Cem famílias que invadiram área no Vila Nova pedem socorro na Câmara de vereadores

2015-04-10_190211
Famílias invasoras pedem socorro na Câmara de Vereadores

Na última segunda-feira, 14, a Gazeta esteve no local da invasão e conversou com os moradores. O bairro Vila Nova III passa por situação de calamidade. Há pouco mais de 20 dias mais de 100 famílias invadiram uma área verde para construir casebres. Mulheres e crianças dividem o espaço com o lixo. A situação caótica assusta moradores da localidade, que reclamam da presença dos invasores, que segundo eles, são na maioria, dependentes químicos. A sensação de insegurança, segundo relatos, obriga as pessoas ficarem dentro de suas casas. O cenário é de desolação. De um lado barracos expondo a pobreza em formato cru e visceral, do outro, moradores que se dizem ameaçados por traficantes. A opinião pública é dividida e o governo municipal não sabe o que fazer.
Moradores de uma casa das redondezas não quiseram se identificar, mas mostraram contrariedade com os invasores. “Vamos fechar com cerca aqui na frente, porque estamos com medo. Faz oito dias que aconteceu um tiroteio aqui. Tem até consumo de drogas nessas casinhas. Estamos nos mobilizando para ver o que fazer. Tem gente bem de vida que invadiu para não pagar nada”, protesta.
A proprietária de um mercado do bairro também mostrou contrariedade com a situação. Assustada, trabalha na maior parte do dia com a porta trancada. “Tem gente falando que está querendo ir embora do bairro, ninguém quer ficar aqui no meio de toda essa confusão. Temos a informação que tem gente do Novo Futuro, Vila Eucaliptos e do bairro Conceição. Se continuar assim estou pensando em fechar o meu estabelecimento porque a sensação de insegurança está muito grande. Temos que trabalhar muitas vezes com as portas trancadas”, lamenta.
Na quarta-feira, 16, uma audiência pública na Câmara de Vereradores que pretendia ouvir as reais necessidades das entidades benemerentes do município, teve um componente inesperado. mais de 30 faílias participaram da reunião e um representante peiu a palavra em nome das mais de 100 famílias invasoras do Vila Nova III. Portando cartazes, os ocupantes pediam direito à moradia. Como de praxe, poucos vereadores comparecem às públicas, mas os presentes se comprometeram em estudar a situação.
O Secretário de Habitação e Assistência Social, Márcio Pilotti, afirmou, nos instantes que precederam audiência pública, que está acompanhando o situação desde o início. Ele afirmou diversas vezes que se trata de uma invasão de área particular, mesmo sem ter certeza da situação legal. Repassou a informação que o proprietário do terreno está pedindo a reitegração de posse na justiça,. “Sabemos que existe outras invasões em área pública, e como prefeitura, entramos com pedido de reintegraçãode posse, e aguardamos a decisão do judiciário”, afirmou o secretário de habitação, sem lembrar a real função de sua secretaria.
Uma moradora do bairro, que não é invasora, mas está entre as os moradores do bairro que apoiam as faílias invasoras frisou no plenário que a população está desassistida, e criticou o governo de Guilherme Pasin. “Não tenho dinheiro, mas sangue na veia e suor na cara para ajudar quando precisarem. Peço que cada um que foi eleito pelo povo , que vá lá e bote o pé na terra, porque até hoje não foi ninguém lá para saber o que estas famílias precisam.
Peço para o secretário e as gurias da habitação retomem aquele antigo bom atendimento da ação social com mais humanidade. Hoje não temos mais acesso a ninguém das secretarias, está todo mundo sempre ocupado o tempo todo. Ninguém nunca pode atender a nós”, denuncia.

A voz dos invasores
Sem ter para onde ir, os sem tetos pedem socorro.Entre o ronco das motosserras e moradores tentando construir um brraco estão os voluntários, pessoas que dedicam o tempo para ajudar na obtenção de utensílios para a construção de cada metro quadrado. Lisiane Cavaleri, que já foi invasora, e há pouco tempo conquistou a garantia de uma casa própria, é uma das ajudantes.
A área está praticamente embaixo da rede de alta tensão da RGE. “Essa invasão começa inclusive no início do bairro, lá em cima no supermercado Quadri. Aqui praticamente todos foram invasores As pessoas que já estão aqui há anos só não são despejadas, porque além de indenizar essas pessoas, vão ter que colocar em outro lugar, é muita gente. Aqui onde estão estas cem famílias, , mulheres grávidas, crianças e pessoas trabalhadoras. É fácil os outros criticarem e condenarem sem ao menos conhecerem esse espaço”, critica Lisiane Cavaleri.
Vagner, depois do turno numa metalúrgica próxima do bairro, que tem casa própria, é uma é voluntário e apoiador, ajudando na coleta de materiais de contrução e mão de obra das casas na área invadida. Ele explica que o padrão dos terrenos invadidos é de 10×20 e que as pessoas seguiram como estava, inclusive fazendo encanamento para rede de esgoto até atubulação da rua. “Conseguiram canalizar o esgoto. O que é preciso agora é regularizar água e luz. As famílias precisam de madeira, zinco, tábua para fazer as paredes, tudo que é necessário para fazer uma casa de madeira, para não passarem frio e não se molharem”, ressalta.
O autônomo Marcos da Costa de 30 anos que também vive o drama de não ter uma moradia garantida acompanhou atentamente a audiência na Cãmara de Vereadores. Com mulher e dois filhos pequenos, ele reclamou que até então as famílias não receberam ajuda do poder público. “ Se nos despejarem de lá vamos ser obrigados a morar na rua. Eu tenho filho pequeno e não posso nem pensar numa situação dessas, é muito humilhante”, se emociona.
O desempregado Rodrigo Ibanos, de 32 anos, compartilha o drama das outras famílias assentadas. Na mesma situação do companheiro de terreno, ele reclama que nenhum vereador foi lá ouvir sobre as necessidades.
“No momento estou fazendo um puxadinho para garantir minha casa. Nós precisamos de água, luz, mas até agora não temos nada”, . Acompanhando a audiência pública da Câmara de Vereadores, o desempregado não escondeu a ansiedade sobre a situação. “Queremos ficar lá, e queremos o quanto antes que essa história acabe de forma feliz. A maioria das pessoas estão em barracas, e quando chove alaga tudo. Agora queremos esgoto, para termos ao menos um banheiro e fazermos as necessidades. Até agora ninguém nos ajudou com doações”, afirma.
Desempregado, Maranhão relatou o drama de viver num casebre. “Estou participando da invasão e estou desempregado no momento, tenho uma esposa e dois filhos. Estamos na luta tentando um lugar pra gente. Se eu perder isso não tenho mais nada. Aqui é uma comunidade, com grávidas e crianças. Aqui todos se ajudam”, conta.