Diagnóstico por hepatite C aumentou quase 40% nos últimos 19 anos em Bento Gonçalves

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Tabela mostra a evolução do quadro de infectados por hepatites B e C nos últimos 19 anos

Foram confirmados ao menos 497 casos de pessoas infectadas por hepatite C, considerada mais perigosa que a hepatite B, com 718 casos calculados até 2016

O número anual de casos novos de hepatite C aumentou em 39,4%, passando de 24 para 34 casos por ano, nesta década. Até o final de 2016, foi registrado um total de 718 casos novos de hepatite B, e 497 casos de hepatite C. A Gazeta entrou em contato com clínicas de vacinação, que confirmaram que o valor da vacina para Hepatites A e B pode variar de R$120 a R$ 175 reais a dose com plano de saúde. Já sem o plano o valor acresce em até R$ 50 reais.
Embora o número total de pessoas infectadas pelo vírus da hepatite B seja maior, o número anual de casos diagnosticados reduziu em 46,7% na década atual, de 46 para 31 casos ao ano. Os dados são referentes aos últimos 19 anos, de 1998 até 2016. Segundo o Coordenador da Vigilância Epidemiológica, o enfermeiro sanitarista José Antônio Rosa, o perfil das pessoas infectadas pelos vírus das hepatites B e C é diferente.
“Enquanto a hepatite C é diagnosticada principalmente nos homens (63,0% dos casos), a hepatite B tem sido mais encontrada entre as mulheres (50,1% dos casos)”, explica. Segundo ele, em relação à idade, 55,4% dos casos de hepatite B têm sido diagnosticados em pessoas de 20 a 39 anos, enquanto que na hepatite C, a maior proporção de casos tem ocorrido entre pessoas de 30 e 49 anos (55,7%). O enfermeiro explica ainda que a taxa de mortalidade por hepatite C é 2,7 vezes maior que a da hepatite B. Isso se deve pelo fato da infecção pelo vírus da hepatite C permanecer ativa por períodos de tempo mais prolongados, causando danos mais graves ao fígado e à saúde dos seus portadores. Ele frisa ainda que todos os postos de saúde estão aptos para vacinar contra hepatite B.
“É fundamental que todas as pessoas expostas à situações de risco (contato com sangue, uso de drogas ilícitas, sexo desprotegido, uso de lâminas ou materiais perfuro-cortantes não estéreis, contato domiciliar com uma pessoa infectada) procurem uma unidade de saúde para verificar se foram infectadas pelos vírus das hepatites B e C”, salienta.

Como as hepatites virais são transmitidas
O vírus da hepatite B é encontrado principalmente no sangue e no sêmen humano, e a sua transmissão ocorre através das relações sexuais sem uso de camisinha, e pelo compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas e outros instrumentos contaminados com sangue. O vírus da hepatite C também é transmitido através do contato com sangue infectado, pelo compartilhamento de objetos contaminados com sangue.

Como prevenir a infecção
Para prevenir a infecção das hepatites B e C, as pessoas não devem usar, nem compartilhar, objetos contaminados com sangue, como, por exemplo, agulhas, seringas, lâminas, aparelhos de barbear e depilar, alicates e tesouras de unha. Também é essencial usar camisinha nas relações sexuais.
Para a hepatite B, também existe a vacinação que é oferecida gratuitamente nos postos de saúde. Ainda não existe uma vacina contra a hepatite C.

Acompanhamento e tratamento das hepatites virais
Segundo informações da Vigilância Epidemiológica, as pessoas infectadas pelos vírus das hepatites B e C podem evoluir para a cura da infecção, ou para a cronificação da doença. A única maneira de saber isso é verificando se o vírus ainda está presente no sangue, e avaliando se a função do fígado está alterada. Para tanto, as pessoas precisam fazer o acompanhamento médico regular da infecção e, quando necessário, iniciar o tratamento com os medicamentos que ajudam a destruir os vírus.
Em Bento Gonçalves, as pessoas infectadas são acompanhadas e tratadas no Serviço de Atendimento Especializado – Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE-CTA) da Secretaria Municipal da Saúde. Por ser caro e prolongado, muitos pacientes com hepatite B e C diagnosticados nos convênios médicos procuram o tratamento disponibilizado pelo SUS.

Hepatites B e C não tratadas aumentam risco de câncer de fígado
O câncer de fígado pode ser primário ou secundário. O câncer primário é o tumor que se origina no fígado, como o hepatocarcinoma ou carcinoma hepatocelular (CHC), que acomete as células do fígado (hepatócitos); o colangiocarcinoma, que acomete os ductos biliares dentro do fígado; o angiossarcoma, tumor de vaso sanguíneo; e o hepatoblastoma, que acomete crianças. O secundário é o metastático, ou seja, originado em outro órgão e que atinge também o fígado.
O hepatocarcinoma é o tipo mais comum de câncer de fígado, surge por uma multiplicação desordenada dos hepatócitos decorrente de alteração no seu DNA, ou a partir de um nódulo de regeneração decorrente do processo de multiplicação das células após agressão, que evolui com o aparecimento de displasia (alteração na maturação e formato das células) e depois para células cancerosas propriamente ditas.
Apesar de alguns fatores ambientais aumentarem o risco de desenvolver o CHC (por exemplo, exposição a certos produtos químicos e ingestão de alimentos com aflatoxinas), ele raramente ocorre em pessoas sadias, geralmente acomete o fígado com doença avançada, ou seja, com cirrose.
Uma das grandes causas de cirrose é a ingesta abusiva de bebidas alcoólicas, mas outras doenças também podem causar cirrose, como as hepatites virais B e C, a hemocromatose (doença por excesso de ferro no fígado) e esteato-hepatite não alcoólica, que é decorrente de acúmulo de gordura no fígado, geralmente causada por distúrbios metabólicos, como obesidade, diabetes, níveis elevados de colesterol e triglicerídeos.
A hepatite C é responsável por 54% dos casos deste câncer no Brasil, os fatores virológicos relacionados ao desenvolvimento do câncer ainda não estão bem esclarecidos. Pesquisas detectaram a presença de uma mutação genética ligada à ocorrência de câncer, sua presença pode aumentar em 70% a incidência de câncer de fígado em portadores da hepatite C crônica. Cerca de 4% dos pacientes cirróticos com Hepatite C evoluem para câncer ao ano .
No mundo a incidência de câncer no fígado é de aproximadamente 560.000 novos casos ao ano, cerca de 80% deles apresentam hepatite viral crônica, pelos vírus B ou C. Mais comum em países com maior incidência de fatores de risco, como na Ásia pela alta incidência de hepatite B. No entanto, devido a grande incidência de hepatite C nas últimas décadas e de esteato-hepatite não alcoólica (associada à obesidade), a incidência está aumentando no Ocidente.