Como usar os medicamentos isentos de prescrição?

2015-04-10_190211

Saiba como recorrer aos remédios que não exigem receita para dor de cabeça, febre e afins (sem cair numa automedicação perigosa)

Quem nunca sacou um comprimido em casa ou no trabalho para se livrar de uma dorzinha ou qualquer outro embaraço passageiro? Esse uso pontual resolve a vida e, desde que feito com responsabilidade, é incentivado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Afinal, se todo mundo com um desconforto, nariz escorrendo ou enjoo corresse para o pronto-socorro, não haveria sistema de saúde que suportasse a demanda. É aí que entra o papel dos MIPs, sigla para medicamentos isentos de prescrição, aqueles que ficam à mão nas prateleiras das farmácias.
Segundo dados da consultoria global Iqvia, essa classe representa 31% do mercado farmacêutico como um todo. Entre os remédios mais vendidos estão os que tratam dores, febre, resfriados e problemas gastrointestinais, além de vitaminas e suplementos. É bem provável que você ou um familiar já tenham recorrido a pelo menos um dos três campeões de vendas por aqui até outubro de 2019, de acordo com a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma): o analgésico e relaxante muscular Dorflex, o antigripal Cimegripe e o anti-inflamatório em formato de emplastro Salonpas. Mas o que faz com que uma medicação receba aval para qualquer um de nós poder utilizá-la sem indicação médica? Em outras palavras, o que os MIPs têm em comum? Basicamente, a toxicidade reduzida nas doses terapêuticas e o histórico de uso seguro. Para entrarem nessa categoria, os medicamentos devem ter efeitos adversos com causas conhecidas e reversíveis após sua suspensão, baixo potencial de toxicidade e de interações medicamentosa e alimentar, período de uso bem determinado, fácil manejo, além de não causar dependência. Existem atualmente cerca de 50 substâncias aptas a serem MIPs, e o número deve aumentar.

Os MIPs e os remédios controlados
A embalagem identifica se o remédio é isento de prescrição e outras normas de controle

MIP: não tem tarja nem exige receita. Se houver dúvidas sobre o uso ou necessidade de orientação, você pode consultar o farmacêutico do estabelecimento.
Tarja vermelha: é um medicamento com contraindicações e efeitos colaterais. Há os que pedem receituário simples e os que têm a receita retida na farmácia, caso dos antibióticos.
Tarja preta: engloba fármacos que atuam no sistema nervoso, podem ter ação sedativa ou causar dependência. Exigem receituário especial (azul), retido na drogaria.
Tarja amarela: indica que é genérico. Tem o mesmo princípio ativo e eficácia da versão original, mas é produzido por outra empresa e tem o preço mais baixo.
um estudo da Associação Regional de Medicamentos de Venda Livre da América Latina atesta que, em 2018, 3 bilhões de dólares foram gastos por Brasil, Argentina, Chile, México e Colômbia em situações que poderiam ser sanadas com um MIP — só o resfriado correspondia a 45% desse total. É um custo passível de racionalização, ainda mais tendo em vista as limitações dos orçamentos públicos.

O que nunca fazer
Alterar a dose: nem a mais nem a menos. Siga à risca as instruções de uso e dose contidas na bula ou vindas do farmacêutico.
Acrescentar ou trocar: se já utilizar um ou mais remédios, veja com o médico se não há risco de interações prejudiciais com o MIP.
Cortar comprimido ou tirar o conteúdo da cápsula: interferir na estrutura afeta a ação e o risco de efeitos adversos.
Esquecer-se da validade: é comum deixar MIPs em casa. Mas cheque a validade para não tomar produto vencido.

Quando os MIPs podem ajudar
Mas como saber quando dá pra contornar um mal com um remédio desse tipo e quando é preciso visitar o consultório ou o posto de saúde? A resposta está naquela frase narrada no fim dos comerciais e que a gente quase nem ouve direito: se persistirem os sintomas, um médico deve ser consultado. O prazo é de, no máximo, três dias para evitar que a situação se complique. Se você seguir essa recomendação, nem precisa se preocupar achando que os MIPs irão mascarar sinais de algo mais grave. Geralmente, eles não são capazes de atenuar tanto os sintomas a ponto de esconder o problema e atrasar a resolução. Exemplo: se a dor de garganta for de origem bacteriana e precisar de antibiótico, a dor e o inchaço continuarão mesmo diante de analgésicos e anti-inflamatórios. Contudo, algumas pessoas devem ter precaução antes de comprar ou tomar qualquer produto vendido sem receita. Entram nesse grupo as gestantes, os idosos e os doentes crônicos (que já tomam outros fármacos). Nesses casos, existem riscos que vão de repercussões no desenvolvimento do bebê a interação medicamentosa, capaz de bagunçar o organismo. Mas é fácil resolver: basta consultar o médico e contar com o aval dele antes. Pois é, munidos de informação, conseguimos remediar melhor os perrengues que o corpo pode enfrentar no dia a dia.