Dor de cabeça: será o fim do tormento?

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Uma nova classe de remédios promete revolucionar o tratamento das crises de enxaqueca. Veja como os experts controlam as dores de cabeça hoje em dia

A dor de cabeça é a mais democrática das chateações. Estima-se que 94% dos homens e 99% das mulheres já sentiram (ou ainda vão sentir) essa sensação desagradável ao menos uma vez na vida. Na maioria dos casos, trata-se apenas de um sintoma de outra encrenca, que pode ser uma gripe, uma intoxicação alimentar ou até quadros graves, como tumores e meningites.
Mas numa parcela considerável de pessoas esse incômodo é uma doença em si: falamos daqueles 15 a 30% da população que sofrem com a enxaqueca, cefaleia do tipo tensional ou outras manifestações de algum descontrole no sistema nervoso central.

Engana-se quem pensa que essa seja uma dor que vai embora com um analgésico qualquer. Posso falar com conhecimento de causa: nas poucas vezes em que tive crises de enxaqueca, fiquei totalmente paralisado, deitado num quarto escuro e silencioso enquanto a cabeça latejava. No dia seguinte, sentia uma náusea das bravas e todo o corpo estava dolorido. Imagino como deve ser a vida daqueles que passam por essa experiência vários dias no mês… “Segundo a Organização Mundial da Saúde, uma crise forte é tão incapacitante quanto um quadro de psicose ou uma paraplegia”, compara o neurologista Fernando Kowacs, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

Uma pesquisa feita pela farmacêutica Novartis em parceria com a Aliança Europeia para Enxaqueca e Cefaleia ouviu 11 mil pessoas com enxaqueca em 31 países, incluindo o Brasil. Dos 851 cidadãos entrevistados por aqui, 45% afirmaram que tiveram uma redução na produtividade após o início das crises e 17% precisaram faltar no trabalho durante os picos de dor.
O levantamento ainda mostrou que 82% sentem prejuízos na vida social e 56% desistiram de atividades diárias e hobbies. “Fora isso, há aquele estado de tensão e ansiedade constantes sobre quando será a próxima crise”, analisa a psicóloga Juliane Prieto Mercante, do Centro de Cefaleia São Paulo.

Apesar de ela ser tão popular e corriqueira, pouca gente reconhece a condição como uma doença genética e hereditária. “Existe sempre uma explicação para aquela dor: um dia é a menstruação, no outro é uma taça de vinho, depois é a falta de sono…”, conta o neurologista João José de Carvalho, da Sociedade Brasileira de Cefaleia.
De desculpa em desculpa, o problema é empurrado com a barriga indefinidamente. “Num estudo que fizemos, há uma demora de cinco anos para procurar o primeiro médico e uma década até chegar a um especialista”, revela Carvalho. É tempo demais convivendo com algo tão debilitante.

Para piorar, pouca gente sabe que a enxaqueca, o tipo mais impactante, vai além da dor. Os sintomas começam 48 horas antes da crise e envolvem não apenas as pontadas na cabeça, mas alterações na visão e na audição, enjoo, vômitos e até vontade excessiva de comer doces. Quando essa lista de sintomas dura mais de 15 dias num mês, a enfermidade já é considerada crônica e exige uma intervenção quanto antes. “A notícia boa é que hoje entendemos melhor o mecanismo por trás desse fenômeno e temos ferramentas para contra-atacar”, diz a neurologista Thaís Villa, da Universidade Federal de São Paulo.