Casal de Tuiuty produz o primeiro vinho colonial legalizado do Brasil

2015-04-10_190211

Produtores rurais contam também sobre o resgate de uma cepa antiga, batizada por eles como “Isabel cinza”

Depois de um processo de cinco anos, o casal Auri e Diva Flâmia, moradores da Linha Ferri, em Tuiuty, conquistou o primeiro certificado de agroindústria de vinho colonial do país (Piccola Cantina). Ou seja, poderá vender legalmente a bebida em feiras e na propriedade. Segundo eles contam, o vinho era produzido para consumo próprio, mas as pessoas que provavam sempre queriam mais. “Foi despertando aquela vontade de fazer para vender, gerar um lucro. Afinal, vender somente a uva para as grandes cantinas não está dando para se manter muito”, comenta Diva.
Tudo começou quando participaram de um festival de vinho colonial, a convite da Emater. “No começo, resistimos um pouco. Achávamos que não daria certo, mas, por ser o que gostávamos de fazer, acabamos entrando. E procuramos legalizar o comércio do vinho, porque tudo o que é ilegal tem um risco”, acrescenta a produtora.
Ela salienta que o casal precisou se adequar a muitas normas para obter o certificado e que não sabe ao certo o quanto foi investido, mas que o valor supera R$70 mil. Um dos ajustes foi no local onde a bebida é produzida, que recebeu algumas obras, além da compra de maquinário moderno. “Colocamos pias em cada espaço. Adequamos a sala de depósito e lavagem de garrafões, o piso ao redor da cantina, implantamos o tratamento de efluentes de água, entre outros”, explica Diva.

Produção em 2018
Auri Flâmia afirma que, apesar do limite de produção ser 20 mil litros, neste ano será produzido 16 mil litros. “Mas em 2019 já alcançaremos o limite”, enfatiza. O agricultor comemora o certificado. “Foi uma grande felicidade recebê-lo. Lutamos muito para isso. Quando achávamos que estava tudo pronto, vinha mais uma coisa para acrescentar”, relembra. Além de aumentar a produção, Flâmia ainda pretende investir em uvas finas para produzir vinhos igualmente finos, tal como a moscato.
A família possui 16 hectares de plantação de uva e a safra, que já está acabando, deverá alcançar 200 toneladas. Entre os cultivares estão Isabel, Lorena, Bordeaux e Niágara. O número é menor que em 2017, quando fechou em 305 toneladas. No entanto, Auri avalia que a qualidade está melhor em 2018.
Para cuidar das videiras, o casal tem um ajudante durante o ano todo e cerca de dez pessoas que trabalham temporariamente na colheita,. Tanto Auri quanto Diva foram criados no interior, mas não incentivaram as duas filhas a ficarem no campo e elas moram em Bento Gonçalves, onde seguem carreiras opostas à atividade rural. “A vida aqui é muito sofrida”, comentam.

Isabel Cinza
Uma das curiosidades sobre a produção dos Flâmia, é que eles resgataram na propriedade uma cepa de uva que era produzida há mais de um século, mas que depois foi descontinuada. “Temos um pé de parreira de mais de cem anos no qual começou a ‘Isabel cinza”. Só um galho produz ela, o outro já é a normal de cor preta”, explica Diva. É com esta uva, que de fato é de cor cinza quando madura, que eles fazem o vinho de Isabel Branca. Eles que batizaram-na como Isabel Cinza, mas não conseguiram registrá-la oficialmente com o nome. “É o gosto da Isabel, mas o vinho fica branco, como se tivesse sido feito com a Niágara. Fazemos 2 mil litros deste vinho há dois anos. Ele não tem acidez e todo mundo está gostando”, finaliza Auri.

Como legalizar a produção e comercialização do vinho colonial
(Lei Municipal nº 5553, de 26 de fevereiro de 2013)
Produtor rural poderá comercializar até 20.000 litros de vinho por ano na propriedade e em feiras.
É proibida a venda em estabelecimentos comerciais
Necessária a habilitação sanitária do estabelecimento agroindustrial familiar rural de pequeno porte
A mão-de-obra deve ser do núcleo familiar
Necessário laudo de potablididade de água (emitido por laboratório credenciado)
Alvará Sanitário da propriedade
Área de produção não deve ser maior que 250m2
A Emater é fiscalizadora do projeto, e por lá o agricultor pode encaminhar os projetos.
Talão de produtor rural.
Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar- DAP/ Lei nº 11.326/2006