Adultos não obedecem calendário de vacina e deixam de se imunizar contra febre amarela e outras doenças

2015-04-10_190211

Com o surto de febre amarela no último ano, vários brasileiros se viram diante de uma dúvida: eu já tomei essa vacina? A grande maioria não sabia a resposta. Até sexta- feira (19)foram aplicadas apenas 1.457 doses da vacina em Bento Gonçalves

 

O calendário de vacinação não é usado apenas para as crianças, mas muitos adultos o abandonam ao longo da vida e só se vacinam em grandes campanhas ou casos de epidemia.
O resultado disso é que atualmente o Brasil não tem uma cobertura vacinal de adultos nem perto do desejado. Todas as quatro vacinas recomendadas para pessoas de 20 a 59 anos estão abaixo do considerado ideal de cobertura vacinal.
Na tríplice viral, por exemplo, a taxa de cobertura é baixíssima (4,7%) — situação se mantém na hepatite B, na dupla dT e dTpa e na febre amarela (apesar do surto recente).
Desde 2004, o Ministério da Saúde passou a definir calendários de vacinação por ciclos de vida. Também regulamentou a vacinação do adulto e idoso para as vacinas dT (dupla- difteria e tétano) de acordo com a situação vacinal anterior, instituiu a vacina dupla viral ou tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) para o adulto do sexo feminino até 49 anos e do sexo masculino até 39 anos, em casos em que não se sabe a situação vacinal e estabeleceu a vacina influenza (gripe) em dose anual.
Apesar do calendário, o Ministério da Saúde não estabelece metas de cobertura vacinal anual em adultos como faz com as vacinas infantis e também não faz balanços anuais. Um dos maiores problemas é a falta de um denominador específico, como o número de nascimentos anuais no caso das vacinas infantis, que ajude a compilar melhor os dados.

Resultados ruins
Segundo dados do ministério, das vacinas do calendário adulto a única que passa dos 50% de cobertura acumulada entre 1994 e 2018 é a da febre amarela com uma cobertura de 78,8%.
Em boletim epidemiológico com dados até 2013, o Ministério da Saúde fez um balanço do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e relatou as dificuldades da vacinação em adultos: “Um dos grandes desafios do PNI: alcançar altas e homogêneas coberturas vacinais em grupos que ainda não lograram bons resultados. Teríamos, como exemplos, a vacinação de adolescentes e adultos contra hepatite B, gestantes com coberturas adequadas para a vacina dupla adulto e população em áreas de risco para a febre amarela, dentre outros.”
O mesmo boletim relata que de 1994 a 2013 a taxa de cobertura vacinal acumulada da hepatite B em adultos ficou em 46%. Desde então, apesar da vacina ter sido introduzida também na rotina para adultos de 30 a 39 anos em 2013, a cobertura vacinal caiu para 39,4%.
A tríplice viral e a hepatite B deveriam estar com 95% de cobertura. A dupla (dT e dTpa) e a febre amarela deveriam atingir 100%. Mesmo com o surto de febre amarela em 2018, a cobertura vacinal ainda não chegou a 80%.
Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, explica que cada vacina tem o seu perfil de cobertura ideal porque as doenças são diferentes: “Para algumas, como o sarampo, a gente precisa de coberturas acima de 95% para evitar pontos suscetíveis a circulação do vírus. Já para a febre amarela, você pode ter 99% de indivíduos vacinados e aquele 1% adoece do mesmo jeito”.
E muitas vezes, segundo ele, os não-vacinados se beneficiam da proteção indireta de quem está vacinado, já que com uma cobertura vacinal alta alguns vírus circulam menos. Apesar disso, os índices baixos não deixam de ser preocupantes.
O sarampo, considerado erradicado em 2016, voltou a registrar surtos no país, conforme o ministério da Saúde.

Por que adultos não se vacinam?
Conforme o Secretário da Saúde Municipal, Diogo Siqueira, o público adulto somente procura as vacinas em casos mais extremos, como quando há risco de epidemias e/ou reintrodução de doenças, ou sob exigência de determinada vacina em uma determinada circunstância, como no caso dos países que exigem, para acesso a seu território, que o viajante comprove estar vacinado contra a Febre Amarela, por exemplo, através da apresentação do Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia (CIVP). “Como diz o ditado: “prevenir é o melhor remédio”. E a vacinação é um dos métodos mais eficientes de prevenção de doenças, seja para adultos, crianças, adolescentes, idosos, etc. Enquanto adultos, não podemos de forma alguma esquecer que temos responsabilidades para com nossos filhos, pais, amigos, cônjuges, etc., logo, estar devidamente imunizado não somente traz benefícios a si, como a todos ao seu redor,” ressalta.

