Campanha incentiva doação de leite humano, mas as UBS’s não continuam com projeto do Cantinho da Amamentação

2015-04-10_190211

Brasil possui a maior rede de banco de leite do mundo, com 221 unidades e 186 postos de coleta

O Ministério da Saúde e a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano lançaram na última semana a campanha “Doe Leite Materno” de 2017, com o slogan “Um pouquinho do que você doa, é tudo para quem precisa”, que tem como objetivo incentivar a doação de leite humano. Segundo o Ministério, o banco de leite é um centro especializado ligado a hospitais materno ou infantil que realiza as coletas de leite e também promove o aleitamento de outros bebês.
O leite doado é analisado, pasteurizado e submetido a rigoroso controle de qualidade antes de ser ofertado a uma criança. De acordo com especialistas, um litro de leite materno pode alimentar até 10 recém-nascidos por dia.
Como o leite é destinado para prematuros ou pacientes em UTIs neonatais, existe um controle rígido da saúde da doadora, que não pode tomar medicamentos que interfiram na amamentação e na doação. Além disso, é recomendado que a mulher evite bebidas alcoolicas, cigarros e dietas rigorosas para emagrecimento. É completamente vetado o uso de drogas como maconha, crack e cocaína.
O Ministério da Saúde lança a campanha de doação de leite anualmente e informa que a doação de leite humano representa uma economia de R$ 180 milhões para o país com a diminuição da necessidade de compra de fórmulas artificiais para recém-nascidos prematuros nas maternidades do Sistema Único de Saúde (SUS). O Brasil possui a maior rede de banco de leite do mundo, com 221 unidades e 186 postos de coleta.
Em Bento Gonçalves, entretanto, de acordo com a Assessoria de Imprensa do Hospital Tacchini e a Secretaria de Saúde, não há um banco de leite humano. Em nota, a Assessoria do Tacchini explica que “existe a possibilidade da mãe retirar o próprio leite para poder alimentar seu filho, quando este está internado. Não temos um banco de leite”. Segundo a nutricionista do hospital, Fernanda Dalle Laste, há o “estímulo do aleitamento materno.
Nossa sala de coleta tem como missão incentivar, promover e apoiar o aleitamento materno. Assim que liberada, a mãe para vir à sala de coleta onde iniciamos esse trabalho. Na impossibilidade da criança receber leite materno servimos fórmulas infantis específicas para prematuros”, esclarece. Assim como o hospital da cidade, o Materno Infantil também trabalha estimulando o aleitamento, e igualmente indica as fórmulas para as mães que não conseguem amamentar.
No Estado, conforme a Rede Brasileira de Leite Humano, existem oito bancos de leite humano, sendo cinco em Porto Alegre e três em outras cidades (Bagé, Rio Grande e Ijuí). Para a mãe bento-gonçalvense que deseja doar seu leite, o ideal é armazenar em local fresco, e se deslocar até o banco mais próximo, que é na Capital.
O banco do Hospital São Lucas, funciona desde fevereiro deste ano. As nutricionistas Vanessa dos Santos e Rita Rocha da Silva, que auxiliam no processo, explicaram que anteriormente, assim como em Bento Gonçalves, só era usado o leite da mãe para o filho. “Com a liberação da pasteurização, nós podemos receber doações e, pasteurizados, doar para as outras crianças.
Se a mãe não tivesse leite, usávamos a fórmula”, conta Rita. Para Vanessa, o leite materno é uma opção melhor, “o materno e o do banco é bem mais saudável. A gente consegue suprir as necessidades do recém-nascido ou a do bebê um pouco maior. O leite possui propriedades que a fórmula ainda não tem”, completa.
Para doar no Hospital São Lucas, é recomendável, segundo as nutricionistas, armazenar o leite em um recipiente de vidro, com tampa de plástico e tampa de rosca, além de protegê-lo em uma bolsa térmica. O leite deve ser congelado e o mínimo de volume a ser doado é de 100ml. Ou também, a mãe pode retirar o leite no hospital. É imprescindível que a ela leve a carteira do pré-natal, que contém todas as informações de exames, etc.
Rita lamenta que a concentração de bancos de leite no Estado esteja mais na Capital, “em Porto Alegre temos bastante, no interior é bem difícil de ter. E são muitas mãe que produzem excedente de leite”. Vanessa concorda, “se a mãe não tem banco de leite em sua cidade, se ela não tem a informação de que ela pode doar, este excedente acaba sendo jogado fora. É preciso passar para elas este conhecimento”.
A equipe do Banco de Leite tem um rigoroso processo para armazenar, selecionar e auxiliar as mães na retirada. Segundo Rita, o que dificulta a implantação de mais bancos poderia ser a legislação bastante exigente e o valor dos equipamentos.

