição. Estes insetos alimentam-se por meio da sucção do conteúdo das células provocando o colapso da parede celular ou a destruição das células. Como consequência da alimentação, ocorre a formação de áreas descoloridas e o aparecimento, nos locais atacados, de pontos ferruginosos (necrose nos tecidos) ou pardo-enegrecidos causados pela deposição de gotas fecais.

Danos nas folhas
Nas folhas, geralmente a alimentação de duas espécies, a R. syriacus e S. rubrocinctus se caracterizam por manchas amareladas, que se tornam, posteriormente marrons, as quais, em altas infestações, podem causar necrose e desfolhamento parcial ou total da planta.
Já as injúrias ocasionadas por H. haemorrhoidalis caracterizam-se pela presença de pontuações prateadas ou esbranquiçadas, que se unem em áreas maiores.

Danos em frutos
Nos frutos, os danos também são bem visíveis. Quando ovipositam sobre as bagas forma-se um halo esbranquiçado ao redor de uma pequena cicatriz no local de postura. À medida que a baga cresce, em algumas variedades, pode ocorrer também uma rachadura no local desta cicatriz, chegando a apodrecer o cacho. A cicatriz pode ainda servir como porta de entrada para microorganismos patógenos que reduzem a qualidade da fruta.
O dano ocasionado em bagas deprecia a qualidade dos frutos podendo afetar a sua comercialização.

Monitoramento
O monitoramento deve ser iniciado com o botão floral ainda fechado e terminado na fase de grão chumbinho. Para isso, as inflorescências e/ou cachos devem ser batidos sobre uma superfície branca (papel ou bandeja plástica) para contagem direta dos tripes visando avaliar sua.
Pode-se ainda sacudir os cachos no interior de sacos plásticos para posterior contagem em laboratório. Outra alternativa seria a utilização de armadilhas adesivas para observar os movimentos migratórios dos tripes, especialmente no início da floração.
O monitoramento deve ser feito em 10 inflorescências por hectare e quando 20% dos cachos apresentarem em média dois ou mais tripes por inflorescência, o controle químico é recomendado .
Segundo Botton, caso haja a presença dos tripes nas frutas, o recomendado é buscar assistência técnica profissional, que saberá qual produto é mais eficaz e como proceder.

Controle
Para o manejo dos tripes de flores, o método mais empregado pelos produtores tem sido o controle químico. Dentre os inseticidas autorizados para emprego na cultura, o imidacloprido é utilizado para o manejo de tripes que ocasionam danos em folhas devendo ser evitado na floração (Selenothrips rubrocinctus).
Para o manejo dos tripes em inflorescências, o cloridrato de formetanato e o espinosade são recomendados para F. gemina, F. schultzei e F. occidentalis. No caso do formetanato, a adição de 1% de açúcar na calda de pulverização, aumenta a eficácia do tratamento.
Embora autorizado para uso na cultura da videira visando o manejo de tripes que ocorrem nas flores, a azadiractina apresenta reduzido efeito devido a baixa ação de contato.
Quando o período de floração é curto, um controle satisfatório é obtido com apenas uma aplicação de inseticida. Entretanto, em situações que se observa uma alta densidade de tripes e um período prolongado de floração, uma segunda aplicação pode ser necessária devendo ser feita de acordo com o monitoramento.
Uma alternativa para diminuir a população de tripes que ocorrem na floração da videira é o manejo de plantas hospedeiras localizadas dentro e/ou nas bordas do pomar.

A pesquisa
O pesquisador conta que durante os quatro anos de pesquisa foram analisados os tipos de espécies de tripes presentes na região e os danos causados por elas (e principalmente a diferença entre os tripes e a mosca da fruta). Além disso, os produtos para o controle também foram estudados, juntamente com o registro. “Uma dessas ferramentas tem origem biológica, ou seja, é menos agressiva para o meio ambiente e para quem consome”, pondera.