“Déficit de Natureza” afeta sistema emocional e físico das crianças, alerta jornalista norte-americano

2015-04-10_190211
O jornalista norte-americano Richard Louv constatou que crianças que não têm contato frequente com a natureza tendem a desenvolver comportamento anti social, além de apresentarem problemas físicos e mentais

O contato das crianças com a natureza já não é o mesmo de décadas atrás, e o problema fica ainda mais acentuado em grandes e médias cidades, onde as brincadeiras geralmente acontecem nos próprios apartamentos. O jornalista norte-americano Richard Louv, autor do livro A Última Criança na Natureza, classificou o problema como Déficit de Natureza.
Segundo ele, a concentração das populações em áreas urbanas e o estilo de vida adotado por boa parte das sociedades têm afastado os seres humanos do contato com a natureza, o que traz consequências para a saúde física e emocional. As crianças são as principais afetadas.
“Entrevistei mais de 3 mil pais e professores. Queria saber deles sobre como o cenário da infância estava mudando. E uma constante nos depoimentos foram pais reclamando de que não conseguiam tirar seus filhos de casa. Mesmo se morassem perto de áreas verdes “, disse.
“Na época, não haviam estudos sobre a aflição desses pais. Somente há menos de 10 anos surgiram as primeiras pesquisas sobre isso – e todas apontam para a mesma direção: a falta de contato das crianças com a natureza causa problemas físicos, como a obesidade, e mentais, como depressão, hiperatividade e deficit de atenção.”
Louv, no entanto, vai além do cenário triste que pinta para as crianças dos dias atuais: ele também aponta medidas simples que pais, educadores, médicos e o poder público podem adotar para evitar o “deficit de natureza” até mesmo em grandes metrópoles.

Os transtornos
O jornalista destaca ainda que o problema acarretado pela falta de liberdade e exposição das crianças com a natureza causam sérias complicações para a saúde mental e física.
“Na parte física temos, por exemplo, a obesidade infantil, que hoje é epidemia em vários países mundo afora, inclusive, até onde eu sei, no Brasil. (47% das crianças brasileiras têm excesso de peso ou são obesas). As crianças hoje passam menos horas ao ar livre e, consequentemente, mais tempo confinadas em casa, vendo TV ou jogando videogame. Essa é uma das grandes causas da obesidade infantil. Meninos e meninas que ficam na frente de telinhas são menos ativos do que os que correm no parque, sobem em árvores”, salienta.
Os transtornos mentais também foram ressaltados pelo jornalista. “São muitos e são novos. Porque até a poucos anos atrás, era raro os pediatras atenderem crianças bem novas com sintomas de depressão. Também posso citar transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), além de problemas cognitivos”, afirma.

Benefícios das crianças que tem contato com a natureza

Brincadeiras ao ar livre
É provável que as memórias da infância dos idosos do futuro não envolvam subir em árvores, chupar uma laranja colhida direto do pé ou mesmo se atolar numa poça de lama, como faziam nossos pais e avós. A terceira idade do século XXI vai lembrar mais de jogos de videogame, brinquedos ultratecnológicos, programas de televisão e aparatos de tela possíveis de ser carregados para qualquer lugar. E tudo bem que as brincadeiras e os interesses tenham mudado, mas perder totalmente o contato com a natureza é algo que coloca, sim, as crianças de hoje em dia em desvantagem em relação aos nossos antepassados.
E isso se torna ainda mais preocupante quando se sabe que os meninos e meninas sequer têm tempo (ou vontade) para brincar ao ar livre. Para se ter uma ideia, 89% dos pais brasileiros observam que seus filhos preferem esportes virtuais (em computadores ou tablets) a praticá-los na vida real; globalmente, esse índice é de 81%.

Sentidos mais apurados
Audição, visão, tato, olfato e paladar podem se beneficiar de brincadeiras ao ar livre. “Todos os sentidos são janelas para o mundo, e a criança funciona quanto mais funcionam os sentidos dela”, diz Vital Didonet, especialista em políticas públicas para a primeira infância. E o contato com a natureza pode ser uma excelente forma de treinar todas essas habilidades. Veja só: ao pegar um punhado de areia ou sentir a textura de uma flor, por exemplo, o pequeno está descobrindo novas sensações táteis; ao ouvir o canto de um sabiá ou descobrir qual barulho um leão faz, os baixinhos estão desvendando novos sons e adquirindo mais conhecimento; e ao ver o movimento da água numa correnteza ou quando uma cachoeira se encontra com um rio, a meninada também está fazendo novas descobertas e se fazendo novas perguntas.

