Abusar das telas afeta a inteligência das crianças

2015-04-10_190211
Uma pesquisa realizada pela revista Crescer com pais e mães de crianças entre 0 e 8 anos alertou para o aumento do tempo de tela desta faixa etária no Brasil. Segundo a análise, 47% das crianças gastam mais de três horas em frente algum tipo de tela - de televisores a smartphones

Estudo define como limite máximo duas horas diárias de lazer com tablets e celulares

 

O efeito do abuso de tela entre os mais jovens ainda é um campo de pesquisa muito novo e controverso. Mas os primeiros estudos que estão sendo feitos para analisar as consequências da exposição devem ser encarados como um alerta. Há sinais indicando que o desenvolvimento cognitivo de crianças está comprometido. O mais recente trabalho, realizado por pesquisadores canadenses, encontrou uma correlação muito direta entre o uso desses dispositivos e a inteligência das crianças, em um momento fundamental para seu desenvolvimento.
Este estudo compara o desempenho intelectual de 4.500 crianças dos Estados Unidos entre 8 e 11 anos com base nas recomendações dadas por um plano canadense chamado Movimento 24 horas: entre 9 e 11 horas de sono, pelo menos uma hora de exercício todos os dias e menos de duas horas de entretenimento com telas. As conclusões, publicadas na The Lancet Child & Adolescent Health, são muito claras: quanto mais recomendações individuais meninos e meninas cumprirem, melhores serão suas habilidades. Mas há um tema que se destaca dos demais: o tempo gasto em dispositivos é aquele que tem uma relação mais forte com a maturação intelectual. “Descobrimos que mais de duas horas de tempo recreativo com telas estão associadas a um pior desenvolvimento cognitivo em crianças”, concluem os pesquisadores da Universidade de Ottawa. Além disso, em razão desse achado, eles recomendam que pediatras, pais, educadores e políticos promovam uma “limitação do tempo de tela recreativa e priorizem rotinas de sono saudáveis durante a infância e a adolescência”.
As crianças estudadas (escolhidas conforme a renda, educação dos pais e outras variáveis) completaram um teste que avaliava as habilidades de linguagem, memória episódica, função executiva, atenção, memória de trabalho e velocidade de processamento. E quanto mais recomendações cumprissem, melhor era sua pontuação nesse teste. Mas, acima de tudo, limitava-se seu sedentarismo tecnológico abaixo das duas horas marcadas na diretriz. “Para as famílias é muito importante porque, se quiserem otimizar a saúde cognitiva de seus filhos, precisam prestar atenção a esses comportamentos”, explica Jeremy Walsh, líder do estudo, em entrevista a Matéria. O pesquisador lembra que quando se fala em “tempo de telas” (screentime, em inglês) a referência é a todos os tipos de aparelho, como telefones, tablets, computadores, videogames e também televisão.
Uma pesquisa realizada pela revista Crescer com pais e mães de crianças entre 0 e 8 anos alertou para o aumento do tempo de tela desta faixa etária no Brasil. Segundo a análise, 47% das crianças gastam mais de três horas em frente algum tipo de tela – de televisores a smartphones.
Outro aspecto muito importante, especialmente quando combinado com o tempo de lazer tecnológico, é a falta de sono entre as crianças. Numerosos estudos já indicaram que o sono desempenha um papel importante no desenvolvimento e plasticidade do cérebro, e uma boa qualidade e quantidade de sono está positivamente associada à cognição e desempenho acadêmico em crianças e adolescentes. O que eles descobriram neste estudo, no qual apenas metade das crianças dorme como recomendado, é uma conexão entre a falta de sono e o uso de dispositivos. Segundo os pesquisadores, o sono “precisava estar combinado com o cumprimento da recomendação de tempo de tela para ter um efeito positivo”. Este achado levanta a possibilidade de que o uso diário de mais de duas horas de telas recreativas atenue os benefícios do sono para a inteligência geral das crianças.