Comportamentos curiosos dos cachorros e suas explicações científicas

2015-04-10_190211

Como cachorros se tornaram animais diferentes depois de tanto tempo na companhia humana

 

Cheirar cocô alheio anônimo não é das coisas mais agradáveis do mundo. E chinelos não estão entre os itens mais saborosos do supermercado para uma sessão de mastigação. Mas seu cachorro insiste em amar as duas coisas. A lista de comportamentos curiosos dos cachorros é infinita, começando em coisas que eles têm muito em comum com seus donos humanos e terminando em costumes inexplicáveis.

Aquele olhar pidão de cortar o coração
Ninguém resiste às pálpebras lacrimejantes de um cão quando seu olhar encontra um frango de padaria. De fato, qualquer cachorro é capaz de ganhar com facilidade um concurso de jogo do siso. Mas o que, além de fome, desencadeia esse olhar 43?
Testes feitos com cavalos já haviam revelado que esses animais tendem a olhar por mais tempo para situações que quebram expectativas. Eles deram, por exemplo, mais atenção a uma cena em que um cavalo entrava em no celeiro e um animal diferente saia que a uma cena em que o mesmo cavalo saia do local depois de algum tempo.
Cachorros, por outro lado, parecem não cair nessa. Em outro experimento, exemplares do melhor amigo do homem foram expostos a duas imagens: uma de um cão feliz com a língua para fora e outra de um animal bem nervoso, mostrando os dentes. Soltaram, então, áudios de latidos felizes e grunhidos nervosos, e eles fizeram o oposto dos cavalos: concentraram o olhar na expressão que batia com o som. Os resultados estão em artigo publicado na Biology Letters.

Aquela facilidade com que ele vira a barriga para ganhar carinho
Cachorros são muito oferecidos. Se percebem que o afago é enfático, logo viram a barriga para o alto para ganhar uma “cosquinha” extra, mesmo quando o benfeitor em questão é um estranho na rua. O mais legal é que a ciência também acha: estudos comprovam que, no ranking de preferências dos cães, primeiro vem o carinho, depois os elogios e, só então, comida. Você pode checar as conclusões direto na revista científica Behavioural Processes.

Aquele momento em que você tem certeza de que ele entendeu o que você disse
Cachorros são bons em obedecer a comandos depois que são adestrados, claro. Muitos sabem sentar, deitar e rolar depois de algum treino. Mas o mágico é que eles também atribuem significado a palavras simbólicas sem serem estimulados.
Isso ocorre por um processo chamado inferência (uma espécie de dedução), idêntico ao usado por crianças quando precisam descobrir o significado de uma palavra desconhecida. Em outras palavras, eles associam um objeto a sua função em um contexto. Pode parecer muito óbvio que um animal, após ouvir a palavra “passeio” associada à coleira tantas vezes, passe a abanar o rabo ao ouvir a palavra mesmo quando o objeto não está na mão do dono.
Mas não é: eles são uma das únicas espécies comprovadamente capazes de fazer isso, afirmam Brian Hare e Vanessa Woods no bestseller do New York Times “The Genius of Dogs” (A Genialidade dos Cães, sem tradução brasileira).

Aquele bocejo que ele dá logo depois de você
Que bocejos são contagiosos você já sabia. Mas talvez não soubesse que o contágio é tão intenso que atinge até outras espécies. Da mesma forma que é só alguém bocejar na catraca para o ônibus virar um festival de bocas abertas, se você der aquela ventilada no cérebro na frente do seu cão ele provavelmente fará igual. A conclusão é de um estudo publicado narevista científica Biology Letters por veterinários da Universidade de Londres.

A preocupação que ele parece ter com crianças pequenas
Humanos têm tendência a cuidar dos filhotes de outros mamíferos. Isso é instintivo: um bebê cachorro tem traços similares aos de um bebê humano, como aqueles olhões simpáticos e a testa larga. E todo mundo quer cuidar de uma criança, afinal, elas garantem a continuidade da espécie. Acontece que a lenda de Rômulo e Remo não estava assim tão errada, e o oposto é verdade: os cães reagem ao choro de nossas crianças da mesma maneira que uma mãe preocupada. Na verdade, é um instinto compartilhado por todos os mamíferos. A revelação é de um estudo publicado na The American Naturalist por pesquisadores de duas universidades americanas

 

Cães interagem melhor com humanos do que com outros cachorros

Para especialista, isso ocorreu devido à domesticação desses animais ao longo dos últimos milênios

