Colunista | Conversas assertivas podem revolucionar seus relacionamentos

2015-04-10_190211

Viviane Tremarin – Psicóloga e Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental

Substituir nossos padrões de comunicação que consistem em defesa, recuo ou ataque por um que nos conecte, pode ser o passo que falta para tornar nossas relações extraordinárias. Quando alguém próximo a Jasmine tomava uma decisão que a envolvia sem a consultar, ela rapidamente bravejava: “você nunca pensa em mim antes de fazer as coisas!”. Essa fala levantava muros altos de defesa de quem a ouvia, e rapidamente se transformava em uma discussão, porque quem ouvia se sentia atacado e julgado, e partia para o contra-ataque.

Jasmine não sabia mais como resolver essa situação que a incomodava tanto. Ela só queria que alguém entendesse sua frustração diante do ocorrido e compreendesse a sua necessidade de ser consultada em algumas decisões. Mas Jasmine nunca disse que era isso que ela gostaria, “é óbvio que é isso que eu quero” ela dizia, mas Jasmine, o óbvio também precisa ser dito. Então ela aprendeu sobre comunicação não-violenta, e hoje, quando a situação se repete, ela calmamente diz: “quando você decide algo que me envolve sem me consultar, eu fico triste, pois eu gostaria de ser ouvida. Você poderia perguntar a minha opinião antes de tomar a decisão da próxima vez?”. O desfecho dessa nova forma de dialogar você mesmo pode imaginar se colocando no lugar de quem ouve. Qual expressão faz mais sentido para você? Qual delas promove a resolução de problemas? Qual delas aproxima e conecta as pessoas?

Comunicação não-violenta
A história de Jasmine não é real, mas poderia ser. Quantas vezes nos vimos agindo como ela no início da história e encontrando um caminho de desgaste e brigas nas relações com nossos pais, amigos, filhos e parceiros. O caminho para relações mais saudáveis e autênticas também está na forma como se diz o que se quer dizer. Felizmente, para isso não é necessário se sentar em baixo de uma árvore por anos como um monge enquanto encontra o verdadeiro significado da calma interior.

Alguém já pensou nisso e nos deu o passo a passo para encontrar no diálogo uma ferramenta de aproximação. A forma como nos comunicamos funciona, na maior parte do tempo somos capazes de nos entender. Porém, principalmente em situações de conflito, as conversas não parecem funcionar como deveriam ou nos levam a caminhos que só geram mais conflitos. Então nos distanciamos de pessoas que amamos e valorizamos por conta da má expressão do que queremos dizer. Mas sempre podemos pegar o desvio desse caminho e ir por outro que preza pelo respeito e compaixão pela pessoa que nos ouve.

A comunicação não-violenta, um método desenvolvido pelo psicólogo Marshall Rosenberg, é uma forma de comunicação que nos auxilia a expressar conscientemente o que estamos percebendo, sentindo e desejando, de forma que isso nos conecte com quem nos ouve, e não nos afaste. Para isso, é necessário sair daquela ideia de que sempre existe alguém certo e outro errado, para entrar na ideia de que existe aquilo que é mais importante para cada pessoa no momento. E como muitas outras situações da vida, uma comunicação assertiva exige autoconhecimento. É necessário refletir o que você gosta, o que quer, o que sente e estar aberto àquilo que nos torna humanos: a vulnerabilidade.

Os passos para evitar mal-entendidos
Para entendermos como Jasmine utilizou a comunicação não-violenta na sua resolução de problemas vamos observar os quatro componentes dela: 1) apenas observamos o que está acontecendo, tanto no externo quanto dentro de nós mesmos, e essa observação envolve uma percepção sem julgamentos. Estamos acostumados a nos comunicar julgando, fazendo interpretações, e uma forma de evitar esse tipo de comunicação é tomando cuidado com as palavras “sempre” e “nunca”. Quando Jasmine disse: “você nunca pensa em mim antes de fazer as coisas” ela estava fazendo um julgamento. Ela substitui por: “quando você decide algo sem me consultar” e assim faz apenas uma observação do ocorrido sem julgar. E qual a diferença de usar uma frase ou a outra? Bom, quando utilizamos de julgamentos na fala, a nossa comunicação tem um efeito contrário do que o esperado. E ao invés de nos conectar com quem nos ouve, ela gera uma reação defensiva que faz com que o outro não nos ouça para tentar se defender dos ataques.

O outro componente é 2) como estamos nos sentindo com isso que estamos observando? É importante reconhecer o que estamos sentindo, pois isso também será expressado. Diferente do que muitas pessoas acreditam, falar sobre o que estamos sentindo não demonstra fraqueza, mas faz com que a pessoa que está nos ouvindo se conecte com esse sentimento. E para isso precisamos aprender a diferenciar um sentimento de um pensamento. Quando alguém diz “sinto que você não me ama mais” está expressando um pensamento. Uma forma fácil de entender é lembrar que sentimentos não precisam acompanhar a frase “eu sinto”, podem ser expressos apenas com “estou triste”, por exemplo. Isso é importante porque quanto mais claros formos com quem nos ouve, melhor nos entenderão.

3) então precisamos entender quais necessidades nossas estão ligadas a esse sentimento. Podemos identificá-la nos questionando: “me sinto assim porque eu gostaria que…”. Quando nossa personagem diz “você nunca pensa em mim antes de fazer as coisas”, ela não está expressando a sua necessidade diretamente, mas quando diz “eu gostaria de ser ouvida”, está demonstrando qual necessidade sua está sendo negada. Quando expressamos nossas necessidades de forma indireta e usando julgamentos é provável que o outro interprete como uma crítica e passe para a autodefesa ou contra-ataque. E por último 4) fazemos um pedido específico. Depois de expressarmos o que estamos observando, sentindo e necessitando, fazemos um pedido específico.

É importante solicitar o que queremos que seja feito e não aquilo que não queremos. Jasmine poderia ter dito “você nunca mais vai decidir nada sem me consultar!” e estaria pedindo o que ela não quer que seja feito. Mas quando ela diz “você poderia perguntar a minha opinião da próxima vez?”, ela está fazendo um pedido direto daquilo que deseja que seja feito, e quanto mais claros formos sobre o que queremos, maiores são as chances de sermos compreendidos e atendidos. Essa forma de comunicação exige treino, como qualquer habilidade nova que estamos desenvolvendo. Estamos tão acostumados à nossa forma de falar que nem percebemos como a escolha de palavras pode ser um obstáculo que nos afasta dos nossos objetivos. A comunicação não-violenta permite a aceitação de cada pessoa como ela é, valorizando sua autenticidade e individualidade, e isso colocando em prática o bem mais necessário que temos, a empatia.