Agricultura sustentável: um aplicativo para reduzir o uso de pesticidas

2015-04-10_190211

Agrotóxico é a mesma coisa que defensivo agrícola e pesticida? 

 

Sim. A diferença está relacionada à decisão de enfatizar determinado aspecto com a escolha da palavra (outro termo usado é fitossanitário). Agrotóxico está correto, já que se trata de substância tóxica usada na agricultura.
O mesmo vale para defensivo agrícola, uma vez que o objetivo da aplicação é defender as plantações. Pesticida quer dizer “o que mata pragas”, enquanto a definição de praga, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), é: “Qualquer forma de vida vegetal ou animal ou qualquer agente patogênico daninho para os vegetais”. Dessa forma, não há erro em usar nenhum dos termos acima.

Quais são os tipos de agrotóxicos? O que eles fazem?
Há uma enorme diversidade de usos e de composição química dessas substâncias. Além da divisão funcional em herbicidas (contra ervas daninhas), inseticidas e fungicidas, é possível classificá-los de acordo com seu mecanismo de ação sobre as pragas.
Os inseticidas organofosforados e carbamatos, por exemplo, atacam insetos afetando a regulação de uma das principais moléculas mensageiras do sistema nervoso. Os neonicotinoides, também usados contra insetos, atacam outro elemento desse sistema, levando os bichos à morte.
Certos herbicidas, como o glifosato, afetam a produção de aminoácidos, os “tijolos” moleculares usados para montar as proteínas. Há ainda os que levam à dessecação dos tecidos e os que alteram seus processos de crescimento.

Ambiente
As moléculas dos agrotóxicos são biodegradáveis?
Em princípio, são —para serem aprovados hoje, os pesticidas precisam ter um tempo de vida curto na natureza, entre dias e semanas.
Também se recomenda que haja um intervalo entre a aplicação dos defensivos e a chegada do produto ao mercado, para que haja tempo de essa degradação acontecer, bem como cuidados como a lavagem dos alimentos.
Entretanto, há vários indícios de que esse processo está longe de ser perfeito. O lençol freático de países desenvolvidos frequentemente traz quantidades acima do recomendado de agrotóxicos —inclusive daqueles já proibidos há vários anos. E as versões degradadas das moléculas também costumam persistir com alguma frequência, com efeitos ainda muito pouco conhecidos.
Pesticidas estão matando as abelhas e outros insetos polinizadores?
Ainda não há um veredicto claro, embora os indícios sejam preocupantes. As substâncias que talvez estejam provocando ou potencializando outras causas do colapso de colmeias no hemisfério Norte são os neonicotinoides (como o nome sugere, derivados da nicotina) e as formamidinas.
Estudos feitos em laboratório indicam que os neonicotinoides atrapalham as capacidades olfativas de abelhas domésticas, afetando a busca de alimento, a memória e o aprendizado. A questão, porém, é saber se as concentrações usadas desses inseticidas num contexto agrícola real seriam suficientes para produzir colapsos de colmeias.

O que acontece com as pragas após o uso constante das substâncias?  
É comum o aparecimento de superpragas —ervas daninhas e insetos com capacidade de resistir a um ou mais tipos de defensivos agrícolas.
O Levantamento Internacional de Ervas Daninhas Resistentes, esforço colaborativo de cientistas da área em 80 países, registrou, só no ano passado, o aparecimento de cinco novas ervas daninhas “turbinadas” no Brasil, das quais quatro são resistentes a múltiplos tipos de herbicidas.
O processo é um exemplo clássico de seleção natural em ação, como ocorre no caso das bactérias que desenvolvem resistência a antibióticos.
Um dos meios de mitigar o problema é combinar a aplicação de dois ou mais agrotóxicos com mecanismos de ação diversos. É importante investigar os efeitos da interação entre os diferentes produtos
Há mesmo vantagem dos agrotóxicos mais modernos em relação aos antigos?
Os agrotóxicos mais modernos, são usados em quantidade menor. Além disso, os compostos mais modernos, mesmo em baixa quantidade, têm ação mais intensa contra pragas específicas, prejudicando menos outras espécies.

Quais são os modelos de cultivo que menos precisam de agrotóxicos? 
Um consenso entre os acadêmicos conhecedores do sistema de produção de alimentos é que não é possível se livrar dos agrotóxicos, especialmente em grandes culturas. O que dá para fazer é minimizar o uso.
A prática conhecida como manejo integrado lança mão de diversas abordagens, como a instalação de barreiras físicas, uso de controle biológico (insetos e ácaros que comem pragas, por exemplo) e, se necessário, o uso de pesticidas.
Outra possibilidade de sistema de produção é a agrofloresta, que mistura cultivos distintos em uma mesma área, dentro de uma mata nativa.
Por causa da diversidade, as plantas ficam menos suscetíveis a pragas, mas o esforço de implementação, o ganho de complexidade e o custo inicial acabam afastando o produtor dessa possibilidade, mesmo que a produtividade no final seja aumentada.

Qual seria o impacto econômico da proibição dos agrotóxicos? 
O preço dos alimentos tenderia às alturas, devido à baixa produtividade. Algumas lavouras produziriam menos de um terço da safra convencional.
Não se trata de uma alternativa viável para pesquisadores e estudiosos da área. As reivindicações do ponto de vista ambiental e da saúde estão mais para garantir a segurança e reduzir o uso exagerado do que para pleitear a proibição dos agrotóxicos.
A alternativa possível seriam os produtos orgânicos. Mas, do ponto de vista econômico, são itens caros, produzidos em baixa escala em pequenas propriedades.

É possível ter o mesmo efeito de proteção contra pragas com menos aplicações dos produtos? 
Ao menos no curto prazo, não é realista esperar que a agricultura de grande escala no mundo abandone totalmente os agrotóxicos, mas os dados científicos indicam que há bastante espaço para redução e racionalização do uso, bem como para o emprego de estratégias combinadas.
“Sempre vai ser necessário buscar um equilíbrio entre a necessidade de alimentar uma população crescente e a busca da sustentabilidade”, afirma o engenheiro Paulo Cruvinel, da Embrapa Instrumentação.
Uma iniciativa da qual Cruvinel participa tem conseguido otimizar os bicos e o tamanho das gotas de produto liberadas por aparelhos pulverizadores, reduzindo a área atingida pelo agrotóxico fora do alvo em até 80% em lavouras de soja e cana.