Bento Gonçalves fica entre os 10 municípios com maior potencial de poluição do Estado

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A Fundação de Economia e Estatística (FEE) divulgou uma pesquisa na última semana que aponta Bento Gonçalves na 9ª posição dos municípios com maior potencial de poluição da indústria de transformação e extrativa do Rio Grande do Sul. Em 2015, 59,5% do volume total do Estado ficou concentrado em Bento e em outros nove municípios: Canoas, Triunfo, Gravataí, São Leopoldo, Porto Alegre, São Leopoldo, Caxias do Sul (o único da Serra, além de Bento), Rio Grande, Santa Cruz do Sul e Erechim.
Segundo a pesquisadora e economista da Fundação, Cristina dos Reis Martins, os indicadores analisam o período de 2002 a 2015 e apresentam um aumento do risco ambiental com o decorrer dos anos. “Em 2015, quase a metade dos municípios gaúchos (242) dependiam de indústrias com alto potencial poluidor, enquanto apenas 25 municípios (5%) concentravam indústrias com baixo risco ambiental”, alerta.
O ambientalista e Secretário Geral da AAECO (Associação Ativista Ecológica de Bento Gonçalves),Gilnei Rigotto, acredita que o principal problema da poluição está relacionado ao crescimento acelerado da cidade. “A primeira análise que eu faço sobre isso é que a cidade cresce rapidamente numa proporção onde os entes públicos e entidades não governamentais, e coloco a eco junto, não conseguem acompanhar a velocidade do crescimento industrial, não consegue se equipar e ter mão de obra necessária e coibir e fiscalizar”, afirma.
O trabalho da AAECO é ressaltado por Rigotto, que lembra que somente no mês de janeiro quatro caminhões cheios levaram toneladas de lixo eletrônico para a Ambe, gerenciamento de resíduos tecnológicos de Caxias do Sul. “70% do nosso trabalho está voltado para o lixo eletrônico e outros 30% é a orientação ambiental, atendendo na entidade. Posso dizer que em torno de 15 pessoas por dia levam lixo eletrônico”, ressalta.
A Gazeta entrou em contato com o Secretário de Meio Ambiente (SMMAM), Claudiomiro Dias, porém não obteve retorno.

Pesquisa
Para medir o potencial poluidor das atividades industriais no Rio Grande do Sul foi necessário obter um índice capaz de sintetizar, ao longo do tempo, tanto a intensidade das atividades econômicas industriais desenvolvidas, quanto o volume produtivo dessas atividades, que impactam no potencial poluidor do Estado como um todo.
Os procedimentos metodológicos que resultaram no cálculo dos índices de potencial poluidor foram feitos em três etapas: a classificação das atividades industriais de transformação e extrativa pelo seu potencial poluidor; a análise dos números municipais de Saídas Contábeis Totais (que trazem a informação da produção dos setores de interesse); e, por fim, o cálculo de um índice agregativo.
“Este é um índice sintético, porque não conseguimos entrar em especificações como quais os portes das indústrias analisadas e os tipos de poluição que podem ocorrer. Também tivemos uma dificuldade com a obtenção dos dados porque trabalhamos com valor de produção, saídas fiscais e isso acaba tendo limitações”, explica Cristina.
Ela ressalta que ao afirmar que Bento tem potencial de poluição, isso não significa que, de fato, há poluição. “O índice mede o risco ambiental de ter uma indústria que poderia provocar um desastre. Por exemplo, se no município tem mais indústrias metalmecânica, ele tem mais potencial. Isto não quer dizer que a indústria polui, mas sim o que poderia ocasionar com um possível desastre”, pontua.
“Bento Gonçalves está entre os municípios que chamamos de crítico. Em 2002 ele não estava na lista de risco. Esta variação de ficar entre os dez primeiros ou não, varia muito de ano para ano. A empresa pode produzir mais ou fechar, depende muito”, acrescenta a pesquisadora.

Políticas públicas
De acordo com Cristina, o estudo ajuda a identificar as regiões do Estado que têm maior risco poluidor e orienta para ações preventivas que equalizem o risco decorrente das atividades com alto potencial poluidor.
“Com isso, há um panorama para a realização de políticas públicas, preventivas, de saneamento para estas regiões e também para balizar a questão de novas indústrias. Se uma indústria deseja se localizar em uma região que já possui este alto índice potencial poluidor é necessário que ela já tome as medidas necessárias. Os governos municipais devem também fazer um equilíbrio, se vale a pena colocar uma indústria potencialmente poluidora em uma área que já existem muitas. O risco seria grande”, avalia.

Bento Gonçalves
O Índice de Dependência do Potencial Poluidor da Indústria (Indapp-I) mede a concentração das indústrias potencialmente poluidoras nas unidades geográficas, apontando a dependência dessas em relação às indústrias com alto potencial poluidor. Este tem se mantido estável em Bento Gonçalves desde 2012, com 0,881 (quanto mais próximo de 1, maior a dependência). Em 2002, quando iniciou a análise, este índice era de somente 0,822.
O Índice de Potencial Poluidor da Indústria (Inpp-I) sintetiza a concentração das atividades industriais em relação ao seu potencial de poluição e o volume de produção por unidade geográfica, apontando a evolução do volume de produção potencialmente poluidora no território, em que se destacam aquelas áreas que podem ser consideradas críticas, dada a concentração de um maior volume de produção em atividades industriais com alto potencial poluidor.
Quanto maior o Inpp, maior o potencial de poluição. Em 2002, Bento teve um Inpp de 1,765. O ano em que teve o ápice no indicador foi em 2007, com 2,091. Em 2015, o índice caiu para 1,688. Por outro lado, a participação no Estado ficou em 1,912 em 2015, mas, mesmo assim, colocou o município em estado crítico.

Caso em 2014
Um caso de vazamento de químicos foi registrado em 2014 em Bento Gonçalves. Na época, o muro de contenção de uma uma indústria de metais finos desabou e rompeu um tanque. Houve vazamento de cianeto e ácido sulfúrico.

A extinção da Fundação de Economia e Estatística (FEE) foi publicada na última quinta-feira (05). O governo justificou que o objetivo é promover cortes para enxugar a estrutura do estado. Foi anunciado que a partir de agora, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), de São Paulo, ficará encarregada da elaboração dos indicadores que eram de responsabilidade da FEE, a partir de um contrato é de pouco mais de R$ 3 milhões por ano.