“Algo precisa ser feito: mais de 100 imigrantes de etnias negras chegam a Bento todos os meses e eles estão passando fome”

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Apontou uma das integrantes da Comissão Intersetorial de Tratativa de Imigrantes de Etnias Negras

A Comissão Intersetorial de Tratativa de Imigrantes de Etnias Negras, criada com o objetivo de possibilitar melhor qualidade de vida e garantir o mínimo de dignidade aos imigrantes senegaleses e haitianos, que chegam semanalmente em Bento Gonçalves está se movimentado para criação de projetos e ferramentas que possibilitem a inserção social deles. De acordo com a coordenadora da Comissão, Lisiane Pires, chegam por semana cerca de 30 a 60 imigrantes que buscam em Bento, refúgio e novas perspectivas de vida. Ocorre que, com a população imigratória cada vez maior, o atendimento de serviços básicos está ficando cada vez mais precário. “Muitos deles estão passando fome”, alerta ela.

Centro de Referência
Em razão destes motivos, a Comissão busca auxílio para que sejam tomadas medidas protetivas, através da intervenção do poder público. Com o objetivo de resolver muitas destas demandas, ou pelos menos auxiliar na resolução delas, estão desenvolvendo nos últimos meses, um projeto de criação de um Centro de Referência que trate das questões.

Apresentação à Prefeitura
O Projeto do Centro de Referencia em Atendimento de Imigrantes- CRAI, foi apresentado há cerca de duas semanas à secretarias e ao Prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin, que deixou a comissão livre para ajustar pesquisas e detalhes necessários para o desenvolvimento do projeto, mas, ainda não confirmou a criação e o apoio ao Centro. De acordo com Lisiane, o Centro de Referência só será possível com o apoio e auxílio do Poder Publico, já que o objetivo do mesmo é justamente a centralização dos serviços, que os ajudarão a corrigir demandas através de uma melhor comunicação entre os imigrantes e serviços que já são oferecidos pela Prefeitura.

Já existem
Bento Gonçalves já tem centros de atendimento à comunidade em situação de vulnerabilidade, como o Centro de Referência de Assistência Social – CRAS, a Secretaria de Habitação e Assistência Social – SEMHAS e a própria Secretaria de Saúde, que hoje conta com um intérprete que faz a mediação entre os imigrantes e os serviços ligados à saúde. Ocorre que, embora existam esses órgãos que poderiam auxilia-los, não há capacitação dos servidores no quesito linguístico, que é a maior dificuldade enfrentada pelos haitianos e senegaleses. O intérprete que faz essa ponte entre a Secretaria de Saúde e os imigrantes não dá conta da enorme demanda, sendo necessário que em muitos momentos ele trabalhe até a noite. Por estes motivos, a coordenadora da iniciativa defende que a criação do CRAI é de extrema importância “para garantir dignidade, e finalmente uma inserção efetiva dos imigrantes na sociedade em Bento”. Ela conta que muitos estão aqui há cerca de três anos e ainda não conseguiram oportunidades concretas de trabalho, segundo Lisiane, a média de período de desemprego de imigrantes é de cerca de um ano. Lisiane Pires afirma que não pode ser atribuída a eles ignorância, ou falta de conhecimento já que cerca de 80% deles têm formação superior, além de falarem de duas a quatro línguas. “Não lhes falta capacitação, falta oportunidades e ferramentas que possibilitam a comunicação”, garante ela.

Outros projetos
Além da criação do CRAI, a comissão que busca interceder pelos direitos dos imigrantes de etnias negras, aponta outra ferramenta capaz de auxiliar na inserção deles na sociedade. A promoção de oficinas de capacitação, oferecidas por voluntários haitianos e senegaleses que darão aulas gratuitas de Crioulo e Frances à comunidade de forma geral, poder público e iniciativa privada.

Setor privado
Além do auxilio fundamental do poder público, de acordo com a comissão, é muito importante uma responsabilização e ajuda do setor privado, que pode oferecer vagas de emprego aos imigrantes.
“É muito difícil ver as empresas que dão a eles oportunidades, a maioria deles, quando conseguem empregos, conseguem serviços braçais, que não envolvem capacidade intelectual, que mais uma vez enfatizo, não lhes falta!” garante a representante da comissão.

Apresentação do Centro de Referência de Atendimento aos Imigrantes, feita pela Comissão Intersetorial e Movimento Negro Raízes ao Prefeito Guilherme Pasin e ao Secretário de Administração Carlos Quadros