 Apesar de certificado, UBS’s fornecem poucas informações sobre aleitamento materno

O aleitamento materno fortalece o vínculo entre mãe e filho e ainda protege a saúda da criança, reduzindo a mortalidade infantil. De acordo com a Portaria de Nº 1.920 de setembro de 2013, foi determinada uma Estratégia Nacional para a Promoção do Aleitamento Materno no Sistema Único de Saúde (SUS), considerando a “baixa prevalência de aleitamento materno exclusivo entre as crianças menores de seis meses de idade, a baixa duração do aleitamento materno total”. Além disso, instituiu o aprimoramento das competências e habilidades dos profissionais de saúde para a promoção do aleitamento materno nas UBS.
A Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil em âmbito municipal é coordenada pela Secretaria Municipal de Saúde, que é responsável, entre vários itens, também selecionar os tutores responsáveis pelas Oficinas de Trabalho em aleitamento materno e alimentação complementar nas UBS; fornecer apoio técnico às equipes de atenção básica para a consecução da Estratégia; informar ao Estado a solicitação de certificação das equipes elegíveis; pactuar ações que promovam, protejam e apoiem a amamentação e alimentação complementar saudável; envolver na Estratégia no mínimo 85% da equipe de atenção básica.
Em Bento Gonçalves, de acordo com informações do site da prefeitura municipal, a Secretaria da Saúde criou o Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno (GRAM) em 2009, “e desde então vem trabalhando fortemente as ações de promoção da Amamentação”. De acordo com a notícia, publicada em agosto de 2013, as atividades não ficariam restritas somente a agosto, o mês estipulado por Lei (Lei 13.435/2017) como o da amamentação. “Realizamos oficinas em todas as unidades de saúde, orientando os profissionais sobre os aspectos socioculturais da amamentação, técnicas de aconselhamento e de manejo dos problemas comuns da Amamentação”, destaca a nota.
Ainda, segundo a publicação, em 2013, as atividades realizadas em apoio à amamentação foram a disponibilidade de um cantinho de amamentação e orientação em sala de espera. O Cantinho da Amamentação é uma recomendação do Ministério de Saúde, instituído em várias cidades brasileiras.
O projeto trabalha as linhas da Educação e Promoção da Saúde, proporcionando mudanças de comportamento e conscientização da população em relação ao aleitamento materno além de quebrar paradigmas e tabus que giram em torno do assunto. A proposta é desenvolver um espaço acolhedor para as mães, filhos e parceiros. De baixo custo, o cantinho precisa de uma poltrona confortável e um profissional a disposição para casos de dúvidas.
Em 2015, a Prefeitura Municipal de Bento emitiu uma nota sobre o cantinho da amamentação na UBS do Bairro Santa Helena. Para a Semana Mundial do Aleitamento Materno do corrente ano, a UBS teria tornado o “cantinho da amamentação, existente desde 2012, em um espaço ainda mais aconchegante e harmonioso. O objetivo é tornar o momento ainda especial e de profunda interação entre a mãe e o seu bebê”. A reportagem da Gazeta esteve no local para tentar conhecer este cantinho da amamentação, mas foi informada de que ele não existe mais na Unidade. A atendente disse saber que já existiu, mas não soube informar o porquê de não ter e desde quando não tem.
A reportagem buscou conhecer algum outro cantinho na cidade, entretanto o Cantinho da Amamentação também não foi encontrado na UBS do Bairro Progresso, “ainda aqui não tem, estamos sem a enfermeira, está de férias, ela volta na sexta-feira. Só a enfermeira poderia dar informações”, disse a recepcionista do posto.
A unidade de saúde do bairro Ouro Verde, de Bento Gonçalves que recebeu a certificação do programa Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no Sistema único de Saúde (SUS), o Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB), em 2016, igualmente não tem o ambiente, mas informou que o cantinho poderá retornar em agosto. Para receber a certificação, a unidade de saúde precisou desenvolver ações para a promoção do aleitamento materno e alimentação complementar, como criar grupo de gestantes, orientação em sala de espera, entre outras.
Entretanto, a reportagem encontrou o cantinho da amamentação no Centro de Referência Materno Infantil (CRMI), no qual há somente uma poltrona no corredor do segundo andar. Na Unidade Básica de Saúde do Bairro Licorsul, também funciona a proposta desde 2013. O canto fica localizado no fundo do corredor de espera e, segundo uma enfermeira da unidade, ele fica disponível às mães durante todo o ano. Porém, a responsável pelo local alegou ter que atender e por isso não se sentia a vontade em falar com a reportagem. Ela salientou diversas vezes que para fotografar o local seria necessária uma autorização, e inclusive ligou para a Secretaria da Saúde para confirmar a necessidade da autorização para confirmar o que a prefeitura divulga em seu portal como um conquista.