Campanha discute viticultura e enologia em simpósio para conquistar a Indicação de Procedência

2015-04-10_190211

Nos dias 3 e 4 de maio, A Embrapra Uva e Vinho, em parceria com o Ibravin reuniu em Santana do Livramento, 24 pesquisadores que apresentaram trabalhos para colaborar com a conquista da Indicação de procedência da Camapanha Gaúcha para um público de mais de 240 pessoas entre produtores, técnicos, estudantes e empreendedores

O Simpósio se destacou pela importância o conteúdo técnico-científico , aliado à multidisciplinariedade dos resultados que apresentados com objetivo de conquistar a Indicação de Procedência da Campanha Gaúcha. René Ormazabal, presidente da Associação de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha, ressaltou que foi necessário elaborar um dossiê da IP da Campanha Gaúcha: “no Brasil são cinco IPs na Serra Gaúcha sendo esta a sexta indicação do RS e primeira de vinhos da Campanha, fora da região da Serra”. Para Ormazabal talvez 40 anos sejam pouco tempo desde que chegaram os americanos da Almadén mas o empresário destaca o clima propício, ótima insolação, sistemas de condução modernos, profissionais capacitados e diversos vinhos demonstram qualidade e a tipicidade dos vinos da região.
O chefe geral da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Zanus, destacou que há enorme investimento na Campanha Gaúcha para encontrar soluções tecnológicas e qualificar a imagem, melhorando a tecnologia com certificação internacional.

I Simpósio da Região da Campanha
Promovido pela Embrapa Uva e Vinho e Ibravin o simpósio foi criado para ser realizado serialmente, nas diferentes regiões produtoras de vinhos do Brasil, em parceria com as instituições regionais do setor vitivinícola. Os assuntos abordados nos dois dias envolveram três temáticas básicas: trabalhos de pesquisa, inovação nos sistemas de produção da região Vinhos de Campanha; constituição dos regulamentos de uso e normativas da indicação de procedência dos Vinhos da Campanha Gaúcha. “ Trata-se de um trabalho em conjunto com empresas vinícolas da região. Outro tema importante do evento é o trabalho de finalização da indicação de procedência que vai levar à uma qualificação da imagem dos vinhos da região proporcionando maior competitividade” , destaca Zanuz. Todos os passos e cuidados que os vitivinicultores têm que seguir foram abordados nos dois dias do evento por pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho, professores universitários e especialistas na área. A Embrapa Uva e Vinho e o Ibravin logo vão disponibilizar em seus sites as apresentações feitas durante esses dois dias, prometeu.

Temas abordados no
Simpósio
Adubação, manejo de plantas de cobertura em vinhedos, manejo da poda, brotação, pragas e doenças, balanço hidrico, as cultivares de uvas Vitis vinífera adaptadas à região, os compostos fenólicos e atividade biológica fizeram parte da programação.
*Gustavo Brunetto, agrônomo e professor da UFSM, falou sobre a nutrição de plantas voltadas à viticultura recomendando a adubação e uso de plantas de cobertura para os vinhedos cultivados em solos arenosos como o da campanha.
*Danilo Rozane, engenheiro agrônomo e professor da Unesp e UFPR, apresentou o balanço nutricional da videira, através do uso do software CND (Diagnóstico de Composição Nutricional) que pode ser encontrado no site www.registro.unesp.br. A planta é um sistema fechado. O equilíbrio da planta depende do balanço nutricional. Vou aplicar nutrientes que vão se relacionar com o crescimento da videira. Boro, enxofre, magnésio, cálcio, potássio, fósforo – se um desses componentes falhar é consequência para os demais.
*Marcos Botton, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho comentou sobre os principais insetos e ácaros pragas que ocorrem na região da Campanha e como fazer o seu controle, como a traça-dos-cachos através de novos inseticidas químicos e biológicos recentemente autorizados para o uso na cultura. Comentou também sobre a importância de estar permanentemente alerta para a possibilidade de introdução de novas espécies pragas por estar numa região de fronteira incluindo as cochonilhas farinhentas (vetor de vírus) e a traça europeia dos cachos que ocorre na Argentina e Chile. O pesquisador também destacou que a região tem uma baixa incidência de insetos e ácaros pragas fazendo com que os produtores tenham condições privilegiadas de manejo visando sustentabilidade.
*Fábio Cavalcanti, agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, apresentou os fungos causadores de podridões de tronco da videira através de análise de DNA e o controle químico adotado pelas vinícolas da Região da Campanha Gaúcha.
*Gilmar Marodin, agrônomo e professor da UFRGS, trouxe informações sobre os sistemas de poda e brotação da videira na região da Campanha. Em quatro anos foram feitos estudos sobre o manejo da poda nas principais cultivares com potencial vitivinícola na região com destaque para Cabernet, Merlot, Tannat, Chardonnay e Viognier.
*Foi apresentado um estudo sobre a relação das moléculas do aroma do vinho e o manejo da videira. Cláudia Zini, química e professora da UFRGS, analisou a composição dos vinhos Merlot em função do manejo dos vinhedos, empregando técnicas instrumentais modernas, técnicas sensoriais e manejo fitotécnico.
*O solo da região da Campanha se diferencia em termos de elementos químicos e composição. Celito Guerra, agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, relatou a experiência de estudar o potencial enológico de uvas de variedade pouco ou ainda não plantadas na Campanha e o resultado das características químicas e sensoriais dos vinhos obtidos no experimento. Foram selecionadas seis variedades de uvas brancas e quatro variedades de uvas tintas como sendo as mais promissoras para a produção de vinhos finos na região.
*Letícia Flores da Silva, farmacêutica e analista da Embrapa Uva e Vinho, mostrou os compostos fenólicos presentes nas uvas e vinhos finos e da Campanha Gaúcha e sua atividade antioxidante. Esses compostos foram quantificados para classificar os vinhos de diferentes variedades, microrregiões, safras e processos de vinificação. Para tanto, foram desenvolvidos e validados métodos e análises.
*Daiana Silva de Ávila, farmacêutica e professora na Unipampa, sede Uruguaiana apresentou a atividade antioxidante de compostos fenólicos de uvas e vinhos em um nematoide (Caenorhabiditis elegans).
*A questão clima é essencial e não foi esquecida, além é claro, da questão do solo e geologia. Maria Emília Borges Alves, engenheira agrícola e pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho, esclareceu a caracterização de risco e potencial climático para a produção vinícola na região da Campanha Gaúcha. As condições climáticas são determinantes para a produção vinícola. A abordagem considerou índices que são indicativos do potencial vitivinícola ou de eventuais riscos que possam acometer os vinhedos e refletir na qualidade do vinho a ser produzido.
*Everton Blainski, agrônomo e pesquisador na Epagri, exibiu uma plataforma de monitoramento agrometeorológico que tem uma interface para a região, a ferramenta Agroconnect, que faz a difusão de avisos e alertas agrometeorológicos.
*Rosemary Hoff, geóloga e pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho, mostrou a geologia como formadora de diferentes Terroir, gerando relevos diversos e tipos de solo. O trabalho foi detalhado em 12 locais de concentração de vinhedos na região vitivinícola da Campanha. Foram mostrados monumentos geológicos associados à paisagem como o Cerro Palomas que pode ser utilizado no enoturismo e estratégias de marketing dos produtos.
*Heinrich Hasenack, geógrafo e professor da UFRGS, aprofundou a caracterização e mapeamento do solo e relevo combinando metodologias de levantamento convencional com geoprocessamento e análise digital. Com isso fez uma avaliação da aptidão edáfica para viticultura em toda Campanha Gaúcha.

*Mauro Celso Zanus, agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, apresentou a caracterização sensorial qualitativa e quantitativa de cor, aroma e paladar através do estudo de amostras de diferentes safras (2004, 2005, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012,2013) de vinhos branco, rosé, tinto e espumante de vinícolas da região.
*Joélsio José Lazzarotto, médico veterinário e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, fez uma análise das características sócio-econômicas e tecnológicas da viticultura da Campanha trazendo vários questionamentos, com destaque para o tipo de empreendimento, se é familiar, empresarial ou outro; se a finalidade é produção de uva, vinho ou suco; se o destino é para industrialização, própria ou para terceiros; qual é o investimento e qual o custo de produção.
*Ivanira Falcade, geógrafa e professora na UCS, trouxe a questão de território e identidade, apresentando a organização do espaço e a construção do território na história da região da Campanha chegando à Indicação de Procedência.
*Jorge Tonietto, agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, apresentou o Regulamento de Uso da Indicação de Procedência da Campanha Gaúcha para vinhos tranquilos e espumantes, o documento para que o vinho possa ser aprovado como sendo um produto de IG e os padrões de normatização.
*Giovani Silveira Peres, agrônomo, apresentou a Associação de Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha e as vinícolas que a compõem e o Conselho Regulador de Indicação Geográfica para a região da Campanha.
*Renata Zocche, agrônoma e professora da Unipampa aprofundou a questão do Regulamento de Uso do IP da Campanha em todo processo produtivo da vitivinicultura: na inscrição do produto, coleta de amostras, avaliação sensorial, elaboração por terceiros e a responsabilidade da Associação nesse processo.
*Kelly Lissandra Bruch, advogada e professora da UFRGS, discorreu sobre o registro de Indicação de Procedência junto ao INPI e a Indicação Geográfica, os documentos necessários e os trâmites a serem cumpridos.