Alto índice de agricultores gaúchos com câncer põe agrotóxicos na mira

2015-04-10_190211

O Rio Grande do Sul é o Estado com a maior taxa de mortalidade por câncer, e também lidera a estimativa de novos casos de câncer

 

Os agroquímicos são apontados como responsáveis pela alarmante taxa de mortalidade por câncer, colocando o Rio Grande do Sul entre os de maior índice da doença no país.
Associação de fabricantes coloca a responsabilidade do risco no manuseio dos agroquímicos amplamente proibidos em países europeus e americanos, mas liberados, sem nenhuma restrição no Brasil.

“Defensivo”
Os mapas mostram que a concentração dos casos de intoxicação coincidem com as regiões onde estão as principais culturas do agronegócio no Brasil. A divisão por Unidades da Federação e até por municípios comprovam com exatidão essa conexão.Mas, ainda assim, não é possível desconsiderar a maneira como distúrbios neurológicos são criados pelo uso intensivo dos chamados “defensivos agrícolas”, termo que a indústria utiliza para tentar atenuar os efeitos negativos das substâncias.
As pesquisas comparam a relação dos brasileiros com agrotóxicos à maneira como os moradores dos Estados Unidos lidam com as armas: aceitamos correr um risco enorme.

Notificação ineficaz
Muitas pessoas não chegam a procurar o Sistema Único de Saúde (SUS); muitos profissionais da saúde ignoram os sintomas provocados pelos venenos, que muitas vezes se confundem com doenças corriqueiras. Nos cálculos de quem atua na área, se tivemos 25 mil pessoas atingidas entre 2007 e 2014, multiplica-se o número por 50 e chega-se mais próximo da realidade: 1,25 milhão de casos em sete anos.

Liderança nefasta
De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o Rio Grande do Sul é o Estado com a maior taxa de mortalidade pela doença. Em 2013, foram 186,11 homens e 140,54 mulheres mortos para cada grupo de 100 mil habitantes de cada sexo.
O índice é bem superior ao registrado pelos segundos colocados, Paraná (137,60 homens) e Rio de Janeiro (118,89 mulheres).
O Estado também é líder na estimativa de novos casos de câncer neste ano, também elaborada pelo Inca – 588,45 homens e 451,89 mulheres para cada 100 mil pessoas de cada sexo. Em 2014, 17,5 mil pessoas morreram de câncer em terras gaúchas – no país todo, foram 195 mil óbitos.
Anualmente, cerca de 3,6 mil novos pacientes são atendidos na unidade coordenada por Franke. Se incluídos os antigos, são 23 mil atendimentos. Destes, 22 mil são bancados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) – os cofres públicos desembolsam cerca de R$ 12 milhões por ano para os tratamentos.

Dengue é prioridade, câncer não
Se esses números fossem de pacientes de dengue ou mesmo uma simples gripe, a situação seria tratada como a mais alarmante epidemia, com decreto de calamidade pública e tudo.

Consumo cresce vertiginosamente
A comercialização de agrotóxicos aumentou 155% em dez anos no Brasil, apontam os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS), estudo elaborado pelo IBGE no ano passado – entre 2002 e 2012, o uso saltou de 2,7 quilos por hectare para 6,9 quilos por hectare.
O número é preocupante, especialmente porque 64,1% dos venenos aplicados em 2012 foram considerados como perigosos e 27,7% muito perigosos, aponta o IBGE.
O Inca é um dos órgãos que se posicionam oficialmente “contra as atuais práticas de uso de agrotóxicos no Brasil” e “ressalta seus riscos à saúde, em especial nas causas do câncer”.
Como solução, recomenda o fim da pulverização aérea dos venenos, o fim da isenção fiscal para a comercialização dos produtos e o incentivo à agricultura orgânica, que não usa agrotóxico para o cultivo de alimentos.