Anticoagulante reduz em 70% a infecção de células pelo novo coronavírus

2015-04-10_190211

Um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e por pesquisadores da Inglaterra e da Itália apontou um possível novo mecanismo de ação da heparina, um anticoagulante, no tratamento do coronavírus. Além de inibir distúrbios de coagulação que podem afetar vasos do pulmão e prejudicar a oxigenação, o medicamento parece também ser capaz de dificultar a entrada do coronavírus nas células. Os pesquisadores realizaram testes de laboratório em linhagem celular proveniente do rim do macaco-verde africano e a heparina reduziu em 70% a invasão das células pelo novo coronavírus.  Em entrevista à Agência Fapesp, Helena Bonciani Nader, coordenadora do projeto entre os brasileiros, afirmou que existiam indícios de que a heparina também tinha capacidade de prevenir infecções virais, incluindo por coronavírus. Os pesquisadores conseguiram comprovar essa propriedade do medicamento em ensaios in vidro.

A heparina é um anticoagulantes

A pesquisadora estuda há mais de mais de 40 anos os glicosaminoglicanos – classe de carboidratos complexos à qual a heparina pertence – e desenvolveu as primeiras heparinas de baixo peso molecular, usadas clinicamente como agentes anticoagulantes e antitrombóticos, inclusive em pacientes com covid-19. Uma das descobertas feitas ao longo deste período foi que a heparina é um medicamento multialvo, pois além do seu efeito na prevenção da coagulação do sangue pode se ligar a diversas proteínas. Nos últimos anos, estudos feitos por outros grupos sugeriram que as proteínas de superfície de outros coronavírus até então relatados poderiam se ligar a um glicosaminoglicano das células de mamíferos, chamado heparam sulfato, para infectá-las. Com o surgimento do novo coronavírus, os pesquisadores da Unifesp tiveram a ideia de avaliar se a proteína de superfície do novo coronavírus responsável pela infecção das células – chamada proteína spike – se liga à heparina, uma vez que a molécula do fármaco tem estrutura muito semelhante à do heparam sulfato.