Atenção com os sistemas de irrigação das videiras na primavera

2015-04-10_190211

Segundo pesquisas feitas pelos engenheiros agrônomos, José Monteiro Soares e Francisco Fernandes da Costa, e pelo engenheiro civil e doutor em irrigação Marco Antônio Fonseca Conceição, da Embrapa Uva e Vinho, é importante estudar as formas corretas de irrigação das videiras.

Sistema de irrigação por microaspersão
A irrigação por microaspersão é caracterizada pela aplicação da água e de produtos químicos, em relação a fração do volume de solo explorado pelas raízes da planta e de forma circular ou em faixa contínua. Esse sistema de irrigação depende muito das dimensões do bulbo molhado e do alcance e intensidade da aplicação ao longo do raio do emissor, bem como do volume de água aplicado por essa irrigação. Quando feito de forma adequada e no solo os resultados são excepcionais. O umedecimento de quase 100% da área ocupada por planta pode proporcionar uma maior expansão do sistema radicular da videira, associado à redução da temperatura e à elevação da umidade do ambiente, que condiciona a obtenção de uvas de melhor qualidade, principalmente nos ciclos de produção do segundo semestre (setembro a dezembro), quando comparado com outros sistemas de irrigação.

Sistema de irrigação por aspersão
A irrigação feita por aspersão é caracterizada pela pulverização do jato de água no ar e visa o umedecimento de 100% da área ocupada pela planta. Existem diversos modelos de aspersores, tanto quanto ao ângulo que os bocais formam com o plano horizontal (aspersores de sobrecopa e sobcopa) quanto ao diâmetro dos bocais.
A aspersão do tipo sobcopa é usada por diversas pessoas, mas pode trazer alguns transtornos para o manejo da água. A irrigação por sulcos se caracteriza pela aplicação de água ao solo, através de pequenos canais abertos ao longo da superfície do terreno. A derivação de água nesse sistema de irrigação pode ser feita por sifões ou por tubos janelados. O sistema de irrigação por sulcos, através de sifões, deve ser feito em terrenos com declividade inferior a 0,5%, enquanto que o sistema de irrigação por sulcos, utilizando tubos janelados, pode ser usado em terrenos bastante acidentados, uma vez que a condução de água é feita através de tubulações.
A área molhada por sulcos depende do tipo de solo, da vazão aplicada, da declividade do sulco e do tempo de irrigação. Dependendo da topografia do terreno, a percentagem de área molhada por planta pode ser duplicada após um ano de idade, abrindo-se um sulco de cada lado da fileira de plantas.

Como escolher a modalidade certa de irrigação da videira?
Primeiramente o uso de sistemas de irrigação é feito com base nas infiltrações verticais e horizontais da água nos diversos tipos de solo, visando melhorar o processo e manejar com teores adequados de umidade, ou corrigindo quando a umidade for inadequada em relação ao clima. Assim, para solos argilosos e argilo-arenosos, que apresentam um avanço horizontal ou infiltração lateral maior que 80 cm, devem ser concebidos sistemas de irrigação, que proporcionem fluxos radiais de água no solo, a partir de um ponto de emissão de água (irrigação por gotejamento) ou de uma faixa úmida de solo (irrigação por sulco). Enquanto que para a exploração dos solos arenosos, que apresentam infiltração vertical superior a 15mm/h, devem ser concebidos sistemas de irrigação, em que a dispersão da água é feita através do ar, tais como a aspersão ou a microaspersão.
Solos com tendência à compactação, quando manejados úmidos, devem ser evitadas a escolha desses sistemas de irrigação, principalmente da microaspersão, por ser a videira, considerada uma cultura que exige um elevado índice de trafego de máquinas e implementos agrícolas para a execução das práticas culturais. Os elevados níveis de umidade no solo, proporcionado pela alta frequência de irrigação, sob a irrigação por microaspersão e a elevada intensidade de mecanização, têm condicionado processos de degradação rápida do solo, por isso o cuidado redobrado na quantidade de umidade e forma de irrigação do solo.

Qual a importância do clima no tipo de irrigação?
O clima possui umas das maiores influências sobre a vida das videiras, sendo importando cultivar com técnicas próprias para cada época do ano. Grande parte da diversidade encontrada nos produtos vitivinícolas atualmente, dizem respeito a aspectos e processos típicos e direcionados à região.

Temperatura
A temperatura do ar apresenta diferentes efeitos sobre a videira em função das diferentes fases do ciclo vegetativo ou de repouso da planta. Na primavera devemos considerar de forma genérica a temperatura de 10°C como mínima para que possa haver desenvolvimento vegetativo; No período de floração da videira, as temperaturas iguais ou superiores a 18°C são mais favoráveis ao cultivo, principalmente se forem associadas a dias com bastante sol e pouca umidade.

Insolação e radiação solar
A videira é uma planta que exige muita luz e requer elevada insolação durante o período vegetativo, que é fator importante no processo da fotossíntese, bem como na definição da composição química da uva. A radiação que a planta recebe em determinado local é em função da latitude, do período do ano, da nebulosidade, da topografia e da altitude. Normalmente uma maior insolação está relacionada a um menor número de dias de chuva, o que é favorável, já que as condições brasileiras são de alta umidade, principalmente aqui no sul do Brasil. Os anos de maior insolação produzem uvas com bons teores de açúcares e com acidez adequada. As elevadas insolações com calor são prejudiciais à qualidade dos produtos para agroindústria resultando em mostos pouco equilibrados, com baixa acidez.

Pluviometria
A precipitação pluviométrica é um dos elementos mais importantes do clima da viticultura. A videira é uma cultura bastante resistente à seca. Certas regiões produzem sem irrigação, com precipitação pluviométrica de apenas 250 mm a 350 mm no período que vai da brotação até a maturação das uvas. A demanda de água da videira varia em função das diferentes fases do ciclo vegetativo. Para a determinação de suas necessidades hídricas devemos considerar o tipo de solo e a cobertura dele. Para a videira interfere não somente a quantidade de chuvas, mas sua intensidade e o número de dias ou de horas em que ela ocorre. Durante a primavera, as chuvas são importantes para o desenvolvimento da planta, porém, quando em excesso, favorecem a ocorrência de algumas doenças fúngicas da parte aérea. Devemos destacar que a ocorrência de granizo é um fenômeno prejudicial à viticultura, onde os maiores danos são causados durante o período do ciclo vegetativo que vai da brotação à colheita das uvas. O cuidado deve ser redobrado em dias muito quentes, mas que apresentem indícios de chuvas repentinas.

Cuidados com a umidade do ar e os ventos
Com a umidade elevada da nossa região sul as condições são favoráveis à ocorrência de certas doenças fúngicas mas que também estimulam também o desenvolvimento vegetativo da videira. As correntes de ar que trazem massas de ar com características diferenciadas repercutem sobre as condições meteorológicas, com implicações sobre a temperatura e a umidade, bem como sobre a evapotranspiração do vinhedo. Ventos fortes podem causar danos à vegetação, com a quebra dos ramos. Na floração uma brisa ligeira é favorável à disseminação do pólen. Além dos elementos meteorológicos, é importante lembrar da importância da reserva hídrica do solo. A capacidade de retenção de água do solo, do aporte de água pela chuva e irrigação, das perdas por escorrimento superficial e por percolação, e da evapotranspiração do vinhedo, que inclui a transpiração da planta e a evaporação do solo são importantes de ser cuidadas. As condições de disponibilidade hídrica do solo para a videira influenciam na qualidade da uva.
A insolação é bastante variável, sendo maior na nossa região. A distribuição das chuvas ocorre de forma bastante homogênea ao longo do ano nas regiões da Serra Gaúcha com valores médios sempre superiores a 100 ou 120 mm mensais.
As videiras precisam de cerca de 680 milímetros de chuva por ano, e o ideal seria que boa parte dessa chuva caísse durante o inverno e a primavera, quando a vinha está tentando criar brotos e cachos. As uvas gostam de amadurecimento longo e lento, por isso o ideal é uma quantidade mínima de chuva no verão e no outono. Chuva durante o verão em um clima quente, eleva o risco de doenças ligadas ao mofo e ao bolor, e chuva na época da colheita, seja em clima quente ou frio, também é uma grande problemática: as uvas cobertas com gotas de chuva produzem um vinho diluído. Quando molhado, um vinhedo produz mais uvas, porém o vinho será mais diluído com uvas insípidas. As vinhas fazem as melhores uvas quando precisam fazer mais esforço para produzi-las e, água em excesso não encoraja as raízes a se aprofundarem em busca de mais nutrientes.
As raízes das vinhas têm a tarefa de retirar água e minerais do solo. Uma vinha que cresce em um solo rico e úmido só precisa de raízes rasas para retirar água e nutrientes suficientes e se alimenta de da formação de folhas e bagos. As vinhas que crescem em um solo mais seco e pobre precisam lutar para sobreviver, mergulhando suas raízes profundamente em busca de água e minerais.