Sarah Marshall-Pescini, da Universidade de Viena, descobriu que os cães são terríveis em tarefas que exigem cooperação com outros membros da espécie. O mesmo comportamento não é notado nos lobos, o que leva a conclusão de que a convivência milenar levou esses animais a terem um relacionamento melhor com humanos do que com outros cachorros.
A ideia é que os antigos lobos começaram a interagir com pessoas para poderem obter comida e outros benefícios, e por isso começaram a agir de forma mais dócil. Dessa forma, as espécies evoluíram juntas e hoje a interação cachorro-humano é mais eficiente do que cachorro-cachorro.
“A ideia é que mudamos sua psicologia para transformá-los em seres super-cooperativos”, diz Marshall-Pescini ao The Atlantic. Mas isso só é verdade para seus relacionamentos com nós, seres humanos. Ao domesticar cães, prejudicamos seu instinto, fato que torna os lobos alguns dos melhores caçadores de quatro patas. “Eles se adaptaram ao nicho que nós criamos para eles, o que mudou sua socialidade”, completa a pesquisadora.
O processo fez com que esses bichinhos se desenvolvessem mais de acordo com a humanidade do que com a própria espécie, diferentemente dos lobos. Acredita-se que os antepassados dos nossos pets precisavam estar unidos para conseguirem caçar e sobreviver.
Cachorros podem ser treinados, entretanto. Quando cachorros são criados juntos, pode até haver um estranhamento inicial, mas logo eles começam a trabalhar em cooperação. O fato foi observado em um estudo de 2014 de Ljerka Ostojić, da Universidade de Cambridge.

O experimento
O experimento realizado foi o seguinte: trabalhando juntos, os cães tinham que puxar dois pedaços de corda para trazer um pedaço de comida ao alcance, o que não deu muito certo. No caso dos lobos, no entanto, foram muito mais bem sucedidos, superando em muito seus parentes domesticados.
Apenas um dos oito pares de cães conseguiu puxar a bandeja em apenas uma tentativa das várias feitas. Por sua vez, cinco de sete pares de lobos conseguiram. Mesmo depois que a equipe treinou os animais, o resultado ainda foi ruim: “Imaginamos que encontraríamos algumas diferenças, mas não esperávamos que elas fossem tão fortes”, diz Marshall-Pescini.
* Com informações Galileu

 

Cães usam expressões faciais para encantar

Os olhinhos pidões e a língua para fora do seu cachorro podem ser mais que um pedido de carinho. Uma pesquisa mostrou que, na realidade, os cães mudam de expressão facial para se comunicarem com os humanos.
Os cientistas descobriram que esses animais produzem mais movimentos faciais quando um humano está prestando atenção neles — incluindo levantar as sobrancelhas, fazendo com que seus olhos parecem maiores — do que quando estão sendo ignorados ou observando comida.
A pesquisa vai de encontro à crença de que esses são movimentos em grande parte inconscientes, que refletem sentimentos internos, em vez de uma forma de se comunicar. “A expressão facial é muitas vezes vista como algo emocionalmente orientado e fixo, e não algo que os animais podem mudar de acordo com suas circunstâncias”, afirma Bridget Waller, professora de psicologia evolutiva da Universidade de Portsmouth.
Segundo Brian Hare, professor e diretor do centro de cognição canina da Universidade Duke, essa é uma ótima descoberta para quem ama cachorros, pois mostra que não são tão interesseiros como se pensava anteriormente. “Essa pesquisa mostra que as expressões faciais que encontramos atraentes nos cães são feitas quando podemos vê-las — não quando estamos andando pela cozinha procurando um petisco para eles” disse.
Isso porque, de acordo com o especialista, os seres humanos evoluíram para terem maior sensibilidade ao contato visual e às diferentes “caras e bocas”. O que torna a adaptação dos cães totalmente compreensíveis, ainda mais levando em consideração que eles convivem com os humanos há 30 mil anos: “Durante esse tempo, as pressões de seleção parecem ter atuado na habilidade dos cães de se comunicarem com a gente”, conta Juliane Kaminski, que também trabalhou no estudo.

Acredite: você é mais importante que comida
A equipe de pesquisa britânica também fez experiências com pestiscos, para tentar entender se a mudança de expressão se dava por conta da pessoa ou do alimento. O resultado? A comida quase não fez diferença.
Mas isso não significa que eles não gostam de surrupiar um pouquinho do que você está comendo quando ninguém está prestando atenção. Um outro estudo de Kaminski provou que cachorros conseguem perceber quando a pessoa está prestando atenção — e usa os momentos de distração para “atacar” sua comida.