Criatividade sem limites
“A criatividade é inata na criança”, atesta Didonet. Ele explica que, por ainda não conhecer as coisas, os pequenos fazem hipóteses, o que permite que a imaginação flua livre, leve e solta. “Ao deixar a mamadeira ou um brinquedo cair no chão, a criança está observando o movimento descendente do objeto”, exemplifica o especialista. E as plantas, as flores, os galhos e até os animais são perfeitos para estimular essas experiências. “O contato com a natureza é um trampolim para desenvolver inteligência de perguntas e estimular a exploração”, assegura Vital Didonet.

Meio ambiente preservado
“A forma mais garantida de produzir uma cultura de sustentabilidade é começar pelas crianças, porque elas têm amor pela natureza”, sugere Didonet. Então, ver uma árvore crescer, um passarinho alimentando seus filhotes ou um siri se escondendo na areia da praia são maneiras de conscientizar os pequenos sobre como funciona a natureza e como as nossas ações podem impactar em tudo isso. “Eles ainda não sabem destruir e, se aprendem desde cedo o significado de preservar as coisas, passam a exigir isso dos pais”, analisa o especialista.

Imunidade fortalecida
Brincar na grama, se lambuzar e ter contato com a terra também são formas de colocar a criança em contato com anticorpos que vão contribuir para fortalecer o sistema imunológico dela. Quando supervisionadas e feitas em segurança, essas e outras travessuras só têm a acrescentar à saúde da meninada. “Tudo isso vai ajudar os pequenos a desenvolverem suas competências físicas e biológicas”, garante Vital.

Alimentação saudável
Com a praticidade que a indústria oferece hoje em dia, muitas crianças nem sabem a origem ou até a aparência de frutas, verduras e legumes. E oferecer esses alimentos aos baixinhos é a melhor forma de garantir que eles tenham um cardápio variado e equilibrado. “É preciso dar oportunidade para a criança experimentar uma cenoura, chupar uma laranja e sentir o sabor de uma manga”, aconselha Vital Didonet. Segundo ele, é interessante também estimular a meninada a dizer o que está sentindo enquanto degusta o alimento e se está gostando. “Assim, a criança vai respondendo perguntas que ela mesma se faz e, muitas vezes, não sabe esclarecer”, afirma o especialista. Outra boa dica é mostrar de onde vem aquilo que comemos – observar um grão de feijão brotar, no algodão mesmo, já pode ser um bom começo

Brincando na terra
Brincar na terra pode auxiliar no desenvolvimento cerebral da criança
Estudos indicam que algumas bactérias presentes no solo podem auxiliar no desenvolvimento cerebral das crianças por produzirem serotonina e ativarem os neurônios do cérebro. A serotonina está ligada a sensação de prazer e felicidade. A partir dela é possível que a criança se sinta mais disposta a experimentar e evoluir em suas atividades cognitivas.

As bactérias presentes no solo favorecem o sistema imunológico
Segundo a “hipótese da higiene”, acredita-se que as células das crianças que são criadas em ambientes praticamente estéreis, não reconhecem os micróbios e as bactérias, e por isso a maioria delas, hoje sofre com problemas respiratórios e alergias de pele.

Brincar na terra desenvolve a capacidade cognitiva da criança
As crianças aprendem brincando, e na terra elas experimentam diversas texturas, aprimoram a sua criatividade, habilidade corporal e concentração. Elas estão descobrindo do que são capazes, e testando seus limites. Desde já podem começar a se descobrirem.

Crianças que brincam no jardim ou no parque são menos obesas
A obesidade, o estresse infantil e a depressão, são realidades cada vez mais presentes na vida das crianças. Não é incomum consultórios psicológicos estarem sempre lotados por crianças com problemas de socialização, depressão e mal comportamento. Grande parte deste problema pode ser causado pelo tempo excessivo na frente da televisão ou computador.

Crianças que brincam na terra podem avaliar melhor os riscos
Ao brincar na terra as crianças experimentam o que pode e não pode numa brincadeira fora de casa, elas precisam estar atentas ao ambiente para não se machucarem, elas observam o espaço a sua volta e como se comportam as outras pessoas, e assim criam noções sobre os riscos. Ao crescerem, certamente se tornarão pessoas mais motivadas e felizes.

 

Crianças reclusas em apartamentos e com falta de contato com a natureza tendem a ter dificuldade no relacionamento
O contato com a natureza diminui as chances das crianças desenvolverem transtornos físicos e mentais
Audição, visão, tato, olfato e paladar podem se beneficiar de brincadeiras ao ar livre