Como está a saúde mental das mulheres?

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Viviane Tremarin – Psicóloga e Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental

Quando me dou conta que estamos há um ano sendo atravessados por uma pandemia e sem previsão de melhora eu penso no último ano de “vida normal” que tivemos. Em nenhum momento minhas resoluções de ano novo em 2019 incluíram ver o mundo parar e sofrer. Nós estamos acostumados a lidar com imprevistos no dia-a-dia, às vezes o ônibus atrasa, o filho chora mais para ir à escola e o chefe está de mau humor. Mas e quando os imprevistos envolvem a vida de quem amamos?

Diariamente eu recebo no consultório pessoas esgotadas que me dizem que não conseguem mais ser produtivas como antes, animadas como antes, ou divertirem-se como antes. Diariamente eu preciso lembrar as pessoas que estamos vivendo uma pandemia há um ano, e acredite em mim, nesse cenário a última coisa que a sua saúde precisa é de mais cobrança pessoal.

Minha queixa com a minha terapeuta nos últimos meses também sido o cansaço mental, parece que todos os dias estamos acordando mais esgotados do que o dia anterior, como se fosse normal acordarmos esgotados todos os dias.

O impacto na saúde mental
A pandemia impactou a saúde mental e as circunstâncias comportamentais dos brasileiros, e isso foi validado por um estudo feito pela Fiocruz entre abril e maio de 2020, que buscava descrever as mudanças na rotina, no trabalho, na saúde emocional e nos aspectos socioeconômicos.

Essa pesquisa apontou que as mulheres estão sendo mais prejudicadas emocionalmente, 50% das entrevistadas relataram que se sentem deprimidas e tristes com mais frequência, um número alto comparado ao dos homens com um percentual de 30%.

Já os sintomas de estresse e ansiedade foram sentidos por 60% das mulheres e 43% dos homens. E isso nada tem a ver com o “sexo frágil” delegado às mulheres. Estamos sofrendo mais com a pandemia porque nosso formato social exige mais de nós. Já enfrentamos dupla jornada de trabalho, visto que além do trabalho convencional ainda lidamos com o trabalho doméstico que poucas vezes é dividido com as outras pessoas que residem na casa. Segundo 26,4% das mulheres entrevistadas, o trabalho doméstico aumentou muito, em contrapartida, 13,3% dos homens relataram aumento de atividades domésticas.

Com o distanciamento social nossas crianças tem passado mais tempo em casa e com as escolas fechadas também nos tornamos educadoras. Mulheres que vivem relacionamentos abusivos e violentos foram obrigadas a passar mais tempo com o agressor e com isso o índice de violência doméstica também aumentou em 18% de acordo com os dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos.

Isso sem contar com o próprio estresse que a pandemia causa com a preocupação de contaminação pessoal e de pessoas queridas, com a necessidade de mudança nos hábitos de higiene, pelo isolamento que nos impede de ter a presença física da nossa rede de apoio num momento tão delicado e pela presença diária do luto.

Esses prejuízos não ficam isolados em quem os sentem. Uma mulher que é mãe e está esgotada pode ser uma mãe irritada, menos disposta a ter um tempo de qualidade com os filhos e parceiro(a). Todo esse desgaste que estamos vivenciando também fez aumentar o consumo de drogas lícitas e ilícitas. Para o cigarro, houve um aumento de consumo de 29% para as mulheres e 17% entre os homens, e 18% dos entrevistados disse ter aumentado o consumo de álcool. Um comportamento que está muito relacionado às perdas socioeconômicas e preocupação.

Cuidar de si para poder cuidar do outro
Esses estudos nos dão consciência de que algumas pessoas sofrem mais do que as outras diante das mesmas situações. A falta de tempo e o cuidado que redobrou com os familiares fez com que muitas mulheres deixassem o autocuidado para depois, e isso acaba por reforçar os sentimentos de medo, impotência e tristeza.

O isolamento social, apesar de ser o melhor método de prevenção de disseminação do vírus, gerou prejuízos à saúde mental, e os sintomas que mais apareceram com as novas regras comportamentais foram cansaço, solidão, insônia e variações no humor.

É de muita importância que estejamos atentos a como estamos nos sentindo e que busquemos ajuda profissional sempre que esses sintomas se prolongarem, porque o contato diário com situações estressantes pode levar a transtornos de ansiedade que podem evoluir para transtornos depressivos.