Com apenas dois médicos, UPA registrou até dez horas de espera no atendimento no final de semana atendimento na UPA 24

2015-04-10_190211
Haviam mais de 60 pessoas aguardando há mais de 8 horas por um atendimento

Superlotação e falta de médicos revoltou pacientes na última semana. Crianças, idosos e até gestantes aguardavam atendimento, que por falta de profissionais, foi prejudicado

Mais de oito horas de espera por atendimento, apenas dois médicos atendendo e superlotação na UPA 24. Esse foi o cenário registrado pela equipe de reportagem da Gazeta na última quinta-feira, 25. Já passava das 20 horas e alguns pacientes aguardavam por atendimento desde o final da manhã daquele dia. Crianças, idosos, gestantes, todos na espera por uma consulta.
Com poucos profissionais e fechamento de alguns postos de saúde, os usuários foram remanejados para a UPA 24 horas, que congestionou irrritando os pacientes
O estudante Robson Massano, mesmo passando mal por mais de sete horas, aguardava por atendimento. “Eu cheguei às 13h15 e ainda não fui atendido, a situação está muito precária. É uma situação que tem que ser resolvida, porque quando perguntamos algo só nos dizem que temos que aguardar”, disse.
A situação de Nelva de Mari da Costa era similar a do estudante. Aguardando atendimento desde as 13 horas, a idosa relatou sobre o descaso com os pacientes. “Eu estou com dor de ouvido, e o dia inteiro sem comer e tomar água. Quando fomos nos informar com o guarda, ele apenas nos disse que a confusão foi com os médios da parte da tarde”, afirma.
Uma jovem que esperava desde às 12h50 também mostrou indignação com o tempo de espera. “Só nos dizem que é para esperar. É um descaso, e tu se sente um lixo porque eles não se importam e simplesmente colocam uma cor como se soubessem a dor que está sentindo. É um absurdo”, desabafa.
Maria Elena estava com o filho com 38 graus de febre e assim como os demais, há horas aguardava atendimento. “A situação está precária, eles fazem tudo com má vontade, como se estivessem nos fazendo um favor. É vergonhoso e muito triste saber que não estão se importando com a saúde do povo. Idosos, crianças e até uma gestante estavam esperando atendimento. Eles mesmo admitem que é normal passar de 7 horas esperando”, afirma.
Interior também com atendimento precário
O atendimento precário não é exclusividade da cidade. Na última semana as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) das localidades de São Pedro, São Valentin, 15 da Graciema, Tuiuty e Faria Lemos, voltaram a ter atendimento médico. O serviço não era oferecido desde o início do ano por falta de médicos. A crítica de alguns moradores é que apenas um médico efetuará os atendimentos e num único turno. A explicação pela falta de profissionais, segundo o secretário da Saúde, Diogo Siqueira, é que alguns médicos pediram demissão após a última greve dos médicos no início do ano.
O secretário não soube precisar quantos médicos saíram. Com isso, médicos que atuavam em UBSs foram deslocados para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), no bairro Botafogo, e no Pronto-Atendimento, no bairro São Roque. Ele garantiu que um profissional está atuando de maneira escalonada em cada localidade.
Entre jovens e idosos, a opinião converge. “Precisaria médicos pelo menos duas vezes por semana. Além disso, durante todo esse tempo quando precisávamos tínhamos que ir até a cidade. Muita gente que precisava de um atendimento tinha que ir até um pronto socorro”, lembra a aposentada Maria Rossato Reginato, de 72 anos.
O estudante Augusto Petroli, de 17 anos, é incisivo ao comentar sobre a falta de profissionais no interior. “É complicado para as pessoas que moram no distrito. Não é sempre que tem ônibus, aí complica bastante. Acho também que teríamos que ter médicos pelo menos duas vezes por semana”, comenta. Petroli desabafou ainda sobre o atual governo municipal.
“Eles falam em conter gastos, mas não enxergam o problema. Não deveriam cortar os gastos na saúde”.
Uma outra moradora de Faria Lemos também acredita que o atendimento médico deveria ser expandido para duas ou três vezes por semana, conforme ela mesmo diz. “Quando fomos para a cidade para realizar um atendimento nos obrigávamos a pegar um ônibus. Agora pelo menos vamos ter um médico, mas o ideal seria dois atendimentos por semana”, opina.
Adriana Tansine, 40 anos, também moradora de Faria Lemos, não esconde a decepção com a falta de profissionais. “Está muito difícil e eu sempre precisei do posto aqui de Faria Lemos. Nesse tempo sem médicos chegamos a ir quatro vezes até a cidade”, diz.
As críticas ao atendimento médico limitado é compartilhado também por uma moradora do Vale Aurora, que lembra de como funcionava o atendimento meses atrás. “É horrível ficar sem médicos. Pela importância dessa comunidade gente, precisaríamos de médicos até três vezes por semana. Antigamente tínhamos médicos durante toda terça-feira e também um turno da sexta”, lembra.
A moradora cita um outro problema criticado por pessoas da localidade: a falta de ônibus. Segundo informações dela, os horários são escassos, prejudicando quem depende exclusivamente do transporte público para realizar consultas. “Tem pessoas com diabetes ou crianças tinham que ir até São Roque. E são poucos horários de ônibus durante o dia”, critica.
O principal temor da moradora é que aconteça uma superlotação, já que haverá apenas um atendimento por semana em cada localidade. “São muitas pessoas e poucas fichas. É complicado até para quem tem plano. Durante esse tempo sem médico tive que pagar 230 reais de uma consulta particular, pelo fato de não ter médico”, lamenta.

Funcionários terceirizados
A greve dos médicos do início do ano aconteceu por atraso no pagamentos aos profissionais. A prefeitura atrasou o pagamento à Fundação Araucária, empresa responsável pela contração da maior parte da mão de obra da rede pública de saúde no município. Com o pagamento normalizado, a greve foi encerrada.
Conforme o secretário, o município está em um processo de reestruturação da saúde. O objetivo é, sistematicamente, substituir os profissionais da saúde terceirizados por concursados. Ainda segundo o secretário, desde janeiro foram chamados 30 servidores. Desses, seis são médicos.
A prefeitura também lançará editais separados para cada profissional de saúde.