Bairro Progresso denuncia falta de segurança e pede providências ao município

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Assustados com a crescente violência, moradores reúnem-se para pedir ações para diminuir o índice de mais de 60 ocorrências policiais, em menos de dois anos. Páginas 04 e 05

Moradores assustados com o alto índice de violência no bairro, reclamam da pouca ação do município para coibir invasores em área pública e da necessidade de policiamento ostensivo

Por iniciativa de, pelo menos 70 moradores, uma reunião com a presença do Secretário de Segurança Pública, José Paulo Marinho expôs a situação de insegurança que o bairro mais próximo do centro vem registrando.
O bairro Progresso acumula mais de 60 ocorrências de furtos, arrombamentos, roubos, assaltos à mão armada e homicídio. A outrora pacata comunidade hoje figura entre os bairros mais problemáticos da cidade. Um documento resultou deste encontro, listando locais e áreas mais instáveis. Os moradores denunciaram a presença diária de dependentes químicos na praça Antônio Casagrande. “É sabido por toda a comunidade que a “vila do Sapo” é um ponto de tráfico, onde, além de venderem drogas, os traficantes fazem a recepção de produtos oriundos de roubos” denuncia o documento.
Também é denunciado a “invasão da área verde no final do loteamento Sonza, que faz parte do bairro”, sem que nenhum órgão da prefeitura venha tomar providências para tirar os invasores do local, como fizeram no caso do loteamento Vila Nova III. Outro ponto de denúncia é a rua de ligação do loteamento San Marino ao bairro Ouro Verde “ esta área está servindo de escoamento dos produtos roubados no bairro”.
Os moradores questionaram o secretário municipal de segurança sobre quais as atitudes que a atual gestão está tomando para coibir o aumento desta vila. O secretário não conseguiu responder, mas prometeu, para 2018 instalação de câmeras de segurança.
Como havia quatro policiais militares , moradores do bairro, na reunião, o Secretário Municipal de Segurança revelou à reportagem da gazeta, que estes profissionais “se comprometeram a fazer rondas diárias no bairro e realizar batidas na praça.” Questionado, o Capitão e Comandante da Brigada Militar, Diego Caetano optou por não se pronunciar sobre a declaração do secretário Marinho à respeito de rondas de funcionários da BM.

Relatos da criminalidade
Para o funcionário público estadual, Gilmar Carlos Roman, morador da rua Fernando Calegari, a falta de policiamento comunitário facilita a ação de criminosos. “Essa praça está tomada por drogados. Eles destruíram os banheiros, guaritas e lâmpadas. A praça do Progresso é um ponto onde os larápios se organizam para praticar pequenos furtos”, lamenta. A insegurança do bairro é agravada ainda mais à noite. Roman diz que não é raro acontecer episódios de brigas entre gangues.
“Teve um dia que quase aconteceu um bang bang ao vivo, com perseguição e ameaça de morte entre os próprios criminosos”, diz. Ainda segundo Roman, o secretário de segurança, garantiu em reunião, que haverá instalação de câmeras de segurança. “O secretário se comprometeu publicamente em investir em guarda e instalar câmeras. Vivemos com muito medo, e a praça deveria ser utilizada para fins familiares e comunitários. Tem que ser um espaço livre, com guarda e vigia”, afirma.
O empresário José Fuligo, que também vive na Fernando Calegare, em quatro anos sofreu dois assaltados a mão armada, diz não saber mais o que fazer para garantir a segurança da família. Há pouco mais de um mês Fuligo instalou cerca elétrica, que segundo ele, está ligada durante todo o dia. Mesmo com a proteção extra, o empresário não descarta a ideia de vender a casa. “Quando anoitece não dá para sair de casa. Estão inclusive pensando em ir embora do bairro. A solução é que tivesse mais policiais rondando o bairro. Por que não contratam mais, não tem dinheiro?”, indaga.
A moradora da rua Fiorelo Ozelame, Beatriz Mezzacasa, lamenta a violência na cidade, especialmente no bairro Progresso. “Lembro da época em que meus filhos brincavam com as crianças da vizinhança na rua até tarde. Hoje tenho medo de deixar a casa aberta, mesmo que com o pátio cercado, enquanto estou fazendo minhas tarefas do lar. Até mesmo porque ter uma casa cercada não é impeditivo para nada”, diz.
Beatriz também foi vítima da ação de criminosos. “Há pouco tempo roubaram pertences nossos que estavam no pátio enquanto dormíamos. Esses dias fiquei surpresa com a notícia de que um ônibus foi assaltado. Isso é coisa que só víamos na televisão e hoje já é nossa realidade”, lamenta.
Rosecler Gaddo, uma das idealizadoras da reunião do dia 5 de setembro, confirma que a ideia do debate sobre segurança com moradores e autoridades da segurança, surgiu pelo fato do bairro estar sendo alvo de uma série de assaltos. “O policiamento do nosso Bairro no momento deixa muito a desejar. Eu acredito, no entanto, que vai melhorar logo, inclusive foi um dos temas abordados na reunião, sabemos que ajudará a diminuir os assaltos, roubos e uso de drogas que é um dos outros grandes problemas que temos”, afirma. Rosecler diz ainda que também já foi vítima da violência. “Infelizmente passei por dois assaltos violentos junto com minha família”, comenta.

