A importância da identificação e análise da gema da videira

2015-04-10_190211

A análise de gema é uma ferramenta que o viticultor dispõe para orientar na tomada de decisão no momento da poda de produção

A análise de gema é um procedimento laboratorial que serve para determinar a quantidade de gemas necessárias nos ramos e nas plantas para obtenção da produtividade desejada, bem como, fornecer informações sobre a qualidade das gemas da área, como à presença de gemas escuras ou mortas. Essas informações juntas servem para orientar o viticultor a estimar o número de cacho que terá na área, e, consequentemente a qualidade dos cachos e produtividade estimada.

Morfologia da gema:
As gemas da videira são geralmente classificadas como mix de gemas, isso porque tanto folhas, flores e frutos são desenvolvidas no mesmo local. Uma gema é composta por: uma gema primária, que normalmente produz um ou mais fruto; uma gema secundária, que produz até um terço dos frutos; e uma gema terciário, que produz pouco ou nenhum fruto. Juntas, essas gemas são cercados por escalas (brácteas) que serve de proteção durante a fase de dormência. As gemas secundária e terciárias se desenvolvem (brotam) quando ocorre algum dano na gema primária (morte da gema por condições climáticas, inseto ou dano mecânico), que dão origem aos brotos que podem ser férteis.
Embora possa ocorrer o desenvolvimento das gemas secundárias ou terciárias, isso não garante ao produtor uma colheita com o mesmo potencial que se esses cachos fossem gerados pelas gemas primárias. Isso ocorre porque as duas gemas remanescentes (secundária e terciária) normalmente não são tão frutíferas como a gema primária.
As gemas podem ser classificadas pela sua natureza (frutífera ou vegetativa), bem como, pela sua localização no ramo, podendo ser axillaires (quando estão localizadas nas axilas das folhas), latentes (quando permanecem inativa indefinidamente e estão localizadas na madeira) e gemas basilares ou “cegas” (quando situam-se na inserção do ramo com a madeira velha).
A dormência da gema primária geralmente inibe o desenvolvimento das gemas secundárias e terciárias. Quando ocorre o desenvolvimento da gema primária, é possível visualizar através do microscópio um primórdio de cacho. A figura abaixo mostra a diferença de uma gema vegetativa e uma gema frutífera.
O conhecimento da posição das gemas férteis para cada variedade é de fundamental importância na definição do tipo de poda a ser empregada no vinhedo.
A fertilidade das gemas é influenciada pela posição da gema no ramo, e isso está diretamente relacionado à sua exposição a luz solar. Em algumas variedades as gemas basais tendem a apresentar baixa fertilidade quando comparada as gemas medianas. Um estudo realizado pela Universidade de Davis com a variedade Thompson Seedless demonstrou que a melhor fertilidade das gemas estão nas posições de 7º a 13°. A fertilidade de gema na posição basal (três gemas) é menos da metade que a fertilidade encontrada nas posição 7° a 13° gemas.

Como é feito este tipo de análise?
Para fazer uma análise de gema, você vai precisar de lâminas (bisturi), um estereomicroscópio ou microscópio, uma tesoura de poda, e um notebook ou computador para documentação.
O primeiro passo para análise de gema começa como a coleta do material. A época ideal para colher a amostra é durante o período de repouso. Na região do Vale do São Francisco os produtores realizam essa análise 15 dias antes da poda de produção.

Coleta da amostra:
A precisão desta análise depende principalmente do produtor na retirada da amostra de ramos bem uniforme e representativo com a real situação da área. A amostra deve ser retirada de um lote que apresenta uniformidade das plantas (mesma data de poda de, cultivar copa, porta-enxerto, idade das plantas e tipo de solo).
Segue abaixo a metodologia de retirada de amostra desenvolvida pela Embrapa.
Para coleta da amostra utiliza um caminhamento na área em forma de Z. Esses ramos serão retirados de 15 plantas escolhidas aleatoriamente na área. Evitar retirar ramos de plantas que estão nas bordaduras da área.
Cada amostra deve ser composta por 15 ramos com 15 gemas, sendo estes ramos maduros e com boa sanidade. Esses ramos serão retirados de três partes da copa da planta: basal, mediana e apical;
Deve-se coletar os ramos garantindo a integridade da 1ª à 15ª gema, eliminando as folhas cuidadosamente; amarrar todos os ramos no mesmo sentido em feixe; acondicionar os ramos em sacos plástico para evitar a desidratação das gemas e identifica-los em seguida por: produtor, parcela, variedade, porta enxerto e telefone;
Se o material tiver netos estes deverão ser separados dos ramos com cuidado para não danificar a primeira gema, selecionando 30 netos com 3 gemas, exceto a Thompson que deverá ter 5 gemas e em seguida acondicioná-los em saco plástico;

Fazendo a análise:
Esta análise é feita com auxílio de um microscópico ou lupa binocular de aumento de 30 vezes e um bisturi, no qual são feitos cortes no sentido transversal na gema/olho até que seja possível identificar ou não a presença de primórdio de inflorescência (cacho), no qual apresenta aspecto de um cacho de uvas em miniatura.
Todas as gemas do ramo devem serem analisadas cuidadosamente utilizando lâmina de bisturi. Para fazer esta análise você deve fazer cortes finos na superfície da gema, de forma cautelosa para não danificar o primórdio de inflorescência (cacho). Conforme aprofundando os cortes será possível visualizar a presença ou ausência de primórdio de inflorescência (cacho). Cada cacho encontrado deve ser marcado na planilha na posição exata em que o mesmo foi encontrado.