Pelos juros de contas básicas serem mais baixos, algumas pessoas optam pelo atraso no pagamento
O brasileiro está postergando o pagamento de contas de água e luz, como alternativa para driblar apertos do orçamento da casa. A decisão sobre qual conta atrasar, segundo o SPC e a Serasa Brasil, está ligada ao fato de que os juros, nas contas de água e luz, serem bem mais baixos do que os cobrados em débitos ligados a instituições financeiras. Além dos juros mais baixos, o reajuste das contas básicas superou, e muito, a inflação. Enquanto o IPCA, principal índice de inflação, subiu 4,48% nos 12 meses acumulados até julho, a inflação da energia elétrica medida pelo IBGE subiu 18,02%.
A operadora de telemarketing, Roberta Muniz, 25 anos, paga as contas básicas sempre no final do mês ou no início do seguinte, e observa a situação como uma alternativa viável para pagar as contas da casa. “Sempre pago uma conta em atraso e deixo a outra pra vencer, os juros são baixos e isso me ajuda a quitar o que tem um juro muito alto. Comecei a fazer isso há um ano quando as contas foram ficando maiores. Esse ano depois que a luz aumentou e teve greve a situação agravou bastante”, afirma.
Ainda segundo Roberta a prioridade é pagar antes as contas do cartão de crédito “pois no caso é uma das contas que mais tem cobrado juros, até mesmo com pouco atraso ou pagamento mínimo a conta é grande”.
Suelen Perin, de 27 anos, também não se importa de pagar as contas com atraso. “Priorizo o aluguel e a comida, depois quando possível pago a luz e o restante das contas. Não tenho contas com juros muito altos”, diz.
A autônoma Suanny Zanini, de 26 anos, afirma que desde o último ano começou a equilibrar as contas pagando água e luz com atraso. “Faço porque preciso muito do dinheiro, agora estou conseguindo me ajeitar e esse mês tem que ser diferente. Priorizo tudo que tem um juro muito alto. Boleto interno de loja, carro, aluguel”, diz.
A engenheira civil, A.C.O, de 21 anos, também opta por pagar as contas no final do mês. “Priorizo o pagamento de boletos e cheques e faço isso por necessidade. O que eu tenho de contas com juros mais altos são os cartões de crédito”, salienta.
Economista diz não ser melhor alternativa
O economista Mosar Ness é enfático ao dizer que atrasar o pagamento da água e luz não é a decisão mais acertada. “Na verdade essa estratégia faz parte do jeitinho brasileiro de acomodar a situação. Eu diria que é uma forma eficaz na resolução momentânea do meu fluxo de caixa. O problema são as pessoas que tiveram uma quebra nas receitas, estão desempregadas”, explica.
Ainda de acordo com Ness, a alternativa é uma escolha de quem pensa justamente em pagar as contas com valor mais elevado. “O orçamento não fecha, as pessoas necessitam se manter. A escolha recai sobre aquelas contas, ditas sociais que não apresentam impactos diretos. Tanto a luz, quanto água e telefone você paga uma multa por atraso, pode ser cortado, mas isso demanda um tempo e enquanto isso não acontece são quitadas aquelas dívidas que apresentam um custo de rolagem maior, como o cartão de crédito, o cheque especial e títulos que venham a sofrer protesto. Dentro da teoria econômica essa situação se encaixa nas escolhas adaptativas” salienta.