Atendimentos por abuso de álcool crescem mais de 30% nos últimos anos em Bento Gonçalves

2015-04-10_190211

O relatório do Departamento Epidemiológico aponta que os homens têm sido o grupo com a maior frequência de atendimentos devido ao abuso de álcool, representando 82,0% do total de casos

Números da Organização Mundial da Saúde apontam que o consumo de bebidas alcoólicas aumentou 43,5% em dez anos no Brasil. Em 2006, o consumo de álcool puro por pessoa era 6,2 litros e em 2016 passou a 8,9 litros, percentual bem maior que a média mundial que é de 6,4 litros.
Os dados epidemiológicos nacionais demonstram que as intoxicações por consumo de álcool são um grande problema, já que 16% da população tem um comportamento de consumo de álcool nocivo, ou seja, um consumo exagerado que gera a necessidade de atendimento médico.
Estudiosos apontam o consumo de álcool como um dos maiores problemas da saúde pública no mundo, já que o consumo exagerado está associado a mais de 60 condições agudas e crônicas de saúde, como a hipertensão e o diabetes, doenças agravadas pelo consumo de álcool.

Em Bento
O Departamento Epidemiológico de Bento Gonçalves, monitora desde julho de 1998 os casos de intoxicação humana no município, dentre muitos outros, o de consumo de álcool através do Sistema de Informações sobre Intoxicações – SININTOX-BG.
Os casos de intoxicação notificados ao SININTOX-BG são os que geraram atendimento nos serviços saúde do município, sendo os serviços que mais notificam: o pronto socorro do Hospital Tacchini e a Unidade de Pronto Atendimento – UPA. De acordo com os dados coletados no sistema e fornecidos pelo Departamento Epidemiológico de Bento Gonçalves, os primeiros três casos de intoxicação humana aguda, associados ao abuso de álcool etílico foram notificados em 1999.
Desde então, o número de atendimentos ambulatoriais decorrentes da intoxicação alcoólica vem crescendo constantemente, com variações para mais, ou para menos, sendo registrado em 2014 o maior pico, com 1.076 atendimentos. A média de atendimentos por abuso de álcool passou de 540,8 casos ao ano na década de 2000 a 2009, para 952,3 casos na década de 2010 a 2018. A incidência média que era de 545,9 casos por 100.000 habitantes, passou para 848,0 neste mesmo período, representando um aumento de 35,6%. Sendo em 2018, registrados 1.028 casos, que representam cerca de 1,4% do total de consultas médicas realizadas na Unidade de Pronto Atendimento – UPA.

Análise do problema
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, através do relatório, a alta incidência do abuso de álcool em Bento Gonçalves está relacionada a diferentes aspectos, dentre eles a legalização e fácil comercialização de bebidas; a veiculação de propagandas que estimulam o consumo; a experimentação e o hábito de consumir álcool, que muitas vezes começam no ambiente familiar, ainda na infância; a grande variedade e o baixo custo de algumas bebidas, que popularizam seu consumo em todas as classes sociais.
Em análise, o Departamento Epidemiológico aponta a falha nas ações de fiscalizações como uma das causas dos altos índices: “nas situações em que o consumo e a comercialização são proibidos, ainda há deficiências na fiscalização e controle, como por exemplo, a venda de bebidas para menores de idade e a venda às margens de rodovias federais”.

Consequências
Além da movimentação e gastos públicos com a saúde, o exagerado consumo de álcool provocou o crescimento no número de multas por embriaguez ao volante, conforme os dados do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN-RS) que apontam 2.160 autuações proferidas desde maio de 2014, quando a primeira blitze da Balada Segura em Bento foi feita.

Consumo por sexo e idade
O relatório aponta que o consumo abusivo de álcool vem crescendo tanto para homens, como para mulheres. Historicamente, os homens têm sido o grupo com a maior frequência de atendimentos devido ao abuso de álcool, representando 82,0% do total de casos. A incidência média masculina que era de 891,2 casos por 100.000 homens entre 2000 e 2009 passou para 1.434,0 entre 2010 e 2018, representando um aumento de 60,9%. As idades dos homens, com maior incidência de atendimentos, figuram entre 40 a 49 e 50 a 59 anos.
No grupo feminino, a incidência passou de 208,7 casos por 100.000 entre 2000 e 2009 para 284,2 entre 2010 e 2018, o que representou um aumento de 36,2%. Sendo as jovens de 15 a 19 e 20 a 29 anos as que mais extrapolam no álcool. Pode-se dizer que o perfil dos atendidos por intoxicação alcoólica aguda em Bento Gonçalves é caracterizado por homens de “meia idade” e mulheres jovens.

Responsabilidade
Para a Organização Mundial da Saúde é responsabilidade dos governos a formulação, implementação e monitoramento de políticas públicas que busquem a redução do uso excessivo de álcool.
A entidade sugere medidas como o regulamento no marketing de bebidas e a elevação de impostos nos itens.