Abertas as inscrições para o treinamento de técnicos e auditores no sistema da Produção Integrada de Uva para Processamento

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A produção de uva para processamento é um importante segmento gerador de emprego e renda no país, capaz de fornecer um produto – suco, vinho e espumante – com valor agregado

Técnicos agropecuários, tecnólogos em viticultura e enologia, enólogos e engenheiros agrônomos podem se inscrever até o dia 24 de maio

A Embrapa Uva e Vinho, em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), promove a primeira capacitação para técnicos interessados em atuarem como responsável técnico ou auditor do sistema da Produção Integrada de Uva para Processamento – Vinho e Suco (PIUP), em propriedades rurais e vinícolas. Dividido em módulo a capacitação acontecerá na sede da Empresa de Pesquisa, em Bento Gonçalves (RS), no período de 29 de maio a 08 de junho.
A Produção Integrada tem a sua base na adoção de boas práticas, tanto agrícolas quanto de fabricação, nas quais o manejo integrado de pragas e doenças, a rastreabilidade e o respeito ao meio ambiente e à saúde da população garantem a produção de alimentos mais seguros e de alta qualidade. Além disso, os vitivinicultores que cumprirem todas as normas poderão certificar seus produtos e usar o selo Brasil Certificado, obtendo, assim, maior reconhecimento e remuneração pelo seu trabalho, além de acessar novos mercados.
Segundo Samar Velho da Silveira, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e presidente da Comissão Técnica Nacional da Produção Integrada de Uva para processamento e membro da Comissão Técnica da Produção Integrada do Rio Grande do Sul, a adoção voluntária ao sistema da Produção Integrada (PI) pelos viticultores e vinícolas é uma forma segura de manter a produção através da sustentabilidade.
“A Produção Integrada busca produzir uvas de alta qualidade, dando prioridade a métodos seguros, com uso racional de produtos agroquímicos, com foco na sustentabilidade, aumento da rentabilidade, tornando o produtor mais competitivo em um cenário de economia globalizada e mercados exigentes em qualidade e segurança do alimento”, comenta.
Outro benefício do sistema, segundo Silveira, é trazer uma contribuição para a gestão da propriedade, pois todas as atividades deverão ser organizadas e registradas no Caderno de Campo. “Além do controle, com esses dados o produtor pode realizar análises econômicas mais pertinentes e confiáveis”, complementa.
Esse será o primeiro curso para técnicos se capacitarem e implementarem as Normas Técnicas Específicas (NTE) de uva para processamento, publicadas na instrução normativa nº42, de 9 de novembro de 2016. A capacitação será teórico-prática e já no momento da inscrição o participante deverá escolher se quer ser auditor ou técnico responsável, além de optar se quer fazer a parte campo (fazenda) e/ou vinícola (indústria). As vagas são limitadas.
O valor da inscrição dá direito à capacitação, aos nove Manuais Técnicos da PIUP, que abordam todas as etapas do processo de produção, incluindo os documentos de acompanhamento do sistema (clique aqui para acessar a versão digital). Informações adicionais e a inscrição, no valor de R$ 250,00 cada módulo, estão disponíveis no endereço https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/eventos/piup.