WhatsApp contra o crime
Um comerciante que não quis se identificar, dono de uma locadora localizada na rua Giovani Girardi, criou um grupo de WhatsApp em abril de 2016 com o intuito de unir os moradores do bairro contra a violência. Ele explica que a ideia inicial era envolver apenas comerciantes, mas que aos poucos as pessoas mostraram interesse em entrar no grupo, que conta atualmente com cerca de 200 participantes. O principal objetivo é de realização de denúncias por parte de moradores, com o intuito de se proteger contra criminosos.
“A Brigada Militar não está no grupo, mas avisamos diretamente os brigadianos do bairro. O grupo já foi efetivo inclusive para auxiliar na prisão de criminosos”, diz. O comerciante salienta que pessoas menor de idade não tem acesso ao grupo, e que a exigência mínima é a pessoa apresentar o número do RG.
“A exigência é que a pessoa envie uma foto do RG. No grupo tem poucos comentários, mas quando alguém enxerga um veículo suspeito rapidamente ficamos sabendo, inclusive com o número da placa”, diz. O comerciante reforça ainda que o secretário de segurança prometeu uma ação mais efetiva da polícia. “O secretário prometeu maior circulação de viaturas. Foi pedido umas batidas na praça também, porque é local de consumo de drogas. Esses drogados acabam até aliciando crianças”, lamenta.

Violência no bairro em 2017
Em fevereiro uma dupla assaltou uma casa, fazendo família de refém. Os criminosos amarraram o casal e as duas filhas, trancando todos em um quarto. A ação aconteceu na rua Rua Fernando Calegari. Segundo informações da Brigada Militar (BM), a dupla abordou o homem na entrada da garagem da casa. Os criminosos roubaram uma quantia em dinheiro, eletroeletrônicos, joias e um Peugeot 307.
No dia 17 de março uma criança de 14 anos foi assaltada indo para a escola. A ação criminosa aconteceu numa manhã na Amarildo Campanholo Sonza, bairro Progresso.
A vítima estava caminhando pela rua quando foi abordado por um indivíduo que apontou a arma para a cabeça do menor e exigiu que fosse entregue o celular. Ele estava com uma jaqueta preta e sem capacete. Após o crime, o meliante seguiu em direção ao Ginásio Municipal do Progresso.
Na noite do dia 11 de junho uma família foi surpreendida por criminosos na rua Fiorelo Bertuol. O casal de idosos foi agredido com violência e a filha deles foi ferida com um tiro na perna.
O assalto ocorreu por volta das 20h35min. Um casal de idosos e sua filha chegavam em casa, quando foram surpreendidos por assaltantes. Eles anunciaram o assalto e mandaram que as vítimas entrassem na casa. Dentro do imóvel, os ladrões começaram a agredir os idosos e a filha deles, pedindo que eles dissessem onde estava o cofre com o dinheiro e joias. Como nenhum deles falava nada, a agressão aumentou e a filha do casal foi atingida por um tiro na perna. Os idosos foram agredidos com socos e pontapés pelos criminosos. Os ladrões fugiram em direção ao bairro Borgo e deixaram uma touca ninja, uma jaqueta e um relógio. As três vítimas foram socorridas com ferimentos e encaminhadas até o Hospital Tacchini para atendimento.
Na noite de 7 de agosto um ônibus foi assaltado na rua Paulo Turconi. A ação dos criminosos aconteceu por volta das 19h.
De acordo com o Boletim de Ocorrência (BO) registrado pelo motorista do coletivo na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), o veículo trafegava próximo ao colégio Alfredo Aveline quando um homem fez sinal para o transporte parar. Após a parada, ele entrou no veículo, apontou uma arma para o condutor e exigiu o dinheiro.
O criminoso levou a quantia em dinheiro e fugiu a pé. De acordo com o motorista, o homem portava um revólver. Ninguém ficou ferido na ação.

Progresso na mira de  criminosos
No final de julho de 2016, a Gazeta publicou uma reportagem especial sobre a violência no bairro Progresso. Somente no primeiro semestre daquele ano, haviam sido registradas mais de 40 ocorrências policiais. Na época a Gazeta também entrou em contato com moradores, que relataram a tensão e o medo.
Uma das moradoras da Rua Rosecrel Pereira Ramos, que por medo, optou por não se identificar, afirmou que a região está “tomada” pela violência, que de acordo com ela, está numa crescente.
“Há uns dois anos levei uma denúncia a polícia civil, explicando sobre a ação de criminosos e o tráfico de drogas, porém a polícia foi pouco efetiva e om o passar do tempo o medo e insegurança aumentou”, conta. De acordo com a moradora, casos de violência extrema viraram rotina para os moradores.
“Frequentemente escutamos tiros, e já ocorreram até esfaqueamentos, e quando anoitece as pessoas compram e vendem drogas, fatos que nos obrigam a ficar dentro de casa depois das 19 horas. O medo tomou conta, e nem mesmo o poder público ajudou, porque já pedimos socorro, porém ninguém de fato nos ajudou”. A mulher já esteve à frente de questões importantes do bairro, conversando com moradores e buscando força para conter o avanço da violência, mas hoje, diz estar de mãos atadas.
“A comunidade não quer participar de reuniões, então fica ainda mais difícil de reagir diante da violência. Quando eles ficam sabendo que o motivo da reunião é para tratar assuntos sobre o bairro quase ninguém se faz presente. O medo tomou conta”, lamenta.
A situação da rua Amábile Campagnolo Souza não é diferente. Localizada na parte baixa da cidade, um morador que trabalha num estabelecimento comercial relatou que há pouco mais de um mês foi vítima de dois criminosos armados.
“Era cerca de 22 horas e estava trabalhando com as portas abertas, e quando percebemos dois indivíduos armados adentraram no estabelecimento e de imediato ordenaram que todos deitassem no chão. Levaram dinheiro, celular, e documentos. Eu tenho 44 anos e é a primeira vez que passo por uma situação assim, foi terrível”, afirma.
Na visão do morador a população tem pouco respaldo da autoridade e a falta de polícias nas ruas facilita ação de pessoas mal intencionadas. “Não nos sentimos protegidos pela polícia, e na minha opinião teríamos que ter no mínimo três brigadianos em caad bairro, mas não temos nenhum. O governo pouca ajuda, e basta andarmos pelas ruas do Centro para notarmos que quase não tem polícias circulando e esses bandidos andam pelas ruas com a maior naturalidade, sem temer ninguém”, desabafa.
O morador da rua Fiorelo Bertuol, que não quer se identificar, já não caminha à noite, e conta que seguidamente escuta a polícia em perseguição. “Quase todos os dias escutamos viaturas da polícia percorrendo as ruas em perseguição e para atender ocorrências. Nós, moradores, temos que caminhar sempre atentos e a passos largos pelas calçadas, principalmente após o anoitecer”, diz.
O medo descrito pelo morador tem o fator agravante com a presença de jovens que passam na rua gritando. “Aqui em casa procuramos estar de portas e janelas fechadas por precaução, além disso, depois das 22h na rua onde moro, frequentemente passam pessoas gritando, ouvindo músicas em volume alto e até mesmo chutando objetos. Ninguém sabe se possuem boa índole ou não. Para piorar de uns tempos pra cá começaram a ocorrer delitos durante o dia também. Está complicado”, denuncia.