Taxa de abandono
Outro problema grande é a taxa de abandono. Ou seja, quando uma vacina necessita de mais de uma dose para ter sua eficácia completa, mas os pacientes só tomam a primeira e não voltam para completar a prevenção. Há também os casos em que a vacina precisa ser tomada novamente após alguns anos, como a do tétano.
A primeira dose da vacina contra o tétano e a difteria é tomada aos 2 meses e um reforço é feito aos 4 anos. Depois disso, um reforço deve ser feito a cada 10 anos, mas a partir da adolescência é comum que o cartão de vacinação seja deixado de lado.
“Vemos muito o adulto começar o esquema e parar. Ou em momentos de surto em que as pessoas tomam a vacina. Porém, se não conseguem ser vacinados naquele momento, passado o surto também não voltam”, diz Siqueira.

Controle
A carteira de vacinação em papel ainda é uma realidade no Brasil. Até 2018, 65% das salas de vacinação do país estão equipadas com um novo sistema de registro informatizado e o restante – 35% — estão em processo de implementação.
Com o sistema, a ideia é que todos os brasileiros consigam acessar seus dados de vacinação e que eles não estejam centralizados somente na caderneta de papel – com a possibilidade de recuperação dos dados.
“Uma forma de garantir esse acompanhamento é ter tudo informatizado. Até para o gestor saber que ações locais pode fazer para campanhas de vacinação. No ministério fazemos a recomendação, mas quem executa é o município. Naquela área, ele tem que conhecer quem foi vacinado ou não”, explica Domingues.
Conforme o Secretário Siqueira, a melhor época é esperar quando ocorrem as campanhas de atualização da Caderneta de Vacinação, devido à movimentação midiática, a nível nacional, do tema, como ocorreu em agosto de 2018, por exemplo. “Embora a campanha fosse voltada para a vacinação contra a Poliomielite e o Sarampo, a orientação dada pelos técnicos durante a campanha era justamente a de que todos buscassem as unidades de saúde para “atualizar suas carteirinhas”. Nesse ano, durante a Campanha de Vacinação contra a Gripe, está sendo feito, inicialmente no interior do município, um trabalho junto às unidades de saúde e população da área rural referente à vacinação contra a Febre Amarela. Inclusive, os grupos prioritários da Campanha da Gripe, ao se dirigirem às Unidades de Saúde do interior, receberão, se necessário, após avaliação dos técnicos, além da dose contra a Gripe, também a contra a Febre Amarela”, explica.

 

Veja como deve ser seguido o calendário de vacinas de todos os grupos

Crianças
Para vacinar, basta levar a criança a um posto ou Unidade Básica de Saúde (UBS) com o cartão da criança. O ideal é que toda dose seja administrada na idade recomendada. Entretanto, se perdeu o prazo para alguma dose é importante voltar à unidade de saúde para atualizar as vacinas.
A maioria das vacinas disponíveis no Calendário Nacional de Vacinação é destinada a crianças. São 12 vacinas, aplicadas antes dos 10 anos de idade em 25 doses.

Ao nascer
BCG (Bacilo Calmette-Guerin) (previne as formas graves de tuberculose, principalmente miliar e meníngea) – dose única
Hepatite B – dose única

2 meses
Pentavalente (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e meningite e infecções por HiB) – 1ª dose
Vacina Inativada Poliomielite (VIP)(previne poliomielite ou paralisia infantil) – 1ª dose
Pneumocócica 10 Valente(previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1ª dose
Rotavírus (previne diarreia por rotavírus) – 1ª dose

3 meses
Meningocócica C (previne a doença meningocócica C) – 1ª dose

4 meses
Pentavalente (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e meningite e infecções por Haemóphilus influenzae tipo B) – 2ª dose
Vacina Inativada Poliomielite (VIP)- (previne a poliomielite ou paralisia infantil) – 2ª dose
Pneumocócica 10 Valente(previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 2ª dose
Rotavírus (previne diarreia por rotavírus) – 2ª dose

5 meses
Meningocócica C (previne doença meningocócica C) – 2ª dose

6 meses
Pentavalente (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e meningite e infecções por HiB) – 3ª dose
Vacina Inativada Poliomielite (VIP) – (previne poliomielite ou paralisia infantil) – 3ª dose

9 meses
Febre Amarela – dose única (previne a febre amarela)

12 meses
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – 1ª dose
Pneumocócica 10 Valente (previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – Reforço
Meningocócica C (previne doença meningocócica C) – Reforço

15 meses
DTP (Difteria, tétano e coqueluche) – 1º reforço
Vacina Oral Poliomielite (VOP)- (previne poliomielite ou paralisia infantil) – 1º reforço
Hepatite A – dose única
Tetra viral ou tríplice viral + varicela – (previne sarampo, rubéola, caxumba e varicela/catapora) – Uma dose

4 anos
DTP (Difteria, tétano e coqueluche) – 2º reforço
Vacina Oral Poliomielite (VOP) – (previne poliomielite ou paralisia infantil) – 2º reforço
Varicela atenuada (previne varicela/catapora)

Adolescente
A caderneta de vacinação deve ser frequentemente atualizada. Algumas vacinas só são administradas na adolescência. Outras precisam de reforço nessa faixa-etária. Além disso, doses atrasadas também podem ser colocadas em dia. Veja as vacinas recomendadas a adolescentes:

9 a 14 anos
HPV(previne o papiloma, vírus humano que causa cânceres e verrugas genitais) – 2 doses com seis meses de intervalo

11 e 14 anos (meninos)
HPV(previne o papiloma, vírus humano que causa cânceres e verrugas genitais) – 2 doses com seis meses de intervalo

11 e 14 anos
Meningocócica C (doença invasiva causada por Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – Dose única ou reforço

10 anos 19 anos
Hepatite B – 3 doses, de acordo com a situação vacinal
Febre Amarela – 1 dose se nunca tiver sido vacinado
Dupla Adulto (previne difteria e tétano) – Reforço a cada 10 anos
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – 2 doses, a depender da situação vacinal anterior
Pneumocócica 23 Valente(previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose a depender dasituação vacinal – A vacina Pneumocócica 23V está indicada para grupos-alvo específicos
Dupla Adulto(previne difteria e tétano) – Reforço a cada 10 anos

Adulto 20 a 59 anos
É muito importante que os adultos mantenham suas vacinas em dia. Além de se proteger, a vacina também evita a transmissão para outras pessoas que não podem ser vacinadas. Imunizados, familiares podem oferecer proteção indireta a bebês que ainda não estão na idade indicada para receber algumas vacinas, além de outras pessoas que não estão protegidas.
Veja lista de vacinas disponibilizadas a adultos de 20 a 59 anos:

Hepatite B – 3 doses, de acordo com a situação vacinal
Febre Amarela – dose única, verificar situação vacinal
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – se nunca vacinado: 2 doses (20 a 29 anos) e 1 dose (30 a 49 anos);
Dupla adulto (DT) (previne difteria e tétano) – Reforço a cada 10 anos
Pneumocócica 23 Valente(previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose é indicada para grupos-alvo específicos a depender da situação vacinal

Idoso 60 anos ou mais
São três as vacinas disponíveis para pessoas acima de 60 anos, além da campanha de vacinação contra gripe:

Hepatite B – 3 doses, de acordo com a situação vacinal
Febre Amarela – dose única, verificar situação vacinal
Dupla Adulto(previne difteria e tétano) – Reforço a cada 10 anos
Pneumocócica 23 Valente(previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – reforço a depender da situação vacinal – A vacina está indicada para grupos-alvo específicos, como pessoas com 60 anos e mais não vacinados que vivem acamados e/ou em instituições fechadas.

Gestantes
A vacina para mulheres grávidas é essencial para prevenir doenças para si e para o bebê. Elas não podem tomar as mesmas vacinas que qualquer adulto e, portanto, têm um esquema vacinal diferenciado. Veja as vacinas indicadas para gestantes.

Hepatite B – 3 doses, de acordo com a situação vacinal
Dupla Adulto (DT) (previne difteria e tétano) – 3 doses, de acordo com a situação vacinal
dTpa(Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto) – previne difteria, tétano e coqueluche – Uma dose a cada gestação a partir da 20ª semana de gestação ou no puerpério (até 45 dias após o parto).