A importância do sistema de uva para processamento
A produção de uva para processamento é um importante segmento gerador de emprego e renda no país, capaz de fornecer um produto – suco, vinho e espumante – com valor agregado. Prova disso é que, segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin, 2014), exporta-se vinhos e espumantes para 40 países, destacando-se, em valores monetários, o Reino Unido, a Bélgica, o Paraguai, a Alemanha, os Países Baixos (Holanda), os Estados Unidos e o Japão. O mercado externo é um importante referencial de imagem, embora grande parte do produto brasileiro seja destinado ao mercado nacional.
Essa condição só foi alcançada devido ao desenvolvimento de tecnologias de ponta no Brasil. Todavia, devido ao rigor crescente do mercado externo em relação a produtos de qualidade, em conformidade com os requisitos da sustentabilidade ambiental e da segurança do alimento, mediante a utilização de tecnologias não-agressivas ao meio ambiente e à saúde humana, temos o grande desafio de desenvolver e adotar sistemas de produção que, ao mesmo tempo, atendam a essas exigências e permitam boas produtividades.
A adoção do sistema da Produção Integrada (PI) de parte dos viticultores e vinícolas, é uma forma segura de vencer esses desafios. A Produção Integrada de Uva é definida como a produção econômica de uvas de alta qualidade, dando prioridade a métodos seguros do ponto de vista ecológico, os quais minimizam os efeitos secundários nocivos do uso de agroquímicos, de modo a salvaguardar o ambiente e a saúde humana. Além disso, a PI surgiu para atender, também, à sustentabilidade social e à rentabilidade da produção, tornando o produtor mais competitivo em um cenário de economia globalizada e mercados exigentes em qualidade e segurança do alimento.
A adoção da PI, adicionalmente, permite outros benefícios aos produtores, por abranger princípios de sustentabilidade ambiental, permitindo o ajustamento de conduta junto a órgãos ambientais. Traz, também, uma grande contribuição para a gestão da propriedade, já que direciona o produtor a organizar e registrar suas informações, possibilitando análises econômicas mais pertinentes e confiáveis.
Para o consumidor, os produtos da PI garantem a redução dos riscos de contaminação, sejam de ordem química (resíduos de agrotóxicos, micotoxinas, nitratos e outros), física (solo, vidro, metais e outros) ou biológica (dejetos, bactérias, fungos e outros). Para atingir esses objetivos, devem-se seguir normas, desde o manejo do vinhedo até a embalagem do produto processado, passando pelo cuidado na colheita e no transporte.
Em sintonia com a preocupação setorial, diversas ações vêm sendo organizadas pela Embrapa para produzir com melhor qualidade e maior segurança para o produtor e para o consumidor. Desde 1997, a Embrapa Uva e Vinho tem atuado com o sistema PI, inicialmente com a cadeia produtiva da maçã, possibilitando uma certificação que é aceita internacionalmente por estar respaldada pela chancela oficial do governo brasileiro. O processo de certificação envolve a auditoria da empresa ou produtor rural que produz a uva, o vinho e/ou o suco, por uma empresa certificadora, a qual deve ser acreditada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) para esta finalidade.
Dessa forma, a Produção Integrada preconiza que todo o sistema de produção, desde a produção da uva no campo, até a elaboração do vinho ou do suco, passe por um processo de avaliação de conformidade com os requisitos descritos nas Normas da Produção Integrada de Uva para Processamento, permitindo receber o selo da Produção Integrada somente aqueles produtores ou vinícolas que atendem as Normas. A avaliação de conformidade é uma exigência de mercado, que assegura a qualidade e a inocuidade do produto, possibilitando o controle e a rastreabilidade hábil e permanente de todo o sistema e do processo produtivo.
O processo de certificação permite, portanto, o acesso a mercados externos, os quais são reconhecidamente exigentes em termos de segurança do alimento.
Após diversos outros processos de certificação para frutas, como a maçã, o pêssego, a uva de mesa, a manga e o mamão, a uva para processamento foi trabalhada em um projeto coordenado pela Embrapa e com a parceria de diversas instituições e empresas privadas. Este projeto abrange os polos de viticultura de clima temperado, tropical semiárido e subtropical do Brasil, representados, respectivamente, pelo Estado do Rio Grande do Sul, pelo Vale do São Francisco e pelo Estado do Paraná. No Rio Grande do Sul, o projeto iniciou-se na metade de 2010, com a instalação de quatro áreas de validação em vinhedos da Serra Gaúcha e da Campanha.
Os primeiros resultados foram obtidos na safra 2011, culminando no processamento da matéria-prima – elaboração de suco ou vinho, de acordo com a cultivar – e na realização de análises multiresíduos na uva, no suco e no vinho.
A análise multiresíduo visa detectar a eventual presença de resíduos químicos na uva e em seus produtos, sendo que a relação de moléculas químicas analisadas segue a legislação vigente. Nesse sentido, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) atualiza periodicamente os limites máximos de resíduos e de contaminantes tolerados para fins de monitoramentos de agrotóxicos, através da publicação, no Diário Oficial, de Instruções Normativas. Dessa forma, sabe-se quais os princípios ativos proibidos, os permitidos e em que níveis podem estar presentes nos alimentos.
Além do Rio Grande do Sul, foram instaladas parcelas de validação das Normas da Produção Integrada de Uva para Processamento no Vale do São Francisco e no Estado do Paraná. Em complementação a estas atividades, foram preparados manuais técnicos a serem utilizados nos cursos de capacitação para técnicos que atuarão junto a produtores de uvas e a vinícolas. Estes manuais contêm a informação técnica necessária para implantar o sistema de Produção Integrada, desde a instalação do vinhedo – passando pelo manejo do solo e da planta – e a colheita até o processamento da uva na vinícola.