As comorbidades silenciosas que podem levar pacientes com covid-19 à morte

2015-04-10_190211

Em meio ao crescimento exponencial de infecções e mortes por covid-19 no Brasil, uma característica presente em diversos casos mais graves preocupa os profissionais de saúde: as comorbidades desconhecidas pelos pacientes ou que não são tratadas adequadamente. São comuns casos de pacientes com doenças preexistentes como diabetes, hipertensão e tuberculose que desconhecem tais comorbidades até serem internados com covid-19. Outra preocupação também é com aqueles que sabem da enfermidade, mas não fazem o tratamento adequado. Para os profissionais da área, a situação representa um retrato da saúde dos brasileiros e traz à tona questões culturais nas quais a atenção primária não recebe o devido cuidado. Para muitos pacientes, médicos e unidades de saúde devem ser procurados apenas em casos de doença. No contexto da covid-19, comorbidades como diabetes, obesidade, hipertensão, tuberculose, entre outros, aumentam o risco de agravamento do quadro do paciente. Para aqueles que não tratavam as enfermidades previamente, a evolução da doença causada pelo novo coronavírus pode ser ainda pior. Segundo especialistas, muitos desses casos poderiam não ter uma evolução tão grave se a pessoa fizesse o tratamento adequado da doença preexistente.

“A covid-19 se tornou um novo momento para muitos pacientes descobrirem questões ocultas sobre a própria saúde, principalmente aqueles que não se cuidavam ou não tinham acesso ao serviço de saúde”, declara a médica Denize Ornelas, diretora de comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. Ornelas frisa que um paciente com uma doença preexistente que está controlada, por meio de tratamento, pode apresentar uma resposta melhor à covid-19. Ela pontua que, em casos de pessoas que não têm a comorbidade controlada, muitas vezes o médico precisa aliar o tratamento contra a covid-19 com medicamentos para a doença preexistente. “Nesse caso, a atenção precisa ser ainda maior”, ressalta.

Obesidade
Muitos pacientes com a covid-19 que têm um IMC (Índice de Massa Corporal) que se enquadra na obesidade. Pacientes só descobrem nas internações que estão com hipertensão e diabetes. São mazelas motivadas por hábitos ruins ou questões genéticas. Elas fazem com o que o paciente esteja no grupo de riscos da covid-19. Exames feitos durante internações costumam identificar comorbidades desconhecidas por pacientes
Especialistas apontam que obesidade, hipertensão e diabetes são as comorbidades desconhecidas, ou sem tratamento adequado, mais comuns entre pacientes com quadro grave de covid-19 — elas também são as doenças crônicas mais comuns entre os brasileiros em geral, conforme o Ministério da Saúde. Ainda segundo os especialistas, outras enfermidades como tuberculose, doença pulmonar obstrutiva crônica e problemas cardíacos também podem estar entre as mazelas desconhecidas por pacientes infectados pelo Sars-Cov-2, nome oficial do novo coronavírus, que são internados em estado grave. As doenças preexistentes costumam ser descobertas em meio aos diversos exames feitos em pacientes internados com a covid-19. Na realidade, a covid-19 só torna essa situação (da falta de diagnósticos para doenças preexistentes) mais evidente. Isso é uma situação crônica, principalmente nas classes de menor poder econômico. Países pobres ou em desenvolvimento costumam sofrer com essa baixa prevenção.

Tipos de comorbidade:
diagnóstica e prognóstica

Existem duas definições que acompanham o termo. Sendo assim, a comorbidade pode ser diagnóstica ou prognóstica. Na área biomédica, definimos prognóstico como sendo as perspectivas do que podemos esperar em relação ao quadro de determinada doença. Por exemplo: se uma pessoa é acometida por um resfriado, o prognóstico (ou seja, o que se espera) é que ela fique boa em duas semanas, no máximo. Podemos definir como comorbidade diagnóstica quando o paciente é diagnosticado com uma doença que traz outra consequência que já é esperada (como no caso de uma pessoa com Alzheimer, a perda de memória recente, o esquecimento, etc). O grande diferencial da comorbidade prognóstica é que trabalha-se com possibilidades, não com uma certeza. Por exemplo: para uma pessoa que recebe um diagnóstico de diabetes, é completamente comum que desenvolva também úlceras venosas, mas isso não ocorre em 100% dos casos.