Bento Gonçalves já registrou 10 suicídios em 2017, um a mais que todo no ano passado

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Suicídios são a 4ª principal causa de morte dos jovens do município entre 10 e 19 anos

O tema suicídio é visto como tabu na mídia, mas a divulgação inédita de um boletim, feita pelo Ministério da Saúde na quinta-feira passada (21), serviu como alerta para a população de que esse é um problema de saúde pública a ser combatido. A publicação é concomitante com o “Setembro Amarelo”, mês de prevenção do suicídio.
Segundo a Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde de Bento Gonçalves até esta segunda-feira (25), já foram registrados 10 casos no município. O número é maior que em 2016, que durante todo o ano teve 9 casos. Por outro lado, em 2015 foram 15. O setor consultou o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) para fazer a análise de 37 anos (de 1980 a setembro de 2017) e o Sistema de Informações sobre Intoxicações (SININTOX) que capta os casos de tentativas de suicídio (período de 2000 a 2017) e de ideação suicida (período de 2003 a 2017).

Comportamento Suicida
O comportamento suicida compreende três eventos que estão interligados: a ideação suicida, a tentativa e o suicídio propriamente dito. “Os suicídios refletem apenas uma pequena parcela do impacto do comportamento suicida”, afirma o enfermeiro José Rosa, da Vigilância. “A maioria dos municípios e regiões dispõe apenas de dados sobre suicídios, o que não permite dimensionar a total extensão do problema”, acrescenta. “Em Bento Gonçalves, a Vigilância Epidemiológica, através da busca ativa, capta os casos de ideação (desde 2003) e de tentativa de suicídio (desde 2000) atendidos no principal serviço de urgência público, o que permitiu construir o perfil epidemiológico do comportamento suicida no município”, registra Rosa.

“Iceberg” dos Eventos Suicidas
Entre 2000 a 2017, ocorreram 204 suicídios, 2.667 tentativas de suicídio e 1.446 ideações suicidas no município, totalizando 4.317 eventos suicidas. Os eventos suicidas formam um “iceberg”, onde os suicídios representam a ponta, a parte menor, mas que chama mais a atenção, devido ao seu forte impacto.
Eles correspondem a 4,7% do total de eventos suicidas. Na base submersa desse “iceberg” encontram-se as tentativas de suicídio, com 61,8% do total de eventos suicidas. A parte intermediária é representada pelas ideações suicidas, com 33,5% do total de eventos. Na cidade, o número de tentativas de suicídio é 13 vezes maior que o número de suicídios.

Bento Gonçalves em números
No município foram registrados 371 suicídios nos últimos 39 anos, o que faz uma média de 10 bento-gonçalvenses por ano. Esta é a 15ª principal causa de morte da população.
Os índices médios de suicídio do município foram de 11,50/100.00 na década de 80, 10,48/100.00 na década de 90, 11,31/100.00 na década de 2000 e de 10,69/100.00 nos primeiros oito anos da década de 2010-2017, uma redução de 5,5% em relação à década anterior.
No ano de 2015, dos 19 municípios gaúchos com mais de 100.000 habitantes, Bento Gonçalves registrou o segundo maior índice (13,2/100.000), ficando atrás apenas de Passo Fundo (17,8/100.000). Neste ano, o índice gaúcho resultou em 10,1/100.000.
Em Bento Gonçalves, 82% dos suicidas são homens, sendo a 11ª causa de morte masculina e a 30ª causa de morte feminina. Os homens cometem suicídio cinco vezes mais do que as mulheres. Entre as vítimas de suicídios, 7,2% têm menos de 20 anos, 77,6% têm entre 20 a 59 anos e 15,2% são pessoas com 60 anos e mais.
Os índices suicidas na população menor de 20 anos caíram cerca de 50% desde a década de 80, passando de 7,1 para 3,6 mortes para cada 100.000 habitantes. Apesar disso, o suicídio representa a 4ª principal causa de morte dos jovens bento-gonçalvenses de 10 a 19 anos.
Entre os adultos-jovens de 20 a 39 anos, e os adultos de 40 a 59 anos, os suicídios representam a 3ª e a 5ª causas de morte, respectivamente. Para os idosos de 60 anos e mais, os suicídios correspondem a 28ª causa de morte. É na população de 50 a 59 anos e de 40 a 49 anos onde são encontrados os maiores índices de suicídio: 19,4/100.000 e 18,4/100.000, respectivamente.
Esses dados permitem fazer uma análise de que o suicídio é um fenômeno característico da população masculina acima dos 40 anos de idade.

Métodos Usados pelos Suicidas
O enforcamento (53,7% dos casos) e as armas de fogo (23,8%) são os métodos mais usados pelos bento-gonçalvenses para cometer o suicídio. Estes dois métodos também são os que predominam no Estado. A autointoxicação (14,7% dos casos), seja pela ingestão de pesticidas, de produtos químicos ou de medicamentos, é o terceiro meio mais utilizado pelos suicidas.
Os homens tiram a própria vida, principalmente, através do enforcamento e das armas de fogo, enquanto que as mulheres o fazem através do enforcamento e da autointoxicação (por pesticidas, produtos químicos, e medicamentos).

Tentativas de Suicídio
No município, a cada ano, 152 pessoas são atendidas no serviço público de urgência, porque tentaram tirar as próprias vidas. O número de tentativas de suicídio é 13 vezes maior que o de suicídios.
O índice de tentativas de suicídio aumentou 4,3%, passando de 143,6 para 149,9/100.000 habitantes, entre as duas últimas décadas. As mulheres bento-gonçalvenses tentam suicídio 3 vezes mais do que os homens, respondendo por 74,2% do total das tentativas.
Entre os tentadores, 19,1% têm menos de 20 anos, 57,9% têm entre 20 a 39 anos e 23,0% são pessoas com 40 anos e mais. Esses dados permitem caracterizar a tentativa de suicídio como um fenômeno mais frequentemente encontrado na população feminina abaixo dos 40 anos.
O método mais usado pelos tentadores de suicídio é o envenenamento por substâncias (90,7% dos casos), principalmente, através da ingestão de medicamentos. Os medicamentos mais usados são os que têm ação sobre o sistema nervoso, destacando-se os benzodiazepínicos, os anticonvulsivantes, os antidepressivos e os psiquiátricos.
Lâminas para mutilar o corpo (pulsos, por exemplo) e cordas e fios para tentar se enforcar correspondem a outras duas maneiras utilizadas pelos tentadores.

Ideação Suicida
A ideação suicida é a presença de pensamentos ligados ao desejo de se matar. Pode evoluir para a tentativa de suicídio e para o suicídio consumado. Em Bento Gonçalves, o número de pessoas atendidas devido à ideação suicida passou de 45, entre 2005 a 2009, para 198, em 2016, um aumento de 340%.
Neste ano, o total de ideações suicidas foi 18 vezes maior que o número médio de suicídios e 1,3 vezes maior que o número médio de tentativas de suicídio registrados no município.
O número de mulheres bento-gonçalvenses atendidas com pensamento suicida é 1,4 vezes maior do que o de homens. Elas respondem por 58,7% do total de ideações. A maioria dos idealizadores (68,7%) tem mais de 30 anos de idade. Os jovens menores de 20 anos responderam por 7,4% dos pacientes que manifestaram pensamento autodestrutivo.
Os índices de ideação suicida aumentaram expressivamente em todas as faixas etárias. Os dados caracterizam a ideação suicida como um evento que afeta, quase que igualmente, os homens e as mulheres, acima dos 30 anos de idade.

Casos no país
No Brasil, os índices de suicídio aumentaram 56,2%, passando de 3,45 óbitos por 100.000 habitantes na década de 80, para 5,23 por 100.000, nos primeiros seis anos da década de 2010-2015. Apesar disso, o índice brasileiro é considerado baixo, se comparado a de outros países onde ultrapassa 15 casos por 100.000. No país, a cada hora, um brasileiro tira a própria vida. Segundo a Organização Mundial da Saúde, em todo o mundo, o suicídio ocorre a cada 40 segundos.
Esta é a 21ª causa de morte no Rio Grande do Sul, com uma média de 10,1 casos para cada 100.000 habitantes. No estado, os índices são considerados de valor intermediário, ficando atrás, apenas, dos índices de Roraima. A cada dia, 3 gaúchos tiram a própria vida, a maioria através de enforcamento (71,6% dos casos).

Prevenção do Suicídio
Para Rosa, o que as pessoas que pensam, tentam ou acabam com a própria vida têm, em comum, é o fato de estarem passando por um sofrimento que julgam ser insuportável, e para o qual, naquele momento, não vêem outra saída que não seja a morte. “Por isso, uma tentativa de suicídio deve ser sempre vista como um pedido de ajuda. Nem sempre é possível prevenir um suicídio. Entretanto, não se trata de evitar todos os suicídios, mas, sim, aqueles que puderem ser evitados”, indica. “É fundamental garantir o suporte emocional para as pessoas em risco de suicídio, ajudando-as a superar os momentos de crise”, conclui o enfermeiro.