Dia Internacional da Mulher

2015-04-10_190211

Com poucas conquistas reais na última década, as mulheres ainda têm ainda um longo caminho para alcançar a equidade

Mesmo um pouco mais conscientes de seu espaço, direitos e papel na sociedade, as mulheres ainda enfrentam resistência dentro de casa para dividir a responsabilidade uma casa, educação de filhos, e também no corporativo, onde sofrem com diferenças salariais e preterição em promoções no mercado corporativo.

As mulheres estão chefiando famílias brasileiras mais do que nunca. A porcentagem dessas mulheres cresceu 105% entre 2001 e 2015, segundo a pesquisa ‘Mulheres Chefes de Família no Brasil: Avanços e Desafios‘. Em números absolutos, isso significa um total de 28,9 milhões de famílias chefiadas por mulheres em 2015, ano dos últimos dados.
Neste número estão incluídos diversos tipos de arranjos familiares, como casal sem filhos ou com filhos; arranjo unipessoal, que é caracterizado por uma mulher que mora sozinha; e as chamadas mães solo, caracterizadas na publicação como “arranjo monoparental feminino”.

O estudo também mostra que as famílias formadas por uma mãe solteira, separada ou viúva e seus filhos já representam 15,3% de todas as formações familiares.
Outro dado que mostra como muitas mulheres têm assumido a responsabilidade de criar os filhos sozinhas vem da cartilha ‘Pai presente‘, divulgada pelo Conselho Nacional: 5.494.267 estudantes não possuem o nome do pai na certidão de nascimento. Esse dado teve como base o Censo Escolar 2011.

Responsabilidade domiciliar
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de domicílios brasileiros comandados por mulheres saltou de 25%, em 1995, para 45% em 2018, devido, principalmente, ao crescimento da participação feminina no mercado de trabalho.
Esse movimento, porém, se acentuou nos últimos anos, depois da crise econômica. Só entre 2014 e 2019, quase 10 milhões de mulheres assumiram o posto de gestora da casa, enquanto 2,8 milhões de homens perderam essa posição no mesmo período.
Com isso, também houve, uma mudança significativa no perfil das mulheres que são chefes de família.

Há alguns anos, a maior parte das mulheres que eram chefes de domicílio estavam nessa posição basicamente porque haviam se separado do marido e, por isso, foram forçadas a assumir o comando da casa. Hoje, quase metade dessas mulheres é chefe de família mesmo vivendo com o companheiro.

Segundo o Ipea, 43% das mulheres que são chefes de domicílio hoje no Brasil vive em casal – sendo que 30% têm filhos e 13% não. Já o restante das 34,4 milhões das responsáveis pelo lar se dividem entre mulheres solteiras com filho (32%), mulheres que vivem sozinhas (18%) e mulheres que dividem a casa com amigos ou parentes (7%).

Assumindo mais responsabilidades e com renda menor
Se a chefia da família aumentou, consideravelmente, para as mulheres, a condição de chefe no emprego ainda não é uma realidade profissional para boa parte delas. É que, apesar de estar contribuindo cada vez mais com as despesas domésticas, a maior parte das que estão no mercado de trabalho ainda ganha menos que os homens e têm menos oportunidades de ascender profissionalmente.

Segundo o IBGE, as mulheres ocupam 41,8% dos cargos de direção e gerência do mercado de trabalho. E a diferença é muito maior quando se olha para os e cargos de direção de empresas: 3% em cargos de liderança em grandes corporações ( segundo Linkedin).

Mais desafios
Esse, contudo, não é o único desafio que as mulheres precisam enfrentar no mercado de trabalho. Apesar de já responderem por 43,8% dos brasileiros que estavam trabalhando em 2018, elas ainda ganham 20,5% a menos que os homens. Ainda segundo o IBGE, o rendimento médio das trabalhadoras que têm entre 25 e 49 anos de idade é de R$ 2.050. Isto é, R$ 529 menos que os R$ 2.579 normalmente pagos aos homens que trabalham nesta mesma faixa etária.
A diferença é ainda maior para as mulheres que conseguiram superar as barreiras profissionais e ocupam cargo de chefia. As que são diretoras e gerentes têm rendimento médio de R$ 4.435 no Brasil — valor 28,7% inferior aos R$ 6.216 recebidos pelos homens que estão neste mesmo posto.

Baixa renda
Nunca foram flores. É que, além de enfrentarem duplas jornadas, cada vez mais para pagar as contas e cumprir os afazeres de casa, boa parte dessas mulheres ainda está nas classes mais baixas da população e ganha menos que os homens. Por isso, boa parte delas tem uma renda mensal inferior à de outras famílias.

Não bastando todas estas condições desfavoráveis, a mulher trabalha 10 horas a semanais a mais que o homem em serviços domésticos (mesmo dividindo uma casa) , independente de instrução, raça ou classe social, segundo dados do IBGE de 2019.

Mesmo com esses desafios, contudo, analistas apostam que o número de mulheres chefes de domicílio vai continuar crescendo no Brasil. Não que elas estejam mais dispostas a assumir as despesas de casa e a formar novos arranjos familiares — muitas têm até adiado ou desistido da maternidade para, entre outras coisas, focar na carreira profissional, mas sim por pura falta de opção para com quem dividir a empreitada de cuidar de uma casa e assumir os filhos.

Escolaridade
Se dependesse de qualificação, as mulheres teriam tudo para ocupar cada vez mais espaços no mercado de trabalho — o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) explica que, hoje, as mulheres têm, em média, oito anos de estudo no Brasil, enquanto os homens ficam nos 7,7 anos. Mas isto não se reflete no mercado de trabalho e, muito menos na equiparação salarial e oportunidades de crescimento na carreira. Enfim: muitas felicitações pelo dia internacional, mas muito poucas conquistas