Conheça sistemas agroflorestais: produção e sustentabilidade

Vale dos Vinhedos 2015-04-10_190211
Os sistemas agroflorestais podem ser utilizados para restaurar florestas e recuperar áreas degradadas

Racionalizar o uso dos recursos naturais, da mão de obra disponível na propriedade e planejar os sistemas de produção como estratégia de conservação da biodiversidade são características esperadas com a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAF). Estes sistemas permitem integrar, em uma mesma área, a produção de grãos, árvores frutíferas e madeiráveis e criações, otimizando o aproveitamento dos recursos ambientais com uma variedade de produtos, de forma escalonada no tempo e em sistemas de produção adequados à vegetação, solos, topografia e sistemas agrícolas regionais.
Os Sistemas Agroflorestais podem ser utilizados para restaurar florestas e recuperar áreas degradadas, em vista da capacidade das árvores para a recuperação da fertilidade e conservação do solo, além de a maior biodiversidade proporcionar condições adequadas para a recuperação ambiental. “Por se tratarem de sistemas de produção que apresentam uma cobertura vegetal permanente do solo, tenham grandes vantagens conservacionistas, tanto do solo como da água e da biodiversidade”, explica o assistente técnico estadual da Emater/RS-Ascar da área de florestas e sistemas agroflorestais, Antonio Carlos Leite de Borba.
Além dos Sistemas Agroflorestais, deve-se destacar outros sistemas de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF), como os Sistemas Agrossilvipastoris, em que são cultivados de forma concomitante árvores madeiráveis, em espaçamentos mais abertos, com culturas anuais, e produção pecuária quando o desenvolvimento florestal inviabilizar as culturas anuais, pelo efeito do sombreamento. Estes sistemas, em geral, apresentam menor diversidade de espécies e um arranjo espacial mais regular, facilitando a mecanização das áreas e uma produção mais intensiva, porém menos diversificada que os Sistemas Agroflorestais.
Segundo Borba, a dificuldade de manejo dos Sistemas Agroflorestais depende da complexidade estrutural e da diversidade de espécies do sistema implantado. Já os sistemas de ILPF, apresentam menor diversidade de espécies, normalmente formado com o plantio de grãos como o milho, feijão ou soja, e um componente arbóreo como o eucalipto, pinus ou acácia negra, juntamente com uma espécie exótica e de rápido crescimento, possibilitando maior facilidade de mecanização de implantação, manejo e exploração.
Para a implantação de Sistemas Agroflorestais é recomendado o uso de espécies nativas como o angico, o cedro e a canjerana, entre outras espécies, ou espécies exóticas como o eucalipto, o pinus e a acácia negra. “Dependendo do objetivo que o agricultor tem com o componente florestal, seja madeira para energia como a lenha, seja madeira para uso na propriedade, madeira serrada ou até celulose, é um critério fundamental para a escolha das espécies, devendo considerar também aspectos relacionados ao licenciamento ambiental, diferenciado para espécies nativas e exóticas”, ressalta o assistente técnico.
Quanto ao espaçamento entre as filas de árvores, é recomendado que sejam utilizados espaçamentos de 15 a 30 metros para uma melhor entrada de luz e maior tempo de permanência do consórcio das culturas agrícolas e pastagens no sistema, e de 5 a 10 metros para sistemas que visem a recuperação ambiental de áreas degradadas e/ou produção de fruteiras de sombra e madeira, com um menor tempo de manutenção do consórcio com culturas anuais e pastagens.
Nos sistemas de integração com pecuária, recomenda-se a entrada dos animais após os três anos de implantação florestal, para que as árvores não sejam danificadas por eles. “Além disso, no caso de entrada do gado, a orientação é de que seja de terneiros e não vacas de maior porte, inicialmente. Depois do quarto ano de desenvolvimento florestal, pode-se entrar com rebanho de maior porte”, orienta Borba.
A Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus) é um exemplo de que a agrofloresta e a produção de citros como laranja e bergamota pode gerar bons resultados. A Cooperativa conta atualmente com 40 famílias associadas. Destas, 15 propriedades têm o Sistema Agroflorestal implantado, totalizando mais de 100 hectares de agrofloresta. “O agricultor que trabalha com agrofloresta tem uma sensibilidade diferente quanto às necessidades das plantas, pois elas têm um ciclo de maturação mais longo, o que amplia o tempo da colheita”, explica o engenheiro agrônomo da Ecocitrus, Daniel Büttenbender. Segundo ele, a produtividade de citros neste sistema se iguala ao sistema convencional utilizado pelo restante das famílias que integram a Cooperativa.
Para esclarecer e orientar os agricultores sobre a utilização dos Sistemas Agroflorestais nas propriedades rurais, foi realizada a implantação de um exemplar deste sistema na parcela de Fruticultura, no espaço destinado à Emater/RS-Ascar durante a Expoagro Afubra. O planejamento e implantação foi realizado em parceria entre a Emater/RS-Ascar, a Secretaria Estadual do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema/RS) e a Embrapa Clima Temperado, de forma a definir as melhores espécies a serem plantadas e seu arranjo, sendo utilizadas espécies madeiráveis como louro-pardo, canjerana, cedro, caroba, angico; para poda e adubação verde como é o caso dos ingás, angico e canelas; e frutíferas como jabuticaba, juçara e fisális.
“Nessa edição, o público poderá visualizar o primeiro ano de plantio de diversas espécies arbóreas, que cumprem funções como o aumento da biodiversidade, que confere maior estabilidade contra pragas e doenças; sombreamento; quebra-vento, que oferece maior resistência e resiliência a eventos climáticos extremos como vendavais, granizo, secas e geadas, entre outras. Também será possível observar diferentes espécies cultivadas, como plantas de cobertura nas entrelinhas do pomar, como crotalárias, feijão miúdo, margaridão e amendoim forrageiro”, explica o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar e coordenador da parcela de fruticultura, Wagner Soares.
A certificação agroflorestal tem validade de dois anos e garante que o agricultor possa realizar as ações de manejo agroflorestal, podas e corte de árvores, para garantir a entrada de luz e a manutenção da produção das culturas anuais e frutíferas, além de obtenção de madeira para uso na propriedade. Outro incentivo oferecido pelo Estado é a possibilidade de financiamento por meio do Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper), através de projetos elaborados pela Emater/RS-Ascar e